Rapper tocou pra uma plateia reduzida, diferente do que aconteceu em maio no festival, quando ele atraiu 10 mil pessoas ao Centro Cultural Oscar Niemeyer
Depois de colocar 10 mil pessoas no show de encerramento do Bananada, em maio deste ano, o rapper Criolo voltou aos palcos da cidade em um dos eventos paralelos do festival. Na noite de domingo (13/9), o paulistano se apresentou no Palácio da Música, no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). No repertório, canções de todos os álbuns do músico: se na apresentação regular, só deu Nó na Orelha (2011) e Convoque seu Buda (2014), o bis teve espaço também para Ainda há Tempo (2006).
Os altos preços impediram que o público comparecesse em peso. O segundo lote, que começou a ser vendido no começo de agosto, trazia entradas a R$ 40 (meia, que podia ser comprada com documento ou 1 kg de alimento não perecível) e R$ 80 (inteira). Os valores foram alvo de muitas queixas na internet e o resultado foi visível, muitos espaços vazios no teatro, com capacidade bem reduzida se comparada a um palco externo.
Antes dele, também tocaram outras bandas, mas o Palácio não ficou cheio até o show principal. Quem iniciou a noite foi o rapper goiano Gasper, seguido pela banda carioca Dônica e pelos paulistanos do Aldo The Band.
Criolo subiu ao palco ao som de Convoque seu Buda, acompanhado em coro pela plateia. E emendou com Esquiva da Esgrima, em que canta em prol de uma “geração que não só quer maconha pra fumar” e alerta: “Fala demais chiclete azeda”.
Subirusdoistiozin, uma das primeiras músicas dele a fazer sucesso nacional, veio em seguida, para empolgação do público. Acostumado a opinar sobre temas polêmicos em suas apresentações, Criolo foi mais moderado no domingo, mas não deixou de introduzir Casa de Papelão com a sensibilidade que lhe é característica, falando sobre a desigualdade no país.
Pé de Breque, único reggae do último disco, foi uma das que mais empolgou a plateia. A música, que homenageia o mestre do estilo, Bob Marley, e a religião rastafari, convida: “Vamos ser feliz que o sofrimento já passou. Queima, todo ódio e rancor”. Na sequência, com Sucrilhos, ele reverenciou os companheiros de rap – de Rappin Hood ao Facção Central.
As duas seguintes são daquelas que em questão de segundos já são capazes de levar o público à loucura. Primeiro, a rítmica e rimada homenagem à favela que é Grajauex. Antes da próxima, as luzes se apagaram para criar um mistério, mas o chapéu de Criolo denunciava qual era: Lion Man, com os versos cortantes sobre a falta de empatia que parece acometer muita gente. “Vamos as atividades do dia: lavar os copos, contar os corpos e sorrir a esta morna rebeldia”, diz, ironicamente, a letra.
Depois, o rapper retornou ao disco mais recente com Cóccix-ciência. Seguiu com uma das que remetem à sonoridade nordestina, origem dos pais de Criolo: Pegue pra Ela, em que ele critica a indústria cultural. Fermento pra massa veio na sequência com mais crítica social na “descontraída” letra: “Eu, que odeio tumulto, não acho insulto manifestação pra chegar um pão quentinho com todo respeito a cada cidadão”.
Em um dos momentos em que falou com o público, Criolo destacou o poder da música em dar alento às pessoas. “Às vezes você está no meio de tanta gente e se sente sozinho. Mas hoje a música vai te acompanhar, porque você é especial”, disse ele. Ele fechou a apresentação com Cartão de Visita, uma canção crítica e atual que fala da sociedade de consumo e cita personalidades como a blogueira Thássia Naves e o funkeiro Mc Lon.
O público, claro, queria mais, e Criolo voltou para o bis com a arrebatadora Não Existe Amor em SP, que costuma provocar – e provocou – uma catarse coletiva. Aí começaram as mais antigas, mas nem por isso menos conhecidas. Ele começou com Tô pra Ver, emendou com Vasilhame e finalizou com Ainda Há Tempo, talvez a música que mais mostre como o rapper vê o mundo: “As pessoas não são más, elas só estão perdidas”.
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