Conheça Nunes D’ Acosta, conservacionista goiano que faz ninho para proteção de arara-azul
31 julho 2024 às 13h20
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Há cerca de 100 anos, a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) era uma visão comum nos céus do Pantanal, Maranhão e Goiás. Essas aves magnificentes nidificavam principalmente na árvore Sterculia Chicha. No entanto, com o avanço da agropecuária e o consequente desmatamento, as árvores que elas utilizavam para nidificação se tornaram escassas.
Recentemente, foram descobertos apenas oito ninhos naturais de arara-azul na região próxima a Firminópolis e Aurilândia. Para ajudar na conservação da espécie, Nunes D’ Acosta faz um trabalho cuidadoso na proteção dos animais. Até o momento, sozinho, ele já instalou 30 ninhos artificiais. “Essas estruturas são construídas com pedaços de madeira encontrados em lixões e outros locais, onde as aves procuram materiais para construir seus ninhos”, explica Nunes ao Jornal Opção. Ele conta que a inspiração para o trabalho veio do ornitólogo José Hidasi.
Seu fascínio inicial por pássaros o levou a capturar a beleza das aves através de suas lentes e, posteriormente, aprofundar-se no estudo dessas criaturas. Em sua jornada, D’Costa entrou em contato com o professor Hidasi, um renomado especialista em pássaros, e tornou-se um grande conhecedor das aves.
Em 1979, José Hidasi fundou o Museu de Ornitologia em Goiânia, chamando atenção para o desaparecimento das araras-azuis. Ele desenhou e desenvolveu casinhas artificiais para auxiliar na nidificação das aves.
Em Aurilândia, Nunes relata que foram observadas algumas razões para o sucesso desses ninhos artificiais, como:
Alimentação: A presença de coqueiros de guariroba, bacuri e baruzeiros, que fornecem alimento para as aves.
Proteção e Conscientização: Fazendeiros locais se conscientizaram e passaram a proteger as árvores que oferecem alimentos e locais de nidificação para as araras.
Combate ao Tráfico de Animais: A ação dos fazendeiros ajudou a reduzir o tráfico de animais na região, contribuindo para a preservação da espécie.
Atualmente, estima-se que existam entre 40 e 50 casais de araras-azuis na região. “Observa-se que, ao instalar casinhas artificiais próximas umas das outras, um ninho pode ser disputado por 5 a 6 casais de araras, o que demonstra a alta demanda por locais seguros de nidificação”, explica o conservacionista Nunes D’ Acosta.
A prefeitura local tem dado apoio a esses esforços de conservação, mas o trabalho de um homem só tem sido fundamental para a proteção e conservação das araras-azuis na região. Embora não esteja atualmente listada como “em perigo crítico” ou “extinta”, a arara-azul enfrenta ameaças significativas que incluem a perda de habitat, a captura ilegal para o comércio de animais de estimação e a fragmentação populacional. A conservação e os esforços para proteger e restaurar seu habitat natural são essenciais para a sobrevivência da espécie.
Atualmente, a ave está classificada como uma espécie vulnerável na Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature). Segundo a plataforma SALVE do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, no Brasil há 256 espécies ameaçadas de extinção.
Araras-azuis
As araras-azuis são aves sociais que vivem em família, bandos ou grupos. É difícil encontrá-las sozinha em vida livre. Elas são aves conspícuas e apresentam certa fidelidade aos locais de alimentação e reprodução. Jovens e casais não reprodutivos se reúnem em dormitórios, que além de proteção, parecem funcionar como verdadeiros “centros de troca de informações”. Estão entre as aves mais inteligentes do grupo das aves.
Podem medir até 1 m (da ponta do bico a ponta da cauda), sendo a maior espécie no mundo da família Psittacidae. Adultos podem pesar até 1,3 kg, porém filhotes podem atingir até 1,7 kg no período de pico de peso.
Possuem plumagem na cor azul-cobalto, degradê da cabeça para a cauda, sendo preta a parte inferior das penas das asas e cauda. Possui amarelo intenso ao redor dos olhos (anel perioftálmico), pálpebras e na pele nua em torno da base da mandíbula. O bico é grande, maciço, curvo e preto, formando quase um círculo com a cabeça. A língua espessa e preta chama atenção pela faixa amarela nas laterais.