Esse é o segundo ano em que o 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, é celebrado como feriado no Brasil. Antes disso, a data era feriado apenas em seis estados da Federação e em 1.260 municípios brasileiros. Somente em dezembro de 2024 a data foi incluída oficialmente no calendário nacional, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.759/2023. Ela havia sido instituída em 2011, no então governo Dilma Rousseff, mas, 13 anos depois, precisou de uma nova proposição legislativa para ser reconhecida nacionalmente.

Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista, como defende a filósofa e ativista norte-americana Angela Davis. Essa data tão simbólica existe justamente para refletirmos sobre um país menos desigual. O Jornal Opção fez um levantamento sobre jornalistas negros em atuação no mercado goiano. Foram entrevistados 17 profissionais, que falaram sobre trajetórias, superações, preconceitos e —  sobretudo — conquistas.

Almir Costa

Há 30 anos no telejornalismo goiano, Almir Costa é natural da cidade de Porangatu, localizada no norte de Goiás. Viveu 11 anos na zona rural e, na adolescência, mudou-se para o município da índia “Angatu”. Dos jograis e apresentações teatrais na escola nasceu a paixão pela comunicação. Liderou movimentos de jovens na Igreja Católica e sempre foi perceptível a vocação para falar em público. “Nunca fui uma pessoa introspectiva, muito pelo contrário, sempre tive tranquilidade para fazer isso”, explica.

Almir Costa construiu sua vida profissional e pessoal no telejornalismo | Foto: Arquivo Pessoal

O “pulo do gato” foi na inauguração da Ferrovia Norte-Sul, pelo então presidente José Sarney, em 1987. Curioso e entusiasmado com a presença da imprensa nacional na cidade, foi escondido da mãe acompanhar de perto o dia a dia dos jornalistas. “Fiquei encantado ao ver os repórteres todos lá fazendo essa cobertura, principalmente quando eles estavam gravando as passagens, que é quando a gente aparece na matéria de TV. Ali fiquei com mais vontade de ser um jornalista de televisão.”

Os anos se passaram, Almir Costa cursou Comunicação Social na UFG e, no 3º ano da graduação, passou a estagiar na produção da TV Serra Dourada. Dos bastidores do telejornalismo, migrou para a reportagem e, antes de 1996, foi efetivado na emissora. “Já participei das maiores coberturas. Todos os assuntos de Goiás e, inclusive, de fora também. Um destaque, por exemplo, foi que em 1998 eu estive em São Paulo durante 10 dias fazendo a cobertura da doença e da morte do cantor Leandro”, relembra.

Sobre a cor da sua pele, Almir diz que nunca foi um impedimento para alcançar seus objetivos no Jornalismo. “Muito pelo contrário, sempre fui valorizado em relação a isso também. Construí a minha vida profissional e pessoal no jornalismo, no telejornalismo.”

Márcia Fabiana

A jornalista Márcia Fabiana está há cinco anos como servidora efetiva do Estado de Goiás. Atualmente integra a Assessoria de Comunicação da Emater, que, segundo a profissional, é um local de constante aprendizado. “A instituição visa à pesquisa para fomentar e auxiliar a agricultura familiar, e é ótimo relatar as vitórias de quem põe alimento de qualidade na mesa da família brasileira”, destaca.

Jornalista e ativista Márcia Fabiana | Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, a jornalista é assessora de comunicação do Coletivo de Audiovisual Diaspóricas. “Ainda atuo no Comitê Impulsor Goiano da Marcha das Mulheres Negras. As duas assessorias me fortalecem como cidadã negra, me ressignificam. Muitas são as trocas e, principalmente, os aprendizados, e me representam, pois não sou única na caminhada contra a violência de gênero e contra o racismo.”

A infância, na cidade de Ji-Paraná, em Rondônia, foi permeada pela curiosidade. Na adolescência, passou a sonhar em se tornar detetive. “Escaravelho do Diabo, O Mistério do Cinco Estrelas, Éramos Seis, Dom Casmurro, O Seminarista, O Ateneu… era algo que me despertava a ‘descobrir’ os enigmas em cada página dos livros citados”, contextualiza.

A dúvida era seguir pelo caminho da Psicologia ou do Jornalismo. Acabou ouvindo o coração e se formou jornalista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A chegada em Goiânia para o mercado de trabalho, infelizmente, foi marcada por negativas, assédios e preconceitos. Em algumas situações, ouviu que não seria contratada devido à cor da pele, mesmo tendo um excelente currículo. Em outras, foi questionada se era, efetivamente, jornalista.

O racismo é diário para mim, que sou negra

“Agradeço todos os dias por exercer com muita honestidade o meu ofício. Nem sempre é fácil. Falhei algumas vezes, por não desempenhar com competência o meu papel, a profissão não é bem remunerada.” Para além das dificuldades, Márcia Fabiana diz que é reconfortante receber uma ligação ou um agradecimento por ter escrito histórias de superação.

Cássio Neves

O Jornalismo surgiu na vida do apresentador da TV UFG, Cássio Neves, de maneira natural. Desde a infância, gostava de estar em rodas de conversas; alguns logo diziam que ele tinha jeito para político. Para burlar o “aqui é lugar de adulto”, brincava de ser entrevistador – e não parou mais. Com 12 anos, passou a fazer teatro, sem imaginar que um dia se tornaria um repórter de verdade.

O ator e jornalista Cássio Neves | Foto: Arquivo Pessoal

O primeiro estágio foi no Diário da Manhã, depois Fecomércio e TV Record Goiás. Como profissional, começou cobrindo férias de colegas na TV Serra Dourada e na PUC-TV. Teve uma passagem rápida por assessoria política, depois TBC, TV Goiânia, até chegar ao posto de âncora da TV UFG.

É desafiador ser jornalista, por conta dos salários, por conta do desmantelo realmente da profissão, no sentido de desvalorização mesmo

Fátima Tertuliano

A quilombola Fátima Tertuliano é jornalista formada pela UFG. Atua como produtora cultural e líder na comunidade Kalunga “Vão do Moleque”, em Cavalcante (GO). A trajetória da profissional é guiada pela comunicação popular, pela preservação ambiental e pela valorização das culturas tradicionais.

Como fundadora da Rádio Kalungueira e do Sistema Kalunga de Comunicações, e cofundadora da Rede Kalunga Comunicações, a jovem jornalista já implementou diversas iniciativas voltadas à amplificação das vozes das comunidades quilombolas. “Meu trabalho busca promover integração, representatividade e fortalecimento comunitário em todo o território Kalunga”, enfatiza.

Fátima Tertuliano amplifica as vozes quilombolas | Foto: Arquivo Pessoal

“Ser uma mulher preta, quilombola e comunicadora em Cavalcante é caminhar todos os dias contra barreiras que muita gente nem imagina. Os desafios começam pela falta de estrutura, de recursos e de possibilidades básicas que, para outros lugares, já são garantias. Aqui, cada passo exige criatividade, coragem e uma dose de resistência ancestral” evidencia a jornalista Fátima Tertuliano.

Apesar de todas as dificuldades e o peso de ser uma das poucas mulheres negras ocupando espaços de decisão no quilombo, a jornalista honra as suas origens.

Mesmo com todas essas travas, sigo abrindo caminhos porque sei que minha voz não é só minha: ela carrega a força do território, das mulheres que vieram antes e das que ainda virão

Raphael Bezerra

O repórter do Jornal Opção, Raphael Bezerra, começou a querer ser jornalista durante o Ensino Médio. Primeiro fez o curso de Fotografia e, da imagem, “brotou” a paixão pela escrita. Tem memórias afetivas dos primeiros contos e das crônicas publicadas em jornais. Só que a avó – essa ele enche a boca para falar – é a sua maior inspiração.

No início da faculdade de Jornalismo, em 2015, começou a vida de repórter no Diário da Manhã. As editorias de Cidades e Política permearam suas primeiras descobertas. No Opção Online passou a trabalhar no ano de 2023. “É uma experiência nova, apesar de estar no jornalismo há bastante tempo. Este ano veio mais coisa nova, que é a TV. O Opção Play tem iluminado meus olhos e aquecido o meu coração também”, contextualiza Raphael.

Raphael Bezerra é repórter no Jornal Oção | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

“Sou um homem negro. Um homem periférico, e a representatividade na TV goiana ainda é muito baixa. Agora que os jornalistas negros têm aparecido mais. […] A gente acaba inspirando outras pessoas também.” O repórter aparece no vídeo com o cabelo Black Power, em referência ao orgulho racial do movimento de ativismo político e cultural que surgiu nos EUA na década de 1960, e tem recebido elogios por essa atitude.

Sobre racismo, Raphael Bezerra diz que já sofreu e que até hoje ainda sofre.

Situações que muitas vezes são constrangedoras, olhares, palavras, algumas restrições que a gente sofre ou censura que a gente mesmo se impõe

Apesar das “pancadas”, segue firme caminhando, narrando e fazendo jornalismo com o coração. Além de sern um jornalista completo, é também poeta. Nesta terça-feira, 18, recebeu homenagem juntamente com figuras de liderança dos movimentos negros na Câmara Municipal Aparecida de Goiânia.

Carlos Freitas

Diferente de muitos jornalistas que, desde a infância, sonham com a profissão, Carlos Freitas começou a cogitar essa possibilidade no 1º ano do Ensino Médio. Em 2007, entrou para o curso na PUC-GO com o ideal de cobrir a editoria de Esportes ou se tornar repórter especialista em carros. Nem um, nem outro: hoje é responsável pelo site do portal “Aproveite a Cidade” e ajuda nas produções de vídeos do Instagram, que tem 212 mil seguidores.

Carlos Freitas é sócio do Aproveite a Cidade | Foto: Arquivo Pessoal

“Em 2017, o Aproveite a Cidade já tinha sido criado e se colocado como uma empresa, da Paula Falcão [jornalista], que é minha companheira. Eu ajudava com algumas questões, mas sem receber salário ainda. […] Daí, em janeiro de 2019, eu começo a ficar fixo no Aproveite a Cidade, e aí já como sócio”, contextualiza.

Para chegar ao sucesso atual, trilhou primeiro como estagiário no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Depois percorreu pautas políticas como repórter e editor no Diário da Manhã. “Enquanto estava no DM, por um tempo, trabalhei no site do Estádio Serra Dourada. Eles tinham um site e eu alimentava com os jogos e o borderô. Isso durou alguns meses e, no começo de 2014, também fui assessor de imprensa do deputado estadual Simeyzon Silveira”, rememora Carlos Freitas.

Rodrigo Fumaça

O jornalismo, para Rodrigo Fumaça, que é apresentador da TV Sagres, começou de forma aleatória, como ele mesmo diz. “A minha carreira começou na parte técnica, quando virei estagiário na TBC.” De operador de vídeo surgiu uma oportunidade para cobrir a Série D do futebol brasileiro, nos jogos da Aparecidense.

“Então foi um processo, assim, até chegar onde eu queria chegar, que é falar de futebol, de cultura na TV e de maneira descontraída”, explica Fumaça. Os ensaios ele mesmo comandava pelo próprio canal no YouTube. “Eu decidi também cursar o jornalismo por conta disso, né? Desses primeiros vídeos do YouTube que eu fazia, das coisas relacionadas à internet, que me incentivavam muito”, explica.

Rodrigo Fumaça sempre sonhou estar onde está | Foto: Arquivo Pessoal

Graças ao time Aparecidense, Rodrigo Fumaça foi ganhando destaque. Quando faltava algum comentarista, logo se prontificava. Com o tempo foi ganhando credibilidade e passou a ser “escalado” como um atacante de peso, ocupando novos espaços. Primeiro, em um programa mais voltado à internet, com notícias factuais. Até chegar à Sagres, onde faz um jornalismo mais voltado para a educação.

“Combater o racismo também é isso. É se expressar. É estar lá na frente. Já apresentei o FICA [Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental]. Viajei para a França e Suíça a trabalho, fazendo coberturas jornalísticas. Foi nesses processos aí da vida, de trabalho, estudo, empenho, que cheguei onde eu estou. E tudo através do jornalismo”, finaliza.

Janaína de Oliveira

A jornalista Janaína de Oliveira trabalha na TV UFG, uma emissora pública de caráter educativo. “Eu trabalho com jornalismo factual: reportagem, editoria de texto, apresentação, o que for preciso.” Toda essa expertise foi adquirida em uma trajetória que inclui coberturas no entorno de Brasília, quando foi repórter da TV Anhanguera. Em Goiânia, atuou também na TV Goiânia, no período em que era afiliada da TV Bandeirantes. “Este ano, eu fiz uma temporada na TV Brasil, que é a cabeça de rede da TV UFG. Lá, eu fui repórter e conheci a infraestrutura. Foi muito legal.”

Janaína de Oliveira é a primeira da família a entrar em universidade pública | Foto: Divulgação

Essa comunicação nata, Janaína herdou da avó, cuja a pouca escolaridade não a impedia de reter a atenção de todos durante os almoços em família.

Nunca ousei me candidatar [a falar], porque sempre preferi o papel de ouvinte atenta às contradições e hipérboles. Hoje, inevitavelmente, me lembro disso ao narrar fatos com critérios jornalísticos

Como a primeira da família a entrar em uma universidade pública, Janaína reconhece o apoio familiar e a inspiração de ter visto uma mulher jornalista negra quando pisou pela primeira vez na UFG. “Estamos caminhando nas trilhas que outras pessoas deixaram para nós. Nós, pessoas negras, precisamos olhar para nós mesmos, porque carregamos muitas violências que foram sendo acumuladas com o passar das gerações”, conclama.

Lucas Tavares

Lucas Tavares começou a pensar em fazer Jornalismo no final do Ensino Médio. Queria unir a paixão pelo futebol e por viagens em uma única profissão. “Na UFG tive essa oportunidade de trabalhar no ‘Doutores da Bola’, em programas esportivos. Mas aí eu percebi que o jornalismo era algo muito maior, mais profundo, e as outras áreas foram me ganhando”, confessa.

“A política, por exemplo, já trabalhei em campanhas também, escrevendo sobre política em jornais. Eu trabalhei no Portal 6, no DM Anápolis e agora eu estou indo para outro campo, que é assessoria. Já vai completar um ano que eu estou como assessor de comunicação no Laboratório Teuto”, afirma Lucas.

Lucas Tavares é uma apaixonado pela profissão | Foto: Arquivo Pessoal

No ofício do Jornalismo, o profissional afirma que a parte escrita é o que mais encanta. Sob a orientação da professora Luciene Dias, produziu o livro-reportagem “Sobre Nós, Trajetórias de Jornalistas Negras e Negros de Goiás”, que ainda não foi publicado. “Está aí um asterisco que eu preciso resolver.”

Tomara que isso ocorra, pois a obra narra a trajetória de cinco jornalistas negros de Goiás: Noêmia Félix, professora da PUC; Jordânia Bispo, que tem empresa ligada à assessoria; Tales Nota, que trabalhava na Natura; Rauane Rocha, que é de um quilombo aqui de Goiás; e Almir, da TV Serra Dourada, justamente o jornalista que abre essa reportagem especial de 20 de novembro.

Rafaela Lima

Natural de Redenção (PA), Rafaela Lima veio com a família para Goiânia quando tinha um ano de idade. Pai marceneiro e mãe doméstica por grande parte da vida dela. Depois de alguns anos de estudo, a mãe de Rafaela se tornou funcionária pública e, hoje, trabalha como agente comunitária de saúde. “Sempre foi o estudo que guiou a minha trajetória; mesmo em situação de vulnerabilidade, meus pais sempre priorizaram minha educação.”

Estudiosa, entrou para o curso de Agronomia na UFG, porém não concluiu porque queria fazer Comunicação. Em 2018, entrou para o Jornalismo, na mesma universidade pública. “Ainda na faculdade, durante a pandemia, ingressei em um estágio de assessoria na Secretaria Municipal de Saúde, onde aprendi muito sobre relacionamento com a imprensa.”

Rafaela Lima largou agronomia para fazer comunicação | Foto: Divulgação

Percorreu diversos lugares com assessoria, como no Governo de Goiás e em agências de marketing político. Só que o grande sonho de Rafaela sempre foi trabalhar com televisão. Há dois anos, trabalha como produtora, repórter e apresentadora na TV Anhanguera, afiliada da TV Globo em Goiás.

“Tenho um quadro fixo no programa No Balaio, chamado Conexão Preta, no qual abordo pautas de protagonismo e narrativas negras. Este é o primeiro conteúdo totalmente direcionado a pessoas negras em uma emissora goiana. Conheço histórias e produzo pautas que me deixam extremamente orgulhosa da minha negritude e de todos aqueles que entrevisto”, explica.

Além disso, produz e apresenta matérias para programas como “É de Casa”, “Encontro” e “Mais Você”. Diz se sentir orgulhosa por ser uma das poucas repórteres negras em Goiás que conseguem trabalhar com pautas sociais, honrando quem veio antes dela.

Luzia Nachilenga

A angolana Luzia Nachilenga está em Goiânia há 10 anos. Cursou Jornalismo na PUC Goiás e fez MBA em Marketing Digital, pela Metropolitana. Atualmente é assessora de comunicação do Centro de Cidadania Negra do Estado de Goiás (CENEG-Goiás). Como ativista, faz parte do Comitê de Comunicação da 2ª Marcha das Mulheres Negras. “Contribuo com ações de comunicação, mobilização e estratégias para o fortalecimento da marcha”, contextualiza.

Angolana Luzia Nachilenga | Foto: Arquivo Pessoal

A jornalista se diz apaixonada pela profissão. “Construí minha trajetória profissional atuando com branding, tráfego pago, redes sociais e comunicação institucional. Hoje trabalho também como analista de mídias digitais na Afipe, desenvolvendo estratégias, gerenciando campanhas e analisando dados para fortalecer a presença digital de diferentes marcas”, finaliza.

Felipe Fernandes

O repórter do Curta Mais e da WP Conectada, Felipe Fernandes, é natural de Goiânia. O chamado para o Jornalismo aconteceu por conta de um projeto social, do qual ainda faz parte. “Já atuei como produtor, radialista, assessor de imprensa e de comunicação. Como repórter na TV Record, TV Sucesso, Band, Rádio Sucesso e Comunicação Sem Fronteiras.”

Felipe Fernandes no Curta Mais | Foto: Divulgação

O profissional diz encarar com naturalidade a rotina de cumprir a carga horária diária de dez horas, divididas em duas empresas. “Um dos maiores desafios que tive no jornalismo foi a busca por oportunidades e espaço no mercado. Outro desafio foi ter concluído meu curso e iniciado na profissão durante a pandemia.”

Agnes Geovanna de Faria Batista

O chamado para o Jornalismo na vida de Agnes Geovanna de Faria Batista aconteceu em 2014, durante a Copa do Mundo. Todo o plano de se tornar psicóloga foi por terra quando ela viu Fernanda Gentil cobrindo o CT da seleção. “Sempre fui falante, contadora de histórias, gostava de ouvir histórias também. Então tem um pouco disso no amor pela profissão.”

Agnes Geovanna em gravação de vídeo para as redes do TJGO | Foto: Arquivo Pessoal

Atualmente, Agnes é assessora de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO). Começou como estagiária em assessoria no próprio TJ, depois trabalhou como redatora, social media e coordenadora de redação na Agência Rizzo de Marketing Médico. Os desafios para ela, uma mulher preta no Jornalismo, são sempre os mesmos, na percepção dela.

“A questão racial me pega mais porque, querendo ou não, trabalho em um local com maioria branca. Mas, graças a Deus, meu chefe é um homem preto, que entende essa vivência, então torna tudo mais leve. Mas ainda assim é enraizada em mim essa necessidade de me provar mais do que qualquer outra pessoa. Então estou sempre fazendo além do que consigo”, explica.

João Paulo Alexandre

O atual editor-executivo do Jornal Opção, João Paulo Alexandre, é apaixonado pelo Jornalismo desde os 10 anos. A memória ainda é viva: assistir a uma reportagem do SBT em que a repórter Mônica Pulga fazia a passagem no meio da Avenida Brasil. Ela não parou de dar a notícia mesmo em meio ao tiroteio, protegendo-se entre as divisórias de concreto.

Mesmo com algo tão inspirador voltado para o telejornalismo, João Paulo não se permitiu sonhar em se ver no vídeo. “Eu nunca achei que eu tinha esse perfil. A gente sabe que a beleza imperou muito na TV, então a pessoa tinha que ter uma simetria no rosto, um porte e tal, não era qualquer pessoa que iria para o vídeo”, revela.

Começou o curso de Jornalismo em 2015 e, em 2017, já estava estagiando no portal Mais Goiás. Altemar foi um dos mentores que conduziram, na prática, o aprendizado necessário para as coberturas jornalísticas na Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público e tantas outras pautas. De repórter contratado entre 2018 e 2022, escrevendo muitas vezes sobre o que gostava, chegou a hora de se desafiar e foi para a CBN.

João Paulo Alexandre no período que era repórter do Mais Goiás | Foto: Arquivo Pessoal

“Fiz de tudo: apresentei, fui para a rua, ajudei na produção, cuidei de site, subi podcast; tudo, tudo que se possa imaginar, eu fazia dentro da CBN.” Da rotina do radiojornalismo passou pelo audiovisual, pelo telejornalismo e também por assessorias de imprensa. Agora, no Jornal Opção, em um cargo de gestão que nunca havia ocupado até então, o desejo é ser o mais assertivo possível. “Acho que o que tem faltado muito hoje no jornalista é ouvir. A gente precisa ouvir mais as pessoas. Isso é muito importante”, complementa.

Marcela Guimarães

Aos 17 anos, aprovada no vestibular da UFG para Jornalismo e na UEG para Rádio e TV, Marcela Guimarães escolheu seguir o universo das pautas e coberturas jornalísticas. O primeiro estágio foi na Rádio UFG, depois na Assessoria de Comunicação da própria universidade. Com o diploma na mão, partiu para o mercado atuando como assessora de imprensa, estrategista de conteúdos e produtora de televisão. Hoje atua como especialista de marketing em uma holding voltada para a área da saúde.

Marcela entrou para a universidade antes do sistema de cotas. Era uma das poucas estudantes negras na sala. No mercado, nunca enfrentou episódio explícito de preconceito – mas sim situações “sutis”. Ano passado, recebeu menção de destaque na Assembleia Legislativa de Goiás, em homenagem dedicada a profissionais negros e personalidades do movimento negro.

“Ao longo da minha trajetória, sempre procurei apoiar outras mulheres negras. Nos conteúdos que produzo, busco trazer diversidade de vozes, experiências e perspectivas, porque acredito que a comunicação só cumpre seu papel quando representa, de fato, a sociedade que existe fora das redações e dos escritórios. Meu compromisso é contribuir para que esses espaços se tornem mais plurais, mais justos e mais acessíveis”, enfatiza Marcela.

Sabrina Vilela

Jornalista por formação desde 2018, Sabrina Vilela atua na Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Na visão dela, foi o Jornalismo que a escolheu, justamente porque nunca imaginou que, apesar de todas as adversidades, poderia ter uma profissão tão linda.

“Sou uma mulher negra, de região periférica, pobre e que não teve pais. Meus avós me criaram com muito custo, e minha avó sempre disse que eu deveria estudar para não sofrer como ela sofreu. Ela sempre prezou pelo conhecimento e fez de tudo por mim, desde conseguir vaga em uma escola militar para eu fazer o ensino médio até ajudar com as despesas da universidade”, revela Sabrina.

A jornada profissional começou com o estágio na assessoria da Secretaria de Estado da Saúde. Depois, fez estágio na TV Record Goiás e na TV Brasil Central. Depois de formada, veio o maior desafio da sua vida, que foi ingressar no mercado de trabalho. “A situação ficou ainda pior com a chegada da pandemia em 2020, quando eu não tinha conseguido um emprego fixo ainda e colegas que eu conhecia perderam seus trabalhos.”

Sabrina Vilela no período que era repórter da CBN | Foto: Arquivo Pessoal

O alívio surgiu com o trabalho temporário na BandNews Goiás. “Simultaneamente, também trabalhei no jornal O Hoje na função de repórter, onde acabei ganhando meu primeiro prêmio de jornalismo. Cerca de um ano depois, passei pela função de editora-chefe da editoria de Cidades do jornal.”

Atuou na CBN Goiânia como repórter de Cidades e ganhou vários prêmios, como o da reportagem feita no território Kalunga, da qual muito se orgulha. “Ser jornalista não é fácil, mas, quando a gente ama o que faz, fica mais prazeroso. O segredo é estar disposta a aprender diariamente e não permitir que sentimentos negativos limitem o crescimento profissional”, finaliza.

Felipe Fulquim

O colunista do Notícias Goiás, Felipe Fulquim, sempre foi atraído pela área cultural e pelo entretenimento. É goianiense de nascimento e aparecidense de coração. É apaixonado por Comunicação, Cultura, Esportes e Educação. Aos 15 anos, já demonstrava interesse pelo Jornalismo quando cobria os eventos do Colégio da Polícia Militar Polivalente Modelo Vasco dos Reis.

“Aos 17 anos, já tive minha primeira oportunidade de estagiar na área. Comecei como digitador (passava os anúncios dos classificados e editais governamentais do papel para o computador) no departamento de Operações Comerciais do Jornal Diário da Manhã. Foi o meu primeiro trabalho em jornal. Lá fiquei por 3 anos e 3 meses”, destaca.

O colunista do Notícias Goiás, Felipe Fulquim | Foto: Arquivo Pessoal

No DM, concluiu o Ensino Médio e fez a primeira graduação em Fotografia e Imagem, na Unicambury. Após quatro tentativas, conseguiu uma vaga na graduação de Jornalismo na Uniaraguaia, pelo Enem. “Na faculdade tive oportunidades de trabalhar como repórter e colunista por anos no Jornal O Hoje. Também estagiei em assessoria de imprensa na Fecomércio-GO”, contextualiza.

Depois de formado, trabalhou nas redações do Diário de Aparecida, Mais Goiás e Jornal Opção. Como assessor de imprensa, atuou nas prefeituras de Goiânia e de Aparecida e também na Câmara de Aparecida de Goiânia. Atualmente, está concluindo o curso de Publicidade e Propaganda e o Mestrado em Comunicação, ambos na FIC/UFG.

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