A Copa começou com “jeitinho brasileiro”. Que pena
12 junho 2014 às 19h16
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Na geopolítica do futebol não somos vítimas, somos bastante poderosos. A Copa é no Brasil e, na dúvida, o juiz vai apitar para os donos da casa
Primeiro, resumindo o jogo: o Brasil foi melhor no todo, mas o resultado poderia ter tido outro não fosse o erro do juiz em um momento crucial. O placar de 3 a 1 não reflete a dificuldade da partida. Neymar não brilhou, mas fez dois gols – inclusive o de pênalti, mal batido. Era o jogo mais difícil da 1ª fase e, agora, pode-se dizer que o caminho está aberto e franco para ser o campeão do Grupo A. O melhor jogador em campo, Oscar, tão criticado e agourado por tantos, foi premiado com o último gol. Luiz Felipe Scolari vai ralhar com a defesa, que não passou no teste e facilitou a vida da Croácia, especialmente no primeiro tempo – e o gol contra de Marcelo foi só um detalhe.
Mas ficou chato e até vergonhoso o jeito como aconteceu a vitória. O Brasil começou a Copa com o pior da nossa cultura: jogo difícil, empate já na segunda metade do segundo tempo, e então Fred aplica o golpe da caidinha na área. Aproveita que o zagueiro croata encosta nele e desaba como se tivesse sido arrastado. Pênalti, apita o árbitro japonês.
Sabe de nada, o inocente. Aqui é Brasil e rolam a malemolência, o suingue, a catimba, o improviso. Somos criativos, temos grande facilidade para insights e os usamos isso para o bem e para o mal. No futebol, geralmente para fingir. Não é uma exclusividade nativa, claro: simular faltas ocorre no mundo inteiro, em qualquer campeonato. Mas temos, digamos, um talento especial para esse tipo de coisa.
Desde que se consagrou potência futebolística, em 1958, o Brasil foi o país mais beneficiado por erros de arbitragem. Isso facilitou a conquista de pelo menos dois títulos. Vamos a eles.
Em 1962, Nilton Santos fez pênalti contra a Espanha e deu dois passos sorrateiros à frente, saindo da área e iludindo o juiz, que marcou só falta. Na semifinal, Garrincha foi expulso, mas, estranhamente perdoado, pôde jogar a final e ajudar a equipe a chegar ao bicampeonato.
Em 2002, o contrário de 1962, a favor da seleção: Luizão sofreu falta na meia-lua, mas ganhou um pênalti. E o Brasil ganhou da Turquia. De quebra, nas oitavas-de-final, a Bélgica teve um gol mal anulado quando o jogo ainda estava 0 a 0.
Que ninguém se iluda: na geopolítica do futebol não somos vítimas, somos bastante poderosos. A Copa é no Brasil e, na dúvida, o juiz vai apitar para os donos da casa.