Coronavírus pode deixar sequelas no sistema nervoso, aponta neurocirurgião

08 abril 2020 às 11h04

COMPARTILHAR
Especialista da UFG explica que o vírus tem afinidade por receptores que, em casos severos da doença, podem trazer prejuízos permanentes

A medicina trabalha desde o início da semana com mais um alerta de possíveis danos causados pelo novo coronavírus (Covid-19). Um estudo divulgado por pesquisadores chineses aponta que parte dos pacientes apresentaram danos neurológicos devido à doença. Ao Jornal Opção, o neurocirurgião Osvaldo Vilela Filho, professor e chefe de neurocirurgia na Universidade Federal de Goiás (UFG), explica o processo de prejuízo ao sistema nervoso.
Para o especialista, a pesquisa é inédita por ser a primeira que trata da Covid-19, entretanto, aponta que doenças similares, também causadas por vírus da família dos coronavírus, apresentam manifestações neurológicas similares. O neurocirurgião destaca que os surtos de Sars, em 2002 na Ásia e de Mers em 2012 no Oriente Médio, poderiam causar danos parecidos.
“Este vírus tem uma grande afinidade pelo receptor de membrana da enzima conversora de angiotensina. Este receptor existe em grande quantidade nos pulmões, daí a afinidade desta virose por eles, mas são também encontrados no fígado, rins, coração, sistema nervoso e músculos. É isso que justifica este vírus poder atingir também estes órgãos”, explica o Dr. Osvaldo Vilela.
Danos permanentes?
O professor Osvaldo segue explicando que ainda não se sabe como o vírus atinge o cérebro, mas diz que há possibilidade de ser por duas vias: sanguínea ou acompanhando o nervo olfatório, explicando que o tecido se origina nas cavidades nasais, atravessa a base do crânio pelo osso etmoide e atinge o cérebro. “Está segunda via explicaria porque pacientes com esta virose podem apresentar redução ou perda do olfato”, destaca.
Outros destaques de possíveis danos pontuados pelo especialista estão: redução do paladar, dor de cabeça, tontura, sonolência, letargia, convulsão, dormência, formigamento nas extremidades, e AVC do tipo isquêmico. “Há ainda a encefalopatia necrotizante [dano cerebral]. Este comprometimento é usualmente bilateral”, pontua o médico, baseado em estudos já observados com os vírus similares ao novo coronavírus.
“Se o quadro neurológico decorrer de um AVC ou desta encefalopatia, vista também em outras viroses, se déficits neurológicos ocorrerem eles serão possivelmente definitivos, ou seja, sequelares”, explica Osvaldo Vilela, que pontua: “O comprometimento do sistema nervoso é mais comum na forma mais severa da doença e em pacientes com comorbidades significativas como hipertensão e diabetes”.
“Da forma como vejo, a única forma de se tentar evitar a lesão mais severa do encéfalo seria por meio da instituição, o mais precoce possível no curso da doença, de drogas com ação antiviral. A associação hidroxicloroquina e azitromicina seria uma possibilidade”, acentua.
“Por fim, cumpre salientar que as manifestações neurológicas, sobretudo em idosos, podem abrir o quadro clínico da virose, sem qualquer out era manifestação como tosse seca e febre. Portanto, durante esta pandemia, pacientes com início atual súbito de sonolência, delírios, convulsões, redução do olfato / paladar devem ser considerados como suspeitos para Covid-19, e investigados e seguidos como tal, tentando assim reduzir a propagação da doença por falta de um diagnóstico precoce”, finaliza o médico.