Rompimento na base, impactos em 2022 e a possível queda do governo: especialista traça panorama dos resultados da saída de um dos pilares do bolsonarismo

Professor e analista político Marcos Marinho | Foto: Jornal Opção

“Bolsonaro não tem ninguém que apague a falta que Moro vai fazer no Governo”: é essa uma das leituras feitas pelo cientista político Marcos Marinho sobre o dia de caos vivido em Brasília e que se mostra de impactos incertos na política de todo o país. Ao Jornal Opção, o especialista respondeu sobre as principais questões expostas pelo pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, na manhã desta sexta-feira, 24.

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Para o cientista, a ideia de que Moro era um dos pilares do governo de fato é real. Conforme relembra, o ministro já pontuava nas pesquisas de intenção de voto antes mesmo do pleito de 2018 e, após a vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), emprestou ao Governo Federal credibilidade entre diversos setores da sociedade.

Em três tópicos, Marcos Marinho fala sobre a crise na base de apoiadores do presidente, as reações políticas e jurídicas e os impactos nas eleições. “A fala final do Moro [na live] deixa muito claro que ele está com os pés na eleição de 2022”, destaca o cientista.

Como fica a base de apoiadores do governo diante dessa crise?

Nós sabemos que existe um grupo de bolsonaristas bastante arraigado na figura do presidente, mas moro emprestava um plus nessa paixão que agora fica completamente comprometido. Moro sai com praticamente uma delação premiada, fazendo acusações gravíssimas contra o presidente e isso impacta até mesmo no mais ferrenho apoiador. Agora a disputa de narrativas será complexa, porque Bolsonaro, a depender de como for contra-atacar, vai se colocar em contradição em vários momentos e isso pode causa uma ruptura ainda maior na base.

Mesmo na sequencia de crises provocadas pelo próprio presidente e pelos filhos, Moro era uma das figuras que mantinha a estabilidade do governo, a imagem da governabilidade de Bolsonaro e a retórica de luta contra a corrupção. Essa imagem dele saindo ao vivo e deixando uma série de dúvidas e questionamentos sobre a conduta do presidente vai causar muito barulho para a base bolsonarista repensar suas posições. Vai cristalizar um grupo que já vinha ficando cada vez mais pequeno e mais agressivo, mas vai colocar mais gente do outro lado da trincheira.

Existe um nome capaz de substituir Sérgio Moro?

Bolsonaro não tem ninguém que apague a falta que Moro vai fazer no Governo. Vale lembrar que recentemente ele perdeu Mandetta, que tinha uma aceitação popular muito grande e saiu em um cenário bastante confuso e complicado, então ele já estava em uma crise de credibilidade e isso se agrava.

Moro apontou que Bolsonaro tentou agir politicamente na PF de forma pensada. Quais os caminhos políticos que serão tomados para tentar barrar essas interferências?

Sobre as acusações serão vários os desdobramentos. Com certeza já existem forças políticas se movimentando para abrir uma CPI sobre essas interferências no próprio Ministério da Justiça e na PF, a oposição vai explorar isso. A mídia, que vinha sendo atacada, vai querer jogar muita luz nesse fato.

Há muitas pontas soltas, o Queiroz que está sempre sumido, a rachadinha do Flávio, a morte da Marielle Franco que está relacionada a milicianos ligados com o presidente e a família, a morte do capitão Adriano de Nóbrega, que até hoje está obscurecida, então há muitas pontas soltas nas narrativas bolsonarista. Muita coisa vai acontecer em nível político e em nível jurídico.

Como ficam as eleições de 2020? Moro entra de vez na corrida eleitoral?

A fala final do Moro [na live] deixa muito claro que ele está com os pés na eleição de 2022. Na eleição de 2020 o impacto não vai ser grande, porque é uma eleição local, mas com certeza movimenta o tabuleiro das bases bolsonaristas, já pensando em 2022. Porque com o possível enfraquecimento de Bolsonaro e agora Moro declaradamente um player do cenário de 2022, pode haver muita migração para novas alas políticas, que possam futuramente servir de base a campanha de Sérgio moro.

O que moro irá fazer agora, se ele vai se aproximar de algum grupo, se ele vai se filiar pode impactar sim na eleição de 2020. Então depende das escolhas dele. Mas fundamentalmente o que está impactado agora é o cenário de 2022, ele sai como um forte player, porque a imagem que ele consolida com essa saída foi muito sagaz. Vamos ver como Bolsonaro e seu grupo vai reagir para tentar descredibilizar a fala de Sérgio Moro. Há o risco de Moro ter provas cabais do que ele insinuou contra o presidente. A depender da virulência dos ataques. o revide pode ser final para esse governo