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Promotor afirma que eles não só tinham conhecimento dos fatos, mas também forneciam meios materiais para que os abusos acontecessem

Foto: Lívia Barbosa/Jornal Opção

Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, 5, os promotores de Justiça Augusto César de Souza e Ariane Patrícia Gonçalves pronunciaram-se sobre uma nova denúncia oferecida pela força-tarefa do Ministério Público que investiga o médium João Faria de Teixeira, conhecido como João de Deus, na qual ele teria cometido crimes de violação sexual mediante fraude.

A promotora explica que, nas denúncias oferecidas anteriormente, o médium foi acusado, também, de crimes de violação sexual mediante fraude, mais estupro de vulnerável. “É importante frisar que esses crimes não aconteceram em uma rua deserta, em que a vítima corre quando ela vê o agressor, esses crimes aconteceram dentro da casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, e foi praticado por uma pessoa que se dizia médium. As mulheres iam até ele com a esperança de ter uma cura, um atendimento”, disse.

A novidade no caso é que foi constatada a participação de funcionários e voluntários, entre eles alguns donos de pousadas, os quais criavam uma rede de proteção à atuação de João de Deus. Essas pessoas podem ser alvo da próxima denúncia do MP que tem outros casos sob investigação.

Ainda de acordo com a promotora, uma das vítimas teria procurado um funcionário da casa de atendimento para relatar o fato de que o médium havia colocado a mão dela em cima de suas partes íntimas. O funcionário [já identificado], por sua vez, informou à vítima que aquilo era normal, e não havia nenhuma conotação sexual. Dessa forma, o homem dissuadiu a vítima de tomar alguma providência.

Segundo as investigações, os funcionários e voluntários da casa Dom Inácio de Loyola monitoravam a corrente em que as vítimas eram atendidas por João de Deus. Essas pessoas, de acordo com o promotor Augusto César, viabilizavam os abusos, já que eles não só tinham conhecimento dos fatos, mas também forneciam meios materiais para que os abusos acontecessem, e contribuíam, ainda, para induzir as vítimas a um estado de confusão.

Sala em que aconteciam os abusos pelo médium | Foto: Reprodução

“Havia uma estrutura de apoio montada, o que nós chamamos de rede de proteção para viabilizar a prática desses delitos, tendo em vista que esses funcionários não reagiam diante dos crimes e convenciam as vítimas de que aquilo não era um abuso, contribuindo para que as vítimas permanecessem em estado de dúvida, que só foi suplantado com a implosão do caso na imprensa”, declarou o promotor.

Para ele, fica cada vez mais evidente que havia, sim, essa estrutura de apoio dentro da casa Dom Inácio de Loyola, composta por funcionários do centro espírita, e até mesmo, possivelmente, por donos de pousadas que tinham conhecimento e nada faziam para evitar esses abusos.

O Ministério Público reitera que a força tarefa está trabalhando na identificação desses funcionários, de que forma eles contribuíam, e se contribuíam diretamente ou não com esses delitos, e se, porventura têm uma parcela de culpa nesses crimes sexuais.

De acordo com Augusto César, alguns colaboradores do médium foram identificados pelas vítimas, mas não estão sendo denunciados ainda, já que não foram ouvidos na condição de investigados. Entretanto, ele alega que existe o encaminhamento, no sentido de verificar a participação no esquema de crimes em ambiente de atendimento religioso e espiritual. “A expectativa é que ainda sejam oferecidas novas denúncias em relação a crimes sexuais praticadas na casa Dom Inácio de Loyola, para fins de responsabilização criminal dos envolvidos”, concluiu.