Críticas de Kassab a Haddad geram tensão entre Lula e PSD às vésperas da reforma ministerial

30 janeiro 2025 às 11h23

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A relação entre o governo Lula (PT) e o PSD entrou em um momento de instabilidade às vésperas da reforma ministerial. O principal fator de tensão foi uma declaração do presidente do Partido Social Democrático, Gilberto Kassab, que criticou a condução da política econômica pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Durante um evento do banco de investimentos UBS BB, em São Paulo, Kassab afirmou que Haddad é um ministro fraco, comparando-o a nomes que ocuparam a pasta em governos anteriores, incluindo gestões petistas e até a ditadura militar. Para aliados de Lula, a fala do líder do PSD não apenas expôs insatisfações internas, mas também representou um gesto estratégico para fortalecer a posição do partido no governo.
Além das críticas à economia, Kassab também indicou que o PSD poderia não apoiar Lula em uma eventual candidatura à reeleição, mesmo já ocupando três ministérios. A declaração acendeu um alerta no Planalto sobre a postura da sigla diante das negociações para a reforma ministerial. A movimentação ocorre no mesmo momento em que o senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou a possibilidade de nomeação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para a Secretaria-Geral da Presidência. Segundo Aziz, a escolha poderia gerar atritos dentro do próprio governo, já que Gleisi faz críticas frequentes a Haddad, o que poderia prejudicar a coesão interna.
No Palácio do Planalto, a fala de Kassab foi interpretada como um recado para que o PSD não perca espaço na Esplanada dos Ministérios, especialmente em relação ao comando do Ministério de Minas e Energia, atualmente ocupado por Alexandre Silveira (PSD). Há articulações para que Silveira seja substituído, o que gerou insatisfação dentro do partido. Para evitar um rompimento, aliados de Lula cogitam realocá-lo para a Secretaria de Relações Institucionais, enquanto o atual ministro da pasta, Alexandre Padilha (PT), assumiria o Ministério da Saúde. Essa possibilidade, no entanto, não foi bem recebida pelo PSD, que tenta garantir sua permanência em cargos estratégicos.
As críticas de Kassab foram imediatamente rebatidas por integrantes do PT e do governo. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, usou as redes sociais para defender Haddad e ironizar a postura do presidente do PSD, afirmando que seria estranho se um aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) elogiasse o trabalho do ministro da Fazenda. Já o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) lembrou que Haddad foi o responsável por aprovar a reforma tributária e recuperar a economia após o governo Bolsonaro. O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, classificou as críticas de Kassab como injustas e motivadas por interesses eleitorais.
Diante da repercussão negativa, Kassab tentou minimizar a polêmica. Em resposta à imprensa, disse que suas declarações foram apenas uma análise do cenário econômico e que não tinha a intenção de provocar uma crise com o governo. No entanto, a ausência do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), em um evento no Palácio do Planalto reforçou a percepção de afastamento entre o partido e o governo. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, chegou a comentar que alguns governadores se tornaram “prisioneiros da polarização”, em uma indireta ao líder paranaense.
A reforma ministerial, que deve ser iniciada após a eleição para o comando da Câmara e do Senado, será um teste para a relação entre Lula e o PSD. Enquanto Kassab tenta ampliar a presença do partido no governo, Lula busca garantir uma base de apoio sólida para aprovar pautas prioritárias no Congresso. O desfecho das negociações pode definir o grau de alinhamento entre as siglas e influenciar os rumos da política nacional nos próximos anos.