Evento contou com as principais lideranças do partido, mas convenção em Brasília no início da tarde encurtou pronunciamentos

A cúpula nacional do Democratas oficializou a candidatura de Ronaldo Caiado ao Senado e se dispôs a dar total apoio ao projeto de Iris Rezende (PMDB) na disputa ao governo de Goiás com Armando Vergílio (Solidariedade) na vice. O aval foi anunciado em convenção estadual no início da tarde desta segunda-feira (30/6), no Parque de Exposições Agropecuárias de Goiânia.

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Em contrapartida, o líder peemedebista retribuiu, pedindo que seja levado agradecimentos aos outros integrantes do DEM. “Todos suspenderam suas atividades e vieram para qualificar indiscutivelmente esse projeto, que se Deus quiser, será o vitorioso.” A mesma atitude partiu de Vergílio, que opinou ser esta a aliança para a resolução para as piores dificuldades da população.

No entanto, a convenção do partido em Brasília — realizada logo após a goiana –, que confirmou o apoio ao senador mineiro Aécio Neves (PSDB) para a presidência da República, fez com que a passagem do presidente nacional José Agripino (RN), do vice-presidente José Carlos Aleluia (BA), e do secretário-geral, Onyx Lorenzoni (RS), fosse acelerada. Na escolta do grupo ainda estavam o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto, e os deputados federais Mendonça Bezerra Filho (PE), líder da sigla na Câmara dos Deputados, e Felipe Maia (RN), filho de Agripino.

Com isso, antes da chegada dos maiores líderes do partido, às 9h36, a parte formal do evento já estava sendo adiantada por Caiado com a leitura da ata que oficializou seu nome na chapa encabeçada por Iris.

Antes de entrar em auditório da SGPA, ACM Neto demonstrou em entrevista a jornalistas sua vontade de ver Caiado como senador. “Depois de alguns anos ajudando o nosso país na Câmara Federal, chegou o momento dele ir para o Senado da República. O partido vai dar todo o apoio e suporte. Por isso, estamos aqui e vamos concentrar toda a energia para elegê-lo”, avaliou.

A aliança PMDB-DEM em Goiás foi classificada pelo baiano como histórica, levando em conta a experiência política de Iris. A coligação goiana é semelhante a que ocorre na Bahia, onde o PMDB apoia o candidato a governador pelo DEM e vice-versa.

caiado adm neto
Momentos depois de descer da van com outras autoridades, ACM Neto foi abraçado por Caiado: “Obrigado meu irmãozinho, obrigado”. Foto: Marcello Dantas/Jornal Opção Online

Sobre as articulações no plano nacional, ACM Neto disse que a aliança para a eleger o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) para presidente está sendo preservada, inclusive citando o encontro que selou o acordo em Brasília horas depois. “É absolutamente normal que a realidade [de coligações] seja respeitada. E aqui estamos com o PMDB”, analisou.

Ataques e elogios

Com a presença de todos os nomes do cenário nacional da agremiação, ACM Neto frisou que a missão de Caiado na Câmara está concluída. “Nossos companheiros devem sair em campo para garantir a eleição de Iris.” O prefeito aproveitou para brincar dizendo que todos os santos da Bahia ajudarão na campanha e na eleição dos dois.

O deputado federal Onyx Lorenzoni fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Na análise dele, diversas frentes lideradas por Caiado foram formadas para combater injustiças do governo federal, lembrando da minoria da oposição na Câmara. “Estava lá um goiano braço forte, lutador e competente. Podemos ficar em meia dúzia [no plenário], mas não vamos trair o nosso eleitor” , exclamou, reclamando do valor do salário mínimo e de bolsas concedidas pela União.

Deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) criticou gestão do PT. Foto: Marcello Dantas/Jornal Opção Online
Deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) criticou gestão do PT. Foto: Marcello Dantas/Jornal Opção Online

José Agripino justificou a presença de toda a executiva do DEM na capital goiana. “O partido se moveu para cá porque Caiado o nosso orgulho”, ressaltou, destacando que durante a vida política o goiano foi coeso. Para o senador, o presidente do partido em Goiás é a “cara” de Goiás. O mesmo tratamento foi dado aos outros integrantes da chapa majoritária. “Estamos bem acompanhados. Essa trinca do barulho [com Caiado, Iris e Armando] nós vamos balançar o coreto”.

O deputado estadual Helio de Sousa destacou que a postulação de Caiado é legítima e foi discutida por longo tempo pelo partido. “Portanto, ao longo de cinco mandatos, apontado sempre como um dos melhores deputados federais, com certeza você sabe o caminho das pedras”, observou ele, um dos fundadores do partido em Goiás.

O nome do presidenciável Aécio Neves foi citado apenas por duas vezes em todas as falas.

Caiado foi o último a falar e no começo de seu discurso de pouco mais de 18 minutos deu sua cartada logo de início: “Aqui não tem lugar para mercenário”. Para Iris, disse que a atuação da militância da legenda que dirige “dá gosto”; a Maguito, explanou que os democratas presentes ganharam o voto de confiança dele após seu pronunciamento.

“As principais lideranças de meu partido não vieram aqui só avalizar, mas também pedir o voto e o apoio de sua candidatura e de Vergílio”, disse o senadoriável, se referindo a Iris. Caiado sugeriu que o evento teve mais um tom de esclarecimento sobre a aliança DEM-PMDB-Solidariedade aos seus seguidores. “Aqui tem lideranças que não pisam em duas canoas”, comparou.

A situação da segurança pública em Goiás e ações de distribuição de renda a partir dos royalties do pré-sal foram pontos criticados pelo goiano. Ele lembrou que o candidato a vice-governador do Solidariedade esteve no Congresso para evitar que apenas alguns Estados angariassem recursos. “Muitos prefeitos que estão aqui sabem, nunca amarelei. Na tese municipalista, muitos vão para o palanque, mas na hora de enfrentar o governo federal que concentra a arrecadação e vitima os municípios é o Caiado que está ali.”

Pedindo voto de confiança, o goiano prometeu defender a redução da maioridade penal e a defesa de maior repasses orçamentários para as gestões municipais.

Em uma referência velada ao vice-governador José Eliton (ex-DEM, hoje no PP), o presidente do Democratas advertiu a seus partidários que Iris não irá exigir que políticos troquem de partido para obter apoio. “E aos adversários, já disse e repito: o meu maior respeito. Não tolero o traidor, aquele que não cumpre compromisso e não cumpre aquilo que acertou em momento de eleição.”

Em 2013, o Democratas moveu ação contra o pepista após ele se desfiliar do DEM em abril daquele ano, tendo sido eleito vice-governador pelo partido, e se filiar ao PP em junho. Porém, em maio passado a maioria do pleno do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) julgou improcedente e julgaram a favor do arquivamento do processo.

Falas peemedebistas

Após a saída dos principais dirigentes do DEM, às 12h45, Iris mensurou que as eleições do próximo mês de outubro serão históricas pela quantidade de votos que Caiado vai receber com o apoio do PMDB e do Solidariedade. “Vamos governar juntos e corrigir os defeitos imperantes nesse Estado. Vamos injetar amor e responsabilidade na administração”, discursou Iris.

O candidato ao Palácio das Esmeraldas ainda se dirigiu ao deputado Helio salientando que a presença dele levou “dignidade” ao evento. O deputado democrata apoia a reeleição do atual governador. “O DEM e os demais partidos coligados, vão garantir a minha eleição e do Armando no primeiro turno”, previu, em discurso de pouco mais de 11 minutos.

O prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, lembrou que antigamente teve divergências no passado com Caiado, mas que ele “sentiu” que as adversidades foram “curadas”. “Estou convicto de que essa aliança será a solução para o futuro do Estado.”

O grupo liderado por Iris, Armando e Caiado ainda é composto por PTN, PRTB, PPL e PCdoB. O primeiro suplente a senador é o deputado estadual Luiz Carlos do Carmo (PMDB). Entre os presentes, foram listados pela assessoria sete dos 17 prefeitos do DEM, além de administradores municipais de outros partidos.

Cooptação

Um dos políticos a discursar foi o presidente da Câmara de Vereadores de Campos Belos, Márcio Valente (DEM). Se dirigindo a Caiado, ele disse que as denúncias sobre a suposta cooptação de prefeitos e vereadores da oposição por parte do governo estadual procedem. “Há cerca de seis meses tentaram me comprar e eu liguei para o Caiado. Falei que estaria com ele se fosse candidato no Acre, na Bahia, ou em qualquer outro Estado. E aqui estou”, relembrou.

A hipótese foi levantada pelo candidato a senador no dia 19 de junho durante evento que oficializou a aliança com Iris. O democrata afirmou que entraria com representações contra o governo estadual por improbidade administrativa, acusando que o governo de Goiás estaria utilizando a estrutura do Estado para garantir aliança de prefeitos nas eleições de outubro em troca de liberação de convênios e recursos para as respectivas cidades.

Correria

A correria se deu porque eles tiveram que embarcar para Brasília para a convenção nacional do DEM, marcada para as 14h30. É que como a capital federal sediou o jogo entre França e Nigéria, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, o espaço aéreo foi fechado, o que impediria o pouso deles. Com isso, Agripino, ACM Neto, Lorenzoni e companhia saíram antes mesmo da fala de Caiado.

A tensão pelo pouco tempo disponível das autoridades do DEM ficou evidente na chegada ACM Neto. Ao descer da van com outras pessoas, o baiano respondeu a poucas perguntas dos repórteres e foi abraçado por Caiado, que o alertava para o curto tempo das falas.

A mesma situação aconteceu quando Iris concedia entrevista aos jornalistas do lado de fora do auditório e Caiado saiu do palanque para buscá-lo, mas de forma mais incisiva. Agripino foi visto chegando ao local momentos depois, mas não concedeu coletiva.