Senador sem partido do Mato Grosso do Sul acaba de perder seu mandato em votação no plenário do Senado

Senador Delcídio do Amaral teve seu mandato cassado pelo plenário do Senado | Foto: Agência Senado
Senador Delcídio do Amaral teve seu mandato cassado pelo plenário do Senado | Foto: Agência Senado

Por 74 votos a favor e uma abstenção, o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), que saiu do PT em março, perdeu seu mandato por decisão do plenário do Senado na noite desta terça-feira (10/5). O agora ex-senador Delcídio do Amaral não compareceu a sessão do plenário do Senado que decidiu pela cassação do seu mandato por quebra de decoro parlamentar por obstrução à Justiça.

Para que a cassação do mandato de senador de Delcídio do Amaral acontecesse, eram necessários no mínimo 41 votos dos 81 senadores, ou seja, maioria absoluta do plenário. Como não foi à sessão que analisou seu caso, Delcídio nem esteve em plenário para votar contra a perda de seu cargo eletivo no Senado.

O senador João Alberto Souza (PMDB-MA) foi o único senador presente na sessão plenária que se absteve de votar. Os outros 74 parlamentares que estavam na Casa no momento da votação da cassação do mandato de Delcídio votaram a favor da perda do cargo de senador do parlamentar do Mato Grosso do Sul.

Com a cassação, deve assumir o primeiro suplente de Delcídio do Amaral, o empresário Pedro Chaves dos Santos Filho, do PSC do Mato Grosso do Sul. Caso Pedro Chaves não assuma, quem fica no cargo é o segundo suplente do agora cassado Delcídio, a professora Zonir Freitas Tetila (PT-MS).

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A sessão foi aberta pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), após as falas de integrantes do Conselho de Ética e da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Renan chamou por pelo menos duas vezes chamou Delcídio para se defender, mas sem êxito. Delcídio não compareceu, nem enviou defesa.

Diante do fato, Renan suspendeu a sessão por cinco minutos para designar um defensor dativo. “Considerando que até o momento não compareceu a este plenário, eu vou suspender a sessão pelo prazo de cinco minutos para que seja designado um defensor dativo”, disse.

O servidor do Senado, Danilo Aguiar, foi definido como defensor. O servidor pediu a suspensão do processo com o argumento de que a acusação de obstrução da Justiça carece de inépcia da representação.”Ela [a acusão] implica em fazer representação jurídica, mas não indica fato grave que pudesse ensejar a perda”, disse Aguiar.

Antes, os senadores se revezaram na tribuna para pedir a perda de mandato. Integrante do partido que representou contra Delcídio no Conselho de Ética, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que o momento é de constrangimento para o Senado.

“Este não é o primeiro caso que membros desta Casa que são presos, mas o caso do senador Delcídio é um dos poucos casos de prisão de um parlamentar por tentativa de obstrução da Justiça e não há dúvida de que isso constrangeu o Senado”, disse Randolfe.

Delcídio teve o pedido de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar aprovado no colegiado após um longo processo iniciado logo depois de o senador ter sido preso, em novembro do ano passado, por obstrução da Justiça.

O ex-senador foi flagrado em conversa com o filho do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, oferecendo propina e um plano de fuga para que Cerveró não firmasse acordo de delação premiada com o Ministério Público no âmbito da Operação Lava Jato.

“Quando o senador Delcídio reniu com Bernardo Cerveró não foi na condição de senador; quando ele se reuniu foi na condição de senador para oferecer possíveis benesses. É por essas razões que a Rede pede a perda do mandato do senador Delcídio”, afirmou Randolfe.

Relator

O relator do processo contra Delcídio no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, senador Telmário Mota (PDT-RR), ao se dirigir ao plenário, disse que o mandato de Delcidio deveria ser cassado pelo senador não possuir condições morais e éticas de permanecer na Casa.

“Tendo em vista confissão do próprio senador, o Conselho de Ética entendeu não restar dúvida que ele participou de uma reunião para implementar medidas que claramente iriam obstruir a Justiça, especialmente as relativas à Operação Lava Jato, o que configura a quebra de decoro parlamentar punível com a perda de mandato.”

Telmário declarou que a atitude configurou um comportamento indevido para um membro do Senado e que Delcídio abusou de suas prerrogativas constitucionais como senador. “Trata-se da última instância de preservar a própria imagem da democracia representativa.”

Durante o seu discurso, Telmário negou os argumentos da defesa de Delcídio de que houve cerceamento do direito defesa e narrou o que chamou de “via crucis” para votar o parecer sobre a cassação de Delcídio no Conselho de Ética e na CCJ.

Adiamento

A defesa de Delcídio pediu o adiamento da votação com o argumento de que a sua delação premiada no Supremo Tribunal Federal poderia trazer fatos novos contra a cassação que poderiam mudar o entendimento dos senadores sobre o caso.

Um requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) pedindo a suspensão do processo até que o Senado tivesse acesso aos novos fatos incluídos no processo do senador chegou a ser aprovado no colegiado.

Diante da reação do presidente da Casa, Renan Calheiros, contrário à suspensão, o colegiado, em reunião extraordinária, voltou atrás e retomou o processo de cassação. “Ontem mesmo o plenário da CCJ se reuniu novamente e entendeu que o requerimento do senador Aloysio Nunes deveria ser revogado por ter chegado a informação de que o aditamento [da delação premiada] corre em segredo de Justiça”, explicou.

Impeachment

Antes de anunciar o resultado, o presidente do Senado apresentou aos senadores os procedimentos da sessão para votar o parecer da comissão especial constituída para avaliar o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) por suposto crime de responsabilidade, marcada para quarta-feira (11).

Segundo Renan, a sessão marcada para iniciar às 9 horas começa com as falas dos senadores inscritos por ordem de inscrição. “A palavra será distribuída por 15 minutos por cada orador. Temos que assegurar o tempo regimental de cada senador”, disse o presidente da Casa.

Os trabalhos serão suspensos em dois momentos, ao meio-dia e depois às 19 horas de quarta-feira para que os senadores possam se alimentar ou fazer outras tarefas. “Guardamos os dois intervalos para preservar esse bloco [de senadores] que já passa dos 60 anos”, brincou Renan.

Até o início da noite desta terça-feira haviam mais de 50 oradores inscritos. Antes de encerrar a discussão da sessão de quarta, o plenário terá as falas do relator do processo na Comissão Especial do Impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.

Não haverá orientação de bancada e nem a participação dos autores do pedido. “A votação será feita pelo processo eletrônico de votação”, disse Renan. (Com Agência Brasil)