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O debate sobre saúde mental é cada vez mais necessário, sobretudo em períodos de preparação para vestibulares. Nesse cenário, estudantes lidam com grande volume de conteúdos, cobranças e expectativas próprias e externas, fatores que podem potencializar quadros de ansiedade, estresse e insegurança emocional. 

Para a coordenadora pedagógica da plataforma Redação Nota 1000, Amanda Pontes Rassi, o Setembro Amarelo representa uma oportunidade não apenas de reforçar a importância da prevenção ao suicídio, mas também de ampliar o diálogo sobre saúde mental em diferentes espaços sociais. “Para os estudantes, esse debate é duplamente relevante, uma vez que promove bem-estar individual e coletivo, ao mesmo tempo em que fornece referências valiosas para a redação do Enem e de outros vestibulares”, destaca. 

Segundo ela, o tema tem ganhado espaço em exames como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), tanto em propostas de redação quanto em questões objetivas. Um exemplo foi a redação de 2020, cujo tema foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. De acordo com a especialista, o principal desafio dos candidatos naquele ano foi compreender, de maneira precisa, o conceito de “estigma”. 

“Muitos estudantes limitaram-se a uma abordagem genérica sobre doenças mentais, sem explorar de forma aprofundada como o preconceito e a discriminação impactam a vida das pessoas que convivem com esses transtornos”, explica. Segundo a especialista, essa dificuldade resultou, em alguns casos, em textos superficiais ou que fugiam parcialmente da proposta. Outro equívoco recorrente foi a confusão entre os conceitos de “doença mental” e “transtorno psicológico”. 

Nesse sentido, discutir saúde mental em sala de aula é fundamental, pois além de oferecer repertório sociocultural sólido para a produção textual, contribui para uma formação integral, que reconhece a saúde emocional como parte inseparável do aprendizado. 

Diante disso, a especialista lista alguns dos principais temas que podem ser abordados nas redações de vestibulares sobre saúde mental. Confira: O papel da escola na promoção da saúde mental de crianças e adolescentes; O impacto das redes sociais e da tecnologia na saúde mental dos jovens; Caminhos para a promoção de uma relação saudável entre a cultura do desempenho e a saúde mental dos trabalhadores; Desafios para a criação de políticas públicas de atenção psicossocial; As consequências da negligência familiar e estatal na saúde mental da população idosa. 

Veja abaixo 5 obras consideradas referência sobre saúde mental que podem ser repertório cultural para a redação.

1- Filme “Bicho de Sete Cabeças”, direção de Laís Bodanzky (2001)

O filme “Bicho de Sete Cabeças”, dirigido por Laís Bodanzky e lançado em 2001, expõe de forma crua os abusos cometidos em instituições psiquiátricas brasileiras e o estigma enfrentado por pessoas com transtornos mentais ou usuários de drogas. Inspirado no livro autobiográfico Canto dos Malditos, de Austregésilo Carrano Bueno, a obra acompanha a trajetória de Neto, interpretado por Rodrigo Santoro, um jovem internado pelo pai após ser flagrado com um cigarro de maconha.

A narrativa revela a violência física e psicológica sofrida pelo personagem dentro do hospital, a incompreensão familiar e o impacto da exclusão social. O enredo destaca a relação conflituosa entre pais e filhos em um contexto de autoritarismo, ao mesmo tempo em que denuncia o tratamento desumano dado a pacientes em manicômios antes da implementação da Reforma Psiquiátrica no Brasil.

2- Livro “O Lado Bom da Vida”, de Matthew Quick (2008), e sua adaptação cinematográfica (2012)

O livro “O Lado Bom da Vida”, escrito por Matthew Quick e lançado em 2008, aborda os desafios da saúde mental e da reinserção social a partir da história de Pat Peoples, um ex-professor internado em uma instituição psiquiátrica após um surto. Ao sair do hospital, ele tenta reconstruir a vida, retomar o relacionamento com a ex-esposa e encontrar um novo sentido para a existência. A narrativa, em tom leve e sensível, mostra as dificuldades de lidar com transtornos mentais, o peso do estigma social e a importância dos vínculos afetivos.

A obra ganhou notoriedade mundial em 2012, quando foi adaptada para o cinema no filme “O Lado Bom da Vida” (Silver Linings Playbook), dirigido por David O. Russell. A adaptação conta com Bradley Cooper no papel de Pat e Jennifer Lawrence como Tiffany, uma jovem que também enfrenta traumas pessoais. A produção equilibra drama e comédia romântica ao mostrar a improvável amizade e posterior romance entre os dois personagens.

3- Livro “As Vantagens de Ser Invisível”, de Stephen Chbosky (1999) e filme (2012)

O livro “As Vantagens de Ser Invisível”, escrito por Stephen Chbosky e publicado em 1999, tornou-se um marco da literatura juvenil ao abordar temas delicados como adolescência, depressão, traumas e a busca por pertencimento. A narrativa acompanha Charlie, um adolescente introspectivo que escreve cartas anônimas relatando sua rotina, seus medos e descobertas. No decorrer da trama, ele cria laços de amizade com colegas mais velhos, como Patrick e Sam, e passa a vivenciar experiências típicas da juventude — festas, primeiros amores e descobertas pessoais — enquanto lida com lembranças dolorosas e crises emocionais.

A adaptação cinematográfica foi lançada em 2012, também sob direção e roteiro de Stephen Chbosky, o que garantiu fidelidade ao espírito da obra original. O elenco conta com Logan Lerman no papel de Charlie, Emma Watson como Sam e Ezra Miller como Patrick. O filme reforça o tom sensível do livro, retratando a importância da amizade, do acolhimento e do diálogo no enfrentamento de questões emocionais que afetam os jovens.

4 – Série “Euphoria” (Classificação indicativa: 18 anos), de Ron Leshem (2019)

Fonte: Pôster de divulgação 

A série “Euphoria”, criada por Ron Leshem e lançada em 2019 pela HBO, rapidamente se consolidou como um dos retratos mais impactantes da juventude contemporânea. Classificada para maiores de 18 anos, a produção acompanha a vida de um grupo de adolescentes que enfrentam dilemas marcados por vícios, crises de identidade, saúde mental, sexualidade e relacionamentos conturbados.

A narrativa é conduzida principalmente pela personagem Rue Bennett, interpretada por Zendaya, uma jovem que lida com a dependência química e com as consequências emocionais de seus traumas. Ao redor dela, outras trajetórias revelam diferentes aspectos da adolescência: a pressão estética e social, a violência nos relacionamentos, o uso problemático das redes sociais e as dificuldades em lidar com a própria identidade.

5- Filme “Garota, interrompida”, de James Mangold (1999)

O filme “Garota, Interrompida”, dirigido por James Mangold e lançado em 1999, é baseado nas memórias de Susanna Kaysen, relatadas no livro homônimo. A obra acompanha a jovem Susanna, interpretada por Winona Ryder, que após uma tentativa de suicídio é internada em um hospital psiquiátrico nos anos 1960. Durante sua estadia, ela convive com outras pacientes que apresentam diferentes transtornos mentais, incluindo a carismática Lisa, interpretada por Angelina Jolie.

A narrativa questiona os limites entre normalidade e doença, explorando a subjetividade do que é considerado comportamento “adequado” ou “desviante” pela sociedade e pelo sistema de saúde. O filme aborda temas como depressão, transtorno de personalidade e os efeitos da institucionalização, oferecendo uma reflexão sobre estigmas e preconceitos associados à saúde mental.

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