De Bela Vista, goiano pedala pela América do Sul, conhece grande amor e lança livro narrando experiência

23 abril 2024 às 15h02

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De Bela Vista de Goiás, Brunno Magalhães saiu sozinho de bicicleta para viajar pela América do Sul e pedalou mais de cinco mil quilômetros por quatro países. Da experiência, surgiram dois marcos na vida do rapaz: um livro e um grande amor. Na obra “O vento e eu”, o goiano relata sentimentos humanos como solidão, liberdade e medo, descrevendo toda a viagem, mas focando no dia que foi mais intenso para ele.
Ao Jornal Opção, o autor conta que passou por Minas Gerais, interior de São Paulo e atravessou o Paraná por ilhas. “No meio do caminho, no litoral de Santa Catarina, conheci uma garota, Andry Oliveira, que também viajava de bicicleta sozinha. Na viagem, nos apaixonamos e estamos juntos até hoje. Ela seguiu comigo viajando pelos quatro países durante um ano e meio”. Inclusive, ela é ilustradora e foi a responsável pela capa e ilustrações do livro.
“A vida… o que ela quer da gente é coragem”, como escreveu Guimarães Rosa. Brunno formou-se em biologia, mas atuou como analista administrativo, cientista e professor. Aos 29 anos, largou tudo e decidiu viver uma experiência totalmente nova. “O conselho que posso dar para quem deseja fazer o mesmo é: vá! Organize o que precisa ser organizado e parta! Para cada pessoa será diferente, mas acredito que a estrada guarda presentes para todos aqueles que têm a coragem de sair”, aconselha Brunno.

Em março de 2022, Brunno chegou ao litoral do Paraná e ministrou aulas para estudantes de escolas públicas de Paranaguá e região. Sua proximidade com o litoral paranaense, especialmente com Superagui, em Guaraqueçaba, foi tanta que o inspirou a escrever um livro. No texto, o autor traz suas histórias de aventuras de bicicleta e de barco pela baía de Paranaguá, além de destacar a riqueza da fauna e flora dos locais por onde passou. “Vi pelicanos de sangue, enfrentei ondas gigantes em voadeiras pequeninas, entrei em um barco de camarões, vi tormentas do mar e tormentas internas, fiz amigos e quase perdi meu chapéu”, descreve Brunno na sinopse da obra.
Questionado sobre a lição mais valiosa aprendida na viagem, o ciclista diz que sem dúvida foi entender que ele pode fazer qualquer coisa que queira nessa vida. “Eu vi que muitas vezes nós somos barrados pelos nossos próprios medos, e isso acaba nos impedindo. Na viagem eu tinha que resolver problemas e passar por novas situações todos os dias. Era desafiador e, na maioria das vezes, eu tinha que decidir tudo sozinho. Depois quando estávamos viajando em casal (Andry e eu), nós tivemos novos aprendizados e enfrentávamos tudo juntos”, relembra.
O título do livro é inspirado em um poema de Mario Quintana (confira ao final). Para Brunno, o poema retrata muito o que ele estava vivendo na época. Especialmente sobre a solidão, retratado como um sentimento bom e ruim dentro da viagem. Outro sentimento humano que também pode oscilar de lado é a liberdade. “Havia momentos em que ela era leve e tinha o gosto doce, mas em outros ela parecia pesada e amarga”, explica Brunno.
Na realidade, o livro inteiro relata apenas um dia da viagem. Ele fala sobre a longa viagem de bicicleta, mas aborda grandes questões sobre liberdade e coragem de sair para viver um sonho. E, sobretudo, suas consequências: a distância de casa; a vida minimalista e desapegada; a solidão; o sentimento de não pertencimento; a importância das coisas simples; e a aproximação inevitável com a natureza selvagem.
No dia narrado, ele conta que os ventos o testaram de todas as formas possíveis (daí o título). “Em meus sonhos; quando me jogaram contra o manguezal; quando aumentaram as ondas que chocaram com a voadeira e com o barco ‘Ana Lua’; nos momentos que estiveram contra mim na Praia Deserta do Superagui e no caminho chuvoso pela escuridão; e ainda quase levaram o meu chapéu”, descreve o autor. Segundo ele, foram os ventos também que secaram suas lágrimas nos momentos de solidão e amenizaram o calor quando o sol estava escaldante.
Para a escrita, ele diz que foi influenciado pelo escritor Henry David Thoreau (eu até levava um livro dele durante a viagem: Walden). No entanto, aponta outras inspirações, como Gabriel García Márquez, Eduardo Galeano, Tamara Klink, José Saramago e Jon Krakauer com Na Natureza Selvagem. Burnno diz que escreve desde pequeno em cadernos, inclusive mantive um diário manuscrito de toda a viagem. Mas que, por enquanto, este é o primeiro livro publicado.
Além disso, o casal tem um projeto chamado Austraboreal, onde elaboraram minidocumentários para o YouTube. Os dois escreveram roteiros, fizeram todas as gravações, editaram e legendaram os vídeos. Em 2023, enquanto finalizava o livro, foram contemplados pela Lei Paulo Gustavo para criação de um documentário sobre a vida nômade e minimalista.

Para conhecerem mais sobre o livro (que é físico), o autor criou um site onde está disponível um capítulo para ser lido gratuitamente. Ele também convida a todos para seguirem o projeto nas redes sociais, onde ele posta sobre a rotina de viagem do casal e muito mais: @austraboreal @mundobrunno
Poema de Mário Quintana – O vento e eu
O vento morria de tédio
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia…
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo…
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele…
E me dedica um amor solidário, profundo!