Segundo órgão, gestão municipal deveria garantir uma nova moradia para as famílias que ocupavam irregularmente área no Parque Atheneu antes da desocupação

A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPEGO) apresentou na sessão da Câmara Municipal desta quinta-feira (6/4) um dossiê em que denuncia violação de direitos humanos pela prefeitura durante a desocupação no Parque Atheneu, ocorrida em janeiro deste ano. Com o documento, o órgão ajuizou uma ação civil pública contra a gestão municipal em defesa das famílias.

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O dossiê apresentado explica a situação das cerca de 80 famílias que continuam na área. Segundo os defensores públicos da Infância e Juventude Fernanda Rodrigues da Silva Fernandes e Tiago Gregório Fernandes, as pessoas dormem em barracas improvisadas e enfrentam sol e chuva, sem ter para onde ir.

“Ninguém permanece quatro meses morando na rua, debaixo de sol e chuva se tiver outro lugar para onde ir. Quando chove em Goiânia, enquanto estamos em casa vendo a chuva cair pela janela, aquelas famílias estão desabrigadas, debaixo da chuva”, ressaltou a defensora pública Fernanda Fernandes. Ela ainda relatou que a desocupação despejou as famílias que já estavam na área há um ano.

“O município teve um ano para resolver a situação e, de repente, na calada da noite, providenciou o desalojamento e a remoção forçada de forma administrativa daquelas famílias, ateando fogo em suas residências, sem permitir que fosse retirados seus bens particulares”, lembrou.

O documento apresentado pela DPEGO lembra que o Comitê de Direitos Econômicos, Culturais e Sociais da ONU estabelece a todos os países signatários do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Culturais e Sociais algumas diretrizes como a proibição de retirada de indivíduos contra sua vontade de suas casas sem que estejam disponíveis formas adequadas de proteção de seus direitos.

De acordo com a Defensoria Pública, o município posterga sua obrigação constitucional que foi, inclusive, reconhecida em decisão liminar. “Considerando a evidente repercussão social e interesse público subjacente à presente demanda, conclama-se a atuação solidária da sociedade civil, órgãos e instituições responsáveis pela tutela de direitos humanos”, diz o dossiê.

O vereador Elias Vaz (PSB) ressaltou que a prefeitura trata famílias carentes de modo diferente de grupos ricos. “O problema é que existe um tratamento diferenciado. Quando é pobre me parece que as regras são outras. Quando é ocupação de gente rica em área pública, vai para a Justiça, demora-se de dez a 15 anos e a prefeitura não vai ao local para retirá-las, só vai depois de mil decisões judiciais. É inadmissível o que está acontecendo”, pontuou.

Defensores apresentaram situação para vereadores | Foto: Defensoria Pública

Já Alysson Lima (PRB) ressaltou o desrespeito aos direitos humanos. “Eu nunca fui a favor de invasão, agora passar o trator em cima da casa dos outros, passar o trator e subjugar crianças, idosos com a prerrogativa de preservar certas áreas para depois entregá-las ao mercado imobiliário?”, questionou.

Em nota, a Prefeitura de Goiânia afirmou que o processo corre em juízo e que não se manifestará sobre o caso até sua conclusão.