COMPARTILHAR

artigo_scartesini.qxd
Doleiro Youssef: “Presidente Lula ficou louco, mas teve que empossar Paulo Roberto na diretoria”

Em depoimento no Congresso como testemunha dos desfalques da Petrobrás, Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, admitiu que o esquema de operação pagou a multa de R$ 28,6 mil imposta pelo Supremo Tribunal Federal ao mensaleiro Enivaldo Quadrado, cambista condenado por lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão.

A multa a Quadrado não passa de um pó diante do rombo na Petrobrás que se calcula em torno de R$ 10 bilhões, com a participação de Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da petroleira Paulo Roberto Costa. Mas pode explicar onde o PT arrumou dinheiro para pagar um total milionário de multas a mensaleiros, em 2012, como os R$ 667,5 mil devidos por José Genoino.

Os depoimentos de Youssef e Costa abastecem generosamente a campanha do PSDB neste caminho rumo ao final da eleição. O PT se articulou, nos últimos dias, para atribuir a FHC a responsabilidade pela bilionária carreira de Costa na Petrobras. Diziam que foi o ex-presidente quem buscou Costa em escalão modesto da empresa e o trouxe ao palco.

Com mais confiabilidade, a imagem e o som do depoimento de Youssef gravado pela Justiça Federal atribuiu a promoção de Costa ao ex-deputado José Janene, antigo líder do PP e mais um paranaense na turma. O doleiro disse que em 2004 os aliados de Lula trancaram a pauta de votações durante três meses para exigir do presidente Lula a promoção de Costa a diretor.

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco, teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto na diretoria de Abaste­ci­mento”, entregou o doleiro, com ele­gância e respeito. Mencionou o nome completo do ex-presidente, que se endoideceu com a greve par­lamentar e cedeu. Culpa de Ja­nene, que comandou a operação e morreu há quatro anos e um mês.
O fato é que Lula se aproximou de Costa, o bom amigo Paulinho, que teria turbinado a eleição da presidente Dilma há quatro anos, com injeções no caixa do PT, PMDB e PP. O esquema cobraria o pedágio de 1% do contrato com cada fornecedor da Petrobrás, mais o que vinha de cobrança depois.

Sobre o valor líquido de cada contrato seria cobrada a propina de 3%. Deles, 2% seriam do PT e 1% do PP. Receberia pelos petistas o então polêmico tesoureiro João Vaccari Neto “Todo mundo sabia o que estava acontecendo”, referiu-se Youssef a petistas e políticos aliados ao comentar a transferência de dinheiro para governistas.

Treze empreiteiras gigantes são mencionadas como participantes do esquema. Todos esses dados transmitem credibilidade aos depoimentos, reforçados pelas gravações com áudio e imagem. Tem mais, os acusados trocam a delação pela redução da pena, mas a transação só vale se o acusado provar o que afirma.

Mesmo assim, Lula desdenhou ao se reunir com o PT em São Paulo, na noite de quarta-feira. “Estou de saco cheio de denúncias em véspera de eleição”, desprezou. “È todo ano a mesma coisa.” A culpa é da imprensa. “Ninguém precisa provar nada, é só insinuar”, sentenciou. A mentira ou denúncia só vale se vier dele, especialmente em eleição.