Conheça a obra dos magistrados goianos que se dedicam também à literatura
14 abril 2024 às 00h01
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A palavra é festa, falta de pudor.
Coisa-pulsante-flor que explode!
Secreta labareda do meu sangue.
Reino, quimera e caos.
Brutal como o enigma
entre os albores da terra
Flor que e aviva entre os dedos da primavera.
Água que flutua no escuro. Cristal terrível,
Anjo em ruínas. Sonho decapitado.
Imperecível, voraz — és tu, poesia!
Anjo em Ruínas, Gabriel Nascente
Um poeta pode ser tanto alguém que escreve poesia como alguém que vive e experimenta a vida com sensibilidade poética. Na literatura brasileira, foram muitos os grandes escritores que também exerciam a magistratura, a exemplo de Bernardo Guimarães. Nesta dualidade de carreiras, ele foi acompanhado pelos também bacharéis em Direito: Ruy Barbosa, Bernardo Guimarães e Eça de Queiroz. Em Goiás, destacou-se a figura do poeta Antonio Félix de Bulhões Jardim, que ocupou diversos cargos na magistratura do Estado.
Atualmente, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) é um celeiro de grandes escritores e poetas. Por mais que algum deles possa não ter publicado poesia ainda, pode se dizer poeta pela maneira de ver o mundo. E escritor por capturar a essência da experiência humana através das palavras. O Jornal Opção conversou sobre a vida e a obra de alguns magistrados goianos que se dedicam também ao nobre ofício da escrita. Conheça: Abílio Wolney Aires Neto, Itaney Francisco Campos, José Carlos de Oliveira, Luiz Cláudio Veiga Braga e Ney Teles de Paula.
Os estudantes do Direito muitas vezes se destacavam no meio literário, em parte devido à sua formação educacional, mas também devido à sua capacidade de análise crítica e argumentativa, habilidades essenciais tanto para a prática jurídica quanto para a escrita. Além disso, a própria natureza do Direito, com sua ênfase na interpretação de leis, na argumentação e na análise crítica, sempre proporcionou uma base sólida para a escrita literária, especialmente em gêneros como ensaios, crônicas e até mesmo romances que exploravam questões legais e éticas.
Luiz Cláudio Veiga Braga contou ao Jornal Opção que sempre teve inveja de quem é poeta. “Como eu não sou poeta, não sei escrever poesia, então, passei para essa variante [crônica] para escrever alguma coisa, para dizer alguma coisa, para ser avaliado por alguma coisa e talvez até para tentar amenizar a minha frustração de não ser poeta”. No livro “Sobre Deuses e Homens”, o desembargador Veiga Braga escreve crônicas sobre o dia-a-dia, abordando questões políticas, jurídicas e culturais.
Além disso, comentou sobre novidades na entrevista, como a inauguração da pinacoteca no TJGO e sua posse como Presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). O segundo evento será o mais próximo, sendo realizado no fim do mês, 30 de abril. Já a pinacoteca funcionará como um grande acervo cultural artístico em Goiás e será inaugurada no início de maio.
Veiga Braga assume o biênio (2024/2026) no TRE no lugar do desembargador e poeta Itaney Francisco Campos. Autor dos livros “Inventário do Abstrato (poesia)”; “Antônio Theodoro S. Neiva, um esforço biográfico”; “Notícias históricas de campinas (ensaio)”, Itaney também participou de várias coletâneas literárias das entidades a que pertence, dentre elas a União Brasileira de Escritores (UBE).
Em entrevista à reportagem, Itaney fala sobre suas principais referências na vida e na escrita. “Eu escrevo desde que me entendo por gente. Em casa, papai tinha uma biblioteca razoável, com Castro Alves, Casimiro de Abreu, José de Alencar, Machado de Assis, Monteiro Lobato, entre outros. Fui me aproximando dos autores ainda na adolescência e passei a me dedicar intensamente à leitura e literatura. Passei a ler autores universais e depois me aproximei da literatura regional”.
Abílio Wolney também é outro ativo escritor, juiz, palestrante e professor. O magistrado é neto do político Abílio Aires Wolney, que teve atuação destacada na política de então, em Goiás e na Bahia. O famoso deputado lutou contra a opressão policial em um famoso episódio retratado na obra do imortal Bernardo Élis, “O Tronco”.
Abílio Wolney Aires Neto é natural de Dianópolis (TO), titular da 9ª Vara Cível de Goiânia e escritor com 15 títulos publicados, dentre eles três títulos da área jurídica e os demais de história e literatura. “Em cinco livros, retrato os episódios da obra o Tronco, onde você tem uma novela, com todo o cenário de paixão, de poder, de combate, além da mistura do trágico com a emoção. E os outros 10 livros são biografias de personalidades goianas/tocantinenses e versos de poesia e prosa”.
E por fim, o Jornal Opção também ouviu o desembargador José Carlos de Oliveira, que falou sobre seus mais de 40 anos em sala de aula, sua vida como escritor, magistrado e sonhador. O professor José Carlos lançou neste ano o livro de crônicas “Textos e contextos de uma revisitação” em que registra episódios inusitados de sua vida de magistrado no interior de Goiás.
Com 6 obras publicadas, Ney Teles de Paula também é um importante magistrado-escritor do Tribunal de Justiça. No entanto, aposentou-se voluntariamente em 2021 e não pôde falar com o Jornal Opção por problemas de saúde.
Em Goiás, entre os primeiros patronos da Academia Goiana de Letras, fundada no ano de 1904, em Vila Boa, e renascida em Goiânia, no ano de 1939, está Félix de Bulhões. Conheça um pouco mais sobre a história da magistratura goiana, sobre a vida e obra dos magistrados goianos que se dedicam também à literatura.
Itaney Francisco Campos
“Papai era um homem de escritório, promotor de justiça, sempre foi minha referência. Proporcionou a todos os 7 filhos a possibilidade de leitura. Fez biografias, artigos e perfis de personalidades como Aideno Ayres, Augusto Rios e Colemar Natal e Silva”, conta Itaney. Além da referência em casa, o desembargador, poeta e escritor também cita algumas referências locais e nacionais que o inspiraram na escrita.
Na literatura goiana, ele citou autores como Vitor de Carvalho Ramos, Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis, Edival Lourenço, José Godoy Garcia, Afonso Felix de Souza, Leda Selma, Ubirajara Galli e Cora Coralina.
“Li muito Castro Alves e Gonçalves Dias, grandes poetas românticos. Depois, fui para o parnasianismo, lendo Raimundo Corrêa e Olavo Bilac, e, por fim, no período moderno, li quase toda a obra de Carlos Drummond de Andrade. Não posso deixar de citar Fernando Pessoa, talvez o maior de todos da língua portuguesa, mas sem esquecer de Camões. Escrevi muitos poemas no estilo camoniano”, explica Itaney.
Inicialmente, ele me contou sobre sua mais recente viagem, em Belo Horizonte, Minas Gerais (MG), onde participou de uma peça teatral e importantes debates como presidente do TRE. Segundo ele, todos os tribunais regionais terão um centro de integridade, combate à desinformação e defesa da democracia nas próximas eleições.
A transformação digital, a internet e as redes sociais impulsionaram o acesso às informações, mas ao mesmo tempo contribuíram para a disseminação de fake news. “Na rede social também há vida cultural. No geral, a tecnologia revolucionou os costumes, as formas de comunicação. Da mesma forma que deu espaço para a tolice, comentários ofensivos, fake news, deepfake, por outro lado possibilitou maior comunicação em temas de importância social e cultural. O que se lamenta é que muitas vezes se perde tempo lendo bobagem nas redes sociais, ao invés de se ler um bom livro”, destaca Itaney.
Após me apresentar as obras autorais, ele conta que participa de muitos grupos com leitores e escritores goianos. Apesar de não haver muita divulgação, há vários movimentos e reuniões de intelectuais, escritores e artistas goianos. Para além da literatura, também reflete sobre o desconhecimento da sociedade em relação à história de Goiás.
“Ninguém acredita que em Goiânia tem vida literária inteligente”, brinca. “Se não há conhecimento do passado, não se conhece o presente e não se tem base para conhecer o futuro. Fica-se nessa grande ignorância da nossa realidade histórica local, nossos valores e cultura. José Godoy Garcia, por exemplo, quase ninguém conhece, mas era uma grande figura”.
Augusto Rios também foi outro importante poeta e magistrado goiano. “Lembra-se de todos os autores de outros lugares, mas não se lembra dos escritores de Goiás. Goiás tem tido uma posição secundária que decorre da falta de maior peso político e econômico, o que reflete no campo da representação”, analisa o magistrado.
Para ele, no entanto, o maior poeta-magistrado goiano foi Antônio Félix de Bulhões. “Ele estudou em São Paulo e foi muito ativo no combate ao escravagismo, trazendo isso para Goiás. Ele é conhecido como o Castro Alves de Goiás, pois combateu a escravidão da mesma maneira”, pontua Campos.
Outro importante nome citado por Itaney é Cileneu Marques de Araújo Vale, conhecido pelo pseudônimo de Leo Lynce, foi um advogado, político e poeta brasileiro. É considerado um dos precursores do Modernismo em Goiás e foi o introdutor da poesia moderna no Estado, introduzindo versos brancos, mais livres, sem métrica formal e rima obrigatória.
Ele também é erudito no gosto musical e questionado sobre diz que gosta ouvir música popular brasileira, jazz e bossa nova. No Nordeste, diz que também há bons nomes na música contemporânea e cita como exemplo a cantora Mariana Aydar. É assinante mensal da Revista Piauí e está escrevendo outro livro, um conjunto de 100 poesias.
Sobre o mercado editorial brasieiro, ele relata que sente falta de uma grande editora, além de comentar com tristeza o fechamento das livrarias no País, especialmente em Goiânia. “As pessoas não compram livros e as livrarias não conseguem se manter”. Dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL) mostram que em 2014 existiam 3.095 livrarias no país; em 2021, eram 2.200. Isso significa que, no Brasil, uma livraria ou mais encerra suas atividades a cada três dias.
Uma de suas obras, Avenida Araguaia, Rio de memória, foi, carinhosamente, concebida em coautoria. O texto da orelha da capa é de Raquel Campos, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e filha de Itaney Campos. A capa foi feita por outra filha que é designer. Ele divide a escrita com seu irmão, Ítalo Campos, psicólogo especialista em psicologia clínica e psicanalista. No livro, eles dividem lembranças e memórias afetivas de uma “infância (quase) feliz”.
A avenida Araguaia tem início no Centro, na avenida Tocantins (que é a principal), altura da praça da Bandeira, local do prédio que hoje abriga o Museu Dom Prada Carrera, na época sede da Prefeitura de Goiânia. A história, arquitetura e geografia goiana são marcas presentes na obra do autor, que também integra o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG).
Na coleção de textos recolhidos Sobre Partilha da Tarde, Itaney convida o leitor à imersão em si mesmo, refletindo sua enorme bagagem literária, e mostrando-se um exímio observador da natureza humana. Em todos os textos, é possível um econtro ou reencontro com a cultura em sua mais exata tradução.
Currículo
Itaney Francisco Campos é natural da cidade de Uruaçu/GO, filho do promotor de Justiça e professor Cristovam Francisco de Ávila e de Selenita Campos de Ávila. Ingressou na Magistratura estadual no ano de 1982. Promovido por merecimento para a Comarca de Goiânia em 1992, ascendeu ao Tribunal de Justiça, como desembargador, em 2008. Pós graduou-se em história cultural e é mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás. Foi Juiz Eleitoral da 136ª Zona eleitoral de Goiânia, por dois anos, e também exerceu o mandato de Conselheiro da ASMEGO – Associação dos Magistrados do Estado de Goiás. Atualmente exerce o cargo de Desembargador, integrando a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Já ocupou a presidência da Comissão Permanente de Memória e Cultura do Poder Judiciário do Estado de Goiás. No ano de 2016 foi eleito para ocupar a cadeira nº 37, da Academia Goiana de Letras – AGL. Foi professor universitário e autor dos livros: Inventário do abstrato (poesia); Antônio Theodoro S. neiva, um esforço biográfico; Notícias históricas de campinas (ensaio); Sobre Partilha da Tarde, entre outros.
‘O ato absoluto’ – Itaney F. Campos
O homem, quando se transveste em fera
e mata um outro homem, rudemente,
reprisa a ruptura de uma prisca era
quando, pelo fruto, fez-se perdida a semente.
O homem, quando mata, apaga a chama
sagrada da promessa original,
torna à queda, prova do fruto envenenado,
faz escorrer pelo esgoto a energia vital.
É como se curvasse ao fado amaldiçoado
da desgraça humana; e assumisse o fardo
de semear, na face da terra, o obscuro
instinto da maldade; o enigma do cardo.
Quando mata, tropeça o insensato
no mal supremo, pois que morre a humanidade
naquele que finou; e o ódio, destilado,
macula o universo, pulsante na unidade!
Luiz Cláudio Veiga Braga
Com 182 páginas, o livro “Sobre Deuses e Homens” é uma seleção de artigos e crônicas publicados por Luiz Cláudio nos principais jornais de Goiânia, organizado pelo jornalista Bruno Rocha e ilustrado por Wendel Reis, também responsável pela arte e design. O escritor Geraldo Coelho Vaz assinou a apresentação do livro. Já o escritor e jornalista Hélio Rocha assinou o texto da “orelha”.
“Praticamente de 15 em dias eu publicava crônicas em jornais. Incentivado por alguns amigos, acabei juntando esses textos e editando esse livro, minha primeira e única obra até agora. Eu costumo dizer “cuidado com o homem de um livro só, é perigosíssimo”, brinca o presidente da Comissão de Memória e Cultura do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Segundo ele, há a pretensão de escrever uma obra mais adensada futuramente.
O livro se estrutura em duas partes. A primeira é representada pelo primoroso discurso de posse no cargo de desembargador do TJGO e por parte de sua obra no livro Orações do Tempo da Justiça, do poeta e desembargador Itaney Campos. Na segunda parte, de forma poética, vai contando casos do cotidiano, desde alegrias até profundas mágoas.
“Antes de opção profissional e instrumento de sobrevivência, fui contagiado pelo amor ao debate, à visão plural dos homens e do mundo e à busca incessante do equilíbrio entre as partes, das garantias da lei e a perseguição da Justiça possível. A justiça não pode corrigir todos os males, mas pode ser pedagógica, apontar caminhos e, sobretudo, mostrar-se como possível”, disse Veiga Braga em seu discurso de posse.
Coelho Vaz, na apresentação, assim definiu a obra: “Temas valorizados pelo inconformismo com a situação de seu tempo, dos fatos históricos registrados pelas mãos e mentes do escritor, propondo visões novas, numa linguagem precisa, espontânea que agrada o leitor”. Já o autor descreve o livro com humildade, dizendo que é “modesto e despretensioso”.
Veiga Braga é um homem que vive cultura, respira cultura e promove cultura. Como presidente da Comissão de Memória e Cultura, ele promove tardes-noites de autógrafos de colegas e de pessoas que não são do judiciário, mas têm interesse em ocupar o espaço cultural para esses momentos. Ele dá seguimento a essa atividade, não apenas realizando em si mesmo, mas também apoiando a publicação de outros.
“E cada expositor, cada artista que faz a sua exposição gratuitamente, tem uma contrapartida: ele é obrigado a deixar dois exemplares da sua arte. Assim, nós vamos construindo nossa pinacoteca, que já conta com inúmeros trabalhos, inclusive de Siron Franco, abrangendo os mais variados segmentos artísticos”, explica o desembargador sobre as exposições.
Luiz Cláudio Veiga Braga também integra o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe). Na área social, também tem papel importante na defesa dos desprotegidos da justiça. Aproveita a oportunidade da entrevista para divulgar um livro de uma amiga que precisa de ajuda na luta contra o câncer. Em 2018, Elína Borges constatou um câncer raríssimo e uma metástase desenganada. “Ela não se entregou. Ela parte para a luta e vence o invencível”, explica Veiga Braga.
Ele conta ao Jornal Opção que começou na escrita há praticamente 10 anos. “E nesse período, eu fui incentivado por amigos, por exemplo, do Bruno, do Hélio, do Geraldo, do Aldenor, do próprio Itaney, do Abilio, que eu escrevesse, publicasse. E fui, de forma ainda muito acanhada, fazendo esses artigos, essas crônicas, e depois fundi e condensei nesse livro [Sobre Deuses e Homens]”.
Ele sempre gostou muito de poesia. É um adepto da poesia, e Drummond e Vinícius são os seus poetas prediletos. “Este processo de escrita é de humanização. Lidar com temas tão sanguinolentos, dos princípios, dos cultos, tráfico, enfim, toda uma série de delitos, pode ser desafiador. A literatura me humaniza, faz com que eu não fique, de forma alguma, imune ou insensível”, reflete.
Para ele, a literatura é uma forma de se compreender a realidade. O porquê se comete tanto crime, o que leva as pessoas a cometerem tantos delitos e às vezes delitos que são monstruosos. “É uma forma de entender com sensibilidade as pessoas para você não cair em uma lógica punitivista, entender que isso é o produto do fato, de forma maquinal”, sem saber o que é que leva, por que que alguém foi levada”.
Questionado sobre qual seria sua crônica preferida da obra, ele responde “A Morte de Piaf”. O texto não é sobre ela, mas faz referência a morte de Piaf. Ele diz que Bibi Ferreira representou Piaf no teatro com uma perfeição irretocável. Como ele gostava muito de Piaf e escutava o dia inteiro, sentiu-se inspirado a escrever sobre. “Quando Bibi Ferreira morreu, ela era a grande diva do teatro e representou com maestria Piaf. Aí, escrevi a crônica sobre a morte de Bibi, traçando uma comparação entre ela e Piaf, onde eu digo que foi a segunda morte de Piaf”.
Currículo
Natural de Goiânia-GO, formou-se em Direito pela Faculdade Anhanguera de Ciências Humanas. Em 1983, ingressou no Ministério Público do Estado de Goiás, atuando nas comarcas de Mossâmedes, Crixás, Porto Nacional e Goiânia. No ano de 2009, assumiu o cargo de Desembargador do TJGO, pelo Quinto Constitucional. Integra e preside a 2ª Câmara Criminal e a Seção Criminal. Também é presidente da Comissão de Memória e Cultura e da Comissão Permanente de Segurança do TJGO, compondo ainda o Conselho Editorial da Revista do Judiciário Estadual. A partir de abril de 2024, passa a integrar a presdiência do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, como 1º suplente de desembargador. É membro da Academia Goianiense de Letras, ocupando a Cadeira número 19.
Abílio Wolney Aires Neto
Abílio tem como maior referência literária a mãe, poetisa e escritora Irany Wolney, que lança agora seu quinto livro. “Agora, na literatura brasileira, o que me impressionou muito foi Os Sertões de Euclides da Cunha, porque eu faço um paralelo dele com o livro O Duro e a Intervenção Federal, nesses meus cinco livros da coleção. Eu gosto muito da pegada do Guimarães Rosa. E, embora um crítico literário de O Tronco, foi ele a grande inspiração para que eu pudesse fazer a minha pesquisa da coleção dos cinco livros do Barulho, que são os livros mais eloquentes e mais expressivos da minha produção”.
Inquieto na busca pelo conhecimento, é mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento, pós-graduado em Direito Processual Civil e conta que está concluindo um curso de jornalismo. Ele diz que o retorno tem sido mais na área de pesquisas universitárias, onde os livros têm sido referência em estudos de doutorado, mestrado e trabalhos de conclusão de curso (TCC). Há 3 anos, relembra a oportunidade de fazer uma palestra em Goiânia e reunir muita gente da União Brasileira de Escritores. “Isso me repercutiu, porque foi trazida a Goiás essa versão histórica, real, daquilo que era apenas uma ficção no Tronco de Bernado”, pontua Abilio.
Os fatos narrados no livro acontecem na então chamada Vila do Duro, situada no Norte do Estado de Goiás, hoje município de Dianópolis, pertencente ao Tocantins. A trama aborda as rixas entre os chefes políticos da região, que, apoiados por deputados e por exércitos de jagunços fortemente armados, disputam o poder e a influência sobre vastos territórios. Na Vila do Duro, um poderoso coronel comete um homicídio. A punição ao culpado se revela difícil, tendo em vista que comanda a vida local à força das armas e das intimidações.
A violência e o interesse pessoal, a ganância e o orgulho: essa é a linguagem que permeia as atitudes e relações; assim, é impossível traçar com clareza as linhas que separam a lei do abuso, os heróis dos criminosos. “Ele ficciona a respeito dos episódios que aconteceram em 1919. Na ficção, as pessoas têm mais interesse na história”, explica Abílo.
No entanto, toda a obra de Bernardo carrega uma denúncia contra a diferença social, o abandono do antigo norte goiano, a pobreza do ruralista e o trabalho braçal no campo. Os temas são presentes em “A Enxada”, “André Louco” e “O Tronco. Toda obra é de protesto e denúncia”.
“O sistema oligárquico que vigorava no Brasil na época era o Imperio da República, a transição do Império para a Velha República. O Nordeste não tinha instituições. O cangaço nordestino foi um episódio de crimes bárbaros. O brabo setentrional, o brabo do norte, prestava a sua brabeza e sua força para fazer justiça onde as instituições não chegavam. Bernardo denuncia isso e o meu livro tem exatamente essa pegada porque trata desse episódio do Tronco, que por si já é uma denúncia eloquente desse abandono do antigo norte goiano”, acrescenta o juiz e escritor.
Hoje, com a divisão do Estado do Tocantins, ele conta que a cidade dele quadruplicou de tamanho. As cidades evoluíram muito. ” Agora, o Brasil como o todo, ainda continua tendo quase 60% de pobres, principalmente no interior e também nas periferias da capital. Então, essa injustiça social ainda é a denúncia que vem de Bernardo, que vem de qualquer escritor que retrata esse drama humano”, reflete Wolney.
Em 2022, o Brasil teve 67,8 milhões de pessoas na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da queda em relação a 2021, o percentual de pessoas pobres no Brasil se manteve acima do nível de 2020 (31%).
“Quem está no poder não está preocupado com distribuição de renda e justiça social. São exceções, ainda se cultiva essa política de conseguir votos, de um modo ou de outro, clientelista. A justica social continua sendo agrida e acontece pq tem uma base de piramide muito larga pra baixo e lá em cima uma oligarquia às vezes em forma de democracia. Um século depois, melhoramos, mas o ranço continua aí e segue a hegemonia de alguns grupos”, finaliza Abílio Wolney.
“Estamos em busca da realidade e a história, dizia Cícero, ―é a pedra de toque que desgasta o erro e faz brilhar essa verdade‖. Assim, vamos numa trajetória que a própria história não pôde apagar… E que nos permite o despontar de situações, ou melhor, de novos aspectos dela, porquanto a omissão da verdade glorifica a injustiça”, diz o escritor em sua obra “O barulho e os mártires”.
Livros publicados: Princípios Constitucionais Juizados, Arbitragem e Mediação (2009), O Princípio da Razoável Duração do Processo(Dissertaçao de Mestrado pela PUC-GO) e dos livros históricos-literários: No Tribunal da História (2009, 2ª ed.), O Duro e a Intervenção Federal-Relatório ao Ministério da Guerra (2006), O Barulho e os Mártires(2012, 2ª ed.), O Diário de Abilio Wolney (2009, 2ª ed., 2019, 4• ed. e 2020 5• ed.) Movimento Comunista – Liga Camponesa, 1962 (2011, 2ª ed.), A Chacina Oficial (2012, 2ª ed.), Memórias de João Rodrigues Leal (2013, 2ª ed.), estes publicados pela Editora Kelps – Goiânia-GO, além do livro Um Homem Além do Seu Tempo (Múltipla Gráfica e Editora, 1ª e 2ª ed., 2009) e do livro A Cidade de Ana-Anapolis, Kelps, 2017 e do livro Abilio Wolney na Bahia, Barreiras, 1919 a 1938, Kelps, 2019.
Currículo
É membro da ULA – União Literária Anapolina e titular da cadeira 2 da Academia de Letras de Dianópolis-TO – ADL. Titular da Cadeira II da Academia de Letras de Anápolis – ANALE e Membro Fundador da Academia de Letras do Brasil – Seção Anápolis – ALBA. Titular da cadeira 22 do IHGG-Instituto Histórico e Geografico de Goiás. Membro da UBE – União Brasileira de Escritores, de cujas instituições participou em antologias com poemas e textos. Ocupa uma das cadeiras do Instituto Bernardo Élis-INCEBE e a cadeira 7 da ALETRAS – Academia de Letras de Águas Lindas de Goiás. É correspondente da Academia de Letras de Bela Vista de Goiás. É Membro honorário do Gabinete Litterario Goiano (Cidade de Goiás) . Natural de Dianopolis-TO, é filho do Cartorário Zilmar Povoa Aires e da poetisa e escritora Irany Wolney Aires.
José Carlos de Oliveira
De origem humilde, o magistrado coleciona diversas histórias inspiradoras, não só enquanto juiz, mas como ser humano. Entre as diversas experiências, o juiz José Carlos viveu a feliz coincidência de trabalhar como servente de pedreiro na construção do Fórum de Serranópolis e, décadas depois, ser homenageado como magistrado na inauguração do novo prédio.
O desembargador José Carlos de Oliveira lançou no início do ano o livro de crônicas “Textos e Contextos de uma Revisitação”, cuja renda foi revertida ao Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ). O prefácio foi feito pelo Gabriel e a apresentação foi feita pelo Emílio Vieira. “Ele foi meu professor, foi meu aluno e foi meu orientador”, conta José Carlos.
A coleção traz na capa a ilustração de uma sala de aula, porque antes de magistrado, José é professor, ofício que exerce há mais de 41 anos. Ele conta que isso foi após exercer várias profissões, desde auxiliar de pedreiro, professor na rede pública do estado, advogado até carreira no Ministério Público. “Lecionei no ensino superior e estou há 41 anos como professor na PUC. Hoje mesmo ministrei aula”, compartilha o desembargador.
A maior referência dele é o pai. De baixa classe social, realizou somente os 4 primeiros anos do ensino fundamental, o chamado ensino primário na época. “Meu pai era autodidata. Na década de 40, ele era professor de roça nas chamadas escolas rurais, onde os fazendeiros contratavam professores, sendo um deles meu pai. Ele tinha uma escola em casa, era conhecido como professor Zé, disciplinador e rígido na exigência. Na época tinha palmatória”, relembra Jose Carlos.
Posteriormente, ainda na infância, se mudou para Jataí, onde morava também na zona rural. “Meu pai me alfabetizou, alfabetizou a minha irmã, um primo, e alguns vizinhos da zona rural. Ele não cobrava de ninguém. Quando eu fui pra escola regular, eu tinha quase 9 anos e já sabia todos os conteúdos: português, matemática, regência, conjugação, regra de 3, números decimais. Meu pai já havia me ensinado tudo”. Em Jataí, como não tinha formação para ser professor, o pai foi trabalhar como carroceiro.
Jose Carlos conta que tem mais de 30 mil ex-alunos. “Às vezes você tem aqui no Tribunal diariamente 20 ou 30 sustentações por dia. Ao menos 10 advogados sempre comparecem e falam para mim ‘eu fui seu aluno há 20, 30, 40 anos atrás. Meu pai foi seu aluno, meu avô foi seu aluno’. Isso é impagável”. O amor pela educação está tanto no ensino como nas memórias. Questionado sobre qual crônica do livro seria sua favorita ele cita “Anjos da Terra”, cuja temática diz muito sobre a importância da educação em sua vida.
“Foi a mais marcante para mim porque essa mulher, chamada de Anjo da Terra, foi um divisor de águas na minha vida porque graças a solidariedade dela eu pude continuar e não desistir dos estudos. Descobri muitos anos depois que ela se chamava Doralice Carvalho Gedda. Na década de 60/70 ela me concedeu uma bolsa de estudos e fui matriculado em uma instituição particular de alto nível mantida pela Igreja Presibeteriana, o Instituto Samuel Grahan”, conta Jose Carlos com emoção.
Currículo
O desembargador José Carlos de Oliveira é integrante e presidente da 2ª Câmara Cível e também compõe a 1ª Seção Cível e a Comissão de Jurisprudência e Documentação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Ele também faz parte da Comissão Permanente de Cultura e Memória do TJGO. Possui pós-graduação lato sensu em docência universitária pela Universidade Católica de Goiás e Mestrado em Direito do Estado no Estado Democrático de Direito pela Universidade de Franca-SP, concluído em 21/03/2003, atuando com Juiz de Direito no Tribunal de Justiça Do Estado de Goias, desde 18/04/1986 e professor principalmente nos seguintes temas: execução definitiva, execução específica, exceção de pré-executividade, execução de quantia certa contra devedor insolvent, embargos do devedor e recursos.
Ney Teles de Paula
Ney Teles de Paula iniciou na magistratura em 7 de março de 1978 como juiz adjunto da comarca de Goiânia. Depois, passou pelas comarcas de Caiapônia, Bom Jesus de Goiás, Jataí, e, novamente, Goiânia. Em 26 de janeiro de 2001, assumiu o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Nos anos de 2009 e 2010, o desembargador exerceu, respectivamente, os cargos de vice-presidente (com acúmulo do cargo de corregedor eleitoral) e presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). À frente da Justiça Eleitoral, foi o responsável por incluir Goiânia entre as duas primeiras capitais do País a realizar o cadastramento biométrico de seus eleitores.
Natural de Piracanjuba, foi juiz nas cidades de Morrinhos. Goiatuba, Bom Jesus de Goiás, Jataí e Goiânia. É membro da Academia Goiana de Letras e já presidiu o TRE. Tem, como obras publicadas: os seguintes títulos: “Dimensões do Efêmero, 1976; Antônio Americano do Brasil (biografia); A Rosa paradisíaca e outros escritos”; Moacir Teles, o sentido de sua morte nos textos dos jornais (história); A escada de Jacó e outros escritos” e “Memorial do efêmero”, em que reivista a infância com ternura.