Resultado de uma confluência étnico-racial em diferentes contextos e vertentes, a cultura negra é muito presente no Brasil. Música, festas, artesanato, culinária e folclore que nasceram desta comunidade é algo importante no país com mais pessoas negras fora da África.

Desde a chegada dos primeiros habitantes no planalto central, dos escravizados e dos descendentes de portugueses e do branco europeu construiu e consolidou a chamada cultura caipira. Vindouros de todas as regiões brasileiras e trazendo consigo os traços culturais e identitários também ajudaram na construção de Goiânia.

Após a abolição da escravatura em 1888, os negros libertos não tiveram acesso à terra, à educação ou à cidadania plena. Eles continuaram marginalizados e discriminados pela sociedade branca e elitista, que os excluía dos espaços públicos e dos cargos políticos.

Os negros goianos tiveram que se adaptar à cultura dominante, mas também preservaram e recriaram elementos de sua identidade africana, como as religiões de matriz africana (candomblé, umbanda, etc.), as manifestações culturais (congada, capoeira, samba, etc.) e as expressões artísticas (música, literatura, pintura, etc.).

A cultura preta em Goiás enfrentou, no século XX, desafios e oportunidades. A construção de Goiânia e Brasília atraiu muitos migrantes negros para o estado, mas também provocou o êxodo rural e a perda de tradições.

Por outro lado, surgiram movimentos sociais e culturais que reivindicaram os direitos e a valorização dos negros goianos, como o Movimento Negro Unificado (MNU), o Centro de Cultura Negra do Estado de Goiás (CCNEG) e o Instituto do Negro Padre Batista (INPB).

Goiás tem, em sua história, personalidades negras que foram relevantes para a cultura do Estado e do país. Veja a lista:

Leodegária de Jesus

Entre os nomes mais relevantes para a cultura negra goiana está o de Leodegária e Jesus. Nascida em Caldas Novas, Leodegária foi a primeira mulher a publicar no Estado. Durante o século XX, a professora, redatora de jornal e poeta viveu na então capital, Cidade de Goiás. Na cidade, a poeta publicou “Corôa de Lyrios”.

Em 1910, Leodegária se mudou para Catalão e, após isso, acabou indo para Minas Gerais. A poeta tratava uma cegueira progressiva e, por conta disso, se mudou por diversas cidades em busca de tratamento. Em 1921, a goiana fundou o Colégio São José, destinado a educar as moças da cidade. Em todas as cidades que passou atuou ora como professora, ora como mestre-escola.

José do Patrocínio Marques Tocantins

Um dos principais abolicionistas da Província de Goiás no século XIX, José do Patrocínio Marques Tocantins atuou, principalmente, na imprensa, onde fundou o jornal O Publicador Goyano, que debatia a abolição. O jornalista também foi redator do Correio Official de Goyaz, ligado aos atos do governo provincial, além de ter atuado como redator, editor e sócio n’A Tribuna Livre e como redator no Goyaz, os últimos dois eram vinculados à oligarquia Bulhões e às ideias do Partido Liberal.

Durante o Império, era comum que pessoas negras livres frequentassem diversos espaços sociais. Em Goiás, por exemplo, isso acontecia desde as primeiras décadas do século XIX. José do Patrocínio nasceu livre, em 1844. Sua mãe, D. Anna do Espírito Santo Marques, vendia quitandas e empadão goiano. Já seu pai acredita-se que faleceu por diabetes, pouco depois de receber alforria, deixando José órfão já com poucos meses de vida.

José do Patrocínio curso Mineralogia. No Rio de Janeiro, prestou serviços ao Jornal do Commercio e ao Diario do Rio. Após passagem pelo Instituto de Música do Rio de Janeiro, fundou e regeu em Goiás a Banda de Música da Guarda Nacional (1864) e a Orchestra Philarmônica (1870).

Chica Machado

De Niquelândia, Chica Machado foi uma mulher escravizada que conseguiu acumular riquezas e utilizou seu poder para comprar e libertar outros escravizados. Respeitada por agricultores e grandes fazendeiros, Chica Machado foi responsável por muitas decisões importantes.

Com o outro que acumulou, a mulher oferecia a escravizados um novo começo. Muitos desses libertos continuaram trabalhando para Chica, mas como pessoas livres. Chica se tornou um símbolo de resistência e superação. Mesmo em contexto de desigualdade e escravidão, a goiana conseguiu influenciar positivamente a sociedade.

Pai João de Abuck

João Martins Alves, conhecido como Pai João de Abuke, nasceu em Petrolina (data de nascimento e origem divergente) e morreu em Goiânia, em 2007. Pai João foi percursor do candomblé em Goiás e o primeiro Babalorixá (Zelador de orixá) do Estado. Pai João teve como filha a também a ialorixá Tereza de Omolu.

Nascido na Bahia, chegou a Goiás na década de 60, quando pouco se sabia sobre o candomblé. Mesmo com a oposição da polícia, Pai João conseguiu abrir sua casa, no qual foram iniciados filhos que também são babalorixás e Yalorixás.

Sua casa era localizada no Setor Pedro Ludovico onde foi zelador por mais de 50 anos. Pai João, foi o primeiro ancestral do estado, falecendo no dia 20 de setembro de 2007, devido a consequência de um derrame.