Confira ‘erros’ que levaram à queda de Vélez do MEC
08 abril 2019 às 17h35
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Bolsonaro anunciou troca na manhã desta segunda-feira, 8, via Twitter
O Ministro da Educação, agora “ex”, Ricardo Vélez Rodríguez, teve uma passagem turbulenta pela pasta. Foram diversas “caneladas”, como o presidente disse sobre si próprio em pedido de desculpas, que o desgastaram nesses 90 dias de atuação.
Talvez um dos principais motivos para o desligamento tenha sido a pressão feita pela deputada federal, Tábata Amaral (PDT-SP), no último dia 27, para que o ministro apresentasse e discutisse propostas. Na época, a parlamentar classificou a prestação de contas de Vélez, feita na Comissão de Educação da Câmara, como “lista de desejos”.
“Em um trimestre, não é possível que o senhor apresente um powerpoint com dois, três desejos para cada área da Educação. Cadê os projetos? Cadê as metas? Quem são os responsáveis? Isso daqui não é planejamento estratégico, isso é uma lista de desejos. Eu quero saber onde que eu encontro esses projetos? Quando cada um começa a ser implementado? Quando serão entregues? Quais são os resultados esperados? São três meses, a gente consegue fazer mais do que isso”, disse parlamentar que teve o vídeo viralizado na rede.
Nessa época, veículos de comunicação já tinham adiantado que o Bolsonaro (PSL) demitiria o ministro, mas o presidente disse que a informação era falsa. “Sofro fake news diárias como esse caso da ‘demissão’ do Ministro Velez”, publicou no Twitter. Isso 12 dias antes do anúncio desta segunda, 8.
Há três dias, a imprensa noticiou novamente que Jair sinalizava para a dispensa do ministro, mas não houve tuite.
Outros erros
Porém este não foi o único desgaste de Vélez. No fim de fevereiro, uma mensagem do Ministério da Educação (MEC), assinada pelo ministro solicitava que as escolas tocassem o hino para alunos e que estes gravassem. Além disso, na carta também era pedido que os gestores lessem o slogan de campanha de Bolsonaro. Após críticas, recuo. Em nota Ricardo reconheceu o “equívoco”.
Um dia depois da posse, em 2 de janeiro, o MEC publicou um edital que tirava dos livros didáticos (por meio de alteração do Programa Nacional do Livro Didático), entre outras coisas, a obrigação de que a obra estivesse “isenta de erros” e de “incluir revisões bibliográficas”. Também suprimia a parte que incentivava o combate à violência contra a mulher e a inclusão da cultura quilombola.
Segundo o órgão, após críticas, o MEC afirmou que a alteração foi feita pela gestão anterior. Rossieli Soares, ex-ministro da pasta, negou. As mudanças foram anuladas.
KGB, Leninismo e Marxismo
Também no começo do mês, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), que tem em seu site a TV Ines, apagou vídeos após a posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que contavam a história de personagens como Friedrich Nietzche, Marilena Chauí e Karl Marx. O Ines é ligado ao Ministério da Educação (MEC), que disse que a ação foi tomada sem autorização e que também foi feita não neste ano, mas em abril e novembro do ano passado.
Porém, por meio do verificador google é possível ver que o vídeo foi retirado do ar (o programa Manuário – Karl Marx) no dia 2 de janeiro.
A nota emitida pelo ministro, à época, disse o seguinte: “Ao contrário do que quer fazer crer o colunista, ludibriando dessa forma os leitores do jornal O Globo, durante a sua vida como docente, o ministro da Educação sempre ensinou e defendeu a pluralidade e o debate de ideias, recusando-se a adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos, que eram próprios de organizações como a KGB, o serviço secreto do governo comunista na antiga União Soviética, que na década de 1960, quando de sua fuga do Brasil para a Rússia, protegeu e forneceu identidade falsa para o colunista de O Globo. Na época, segundo ele próprio declarou em entrevista ao site da Associação Brasileira de Imprensa em 2009, Ancelmo Gois foi treinado em marxismo e leninismo na escola de formação de jovens quadros do partido comunista soviétivo”, diz a parte final.
Trocas e Olavo
No fim do mês passado, o então ministro também demitiu o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, que teve sua exoneração publicada no dia 26 de março. Vélez acusou Rodrigues de puxar o tapete após o ex-funcionário do Inep cancelar a avaliação federal de alfabetização de crianças.
Rodrigues chegou a dizer nunca ter tido uma reunião com Vélez nesses quase três meses e que não há comunicação dentro do MEC. Ele disse também que o secretário de Alfabetização do ministério, Carlos Nadalim, o tinha respaldado na decisão.
Vale destacar que tiveram 15 saídas na Educação, entre exonerados e aqueles que pediram demissão em menos de 90 dias. Ricardo disse, à época, que essas mudanças seguiam critérios técnicos.
O escritor e guru bolsonarista Olavo de Carvalho, que teria sido responsável pela queda de seis funcionários do MEC. Também em março, fez referências a uma possível saída do ministro no dia 11 do mês passado e em seguida negou – ressalta-se que o próprio Olavo indicou Vélez.
Primeiro, ele disse que “só a renovação TOTAL e sem complacências pode salvar a educação brasileira. Recomendei o ministro Velez, mas, se ele cair no erro monstruoso que mencionei no post anterior, PONHAM-NO PARA FORA (sic)”.
Depois: “Não quero derrubar ministro nenhum. Apenas apresentei pessoas, sem a menor pretensão de influenciá-las (sei que isto é inimaginável para o pessoal da mídia, para quem influenciar é orgasmo). O ministério é do Velez. Que o enfie no @#”.
Tem mais
O ministro, ainda em janeiro, chegou a dizer “a ideia de universidade para todos não existe”, mas depois ele afirmou que defende um ensino básico de qualidade que garanta, sim, “universidade para todos”.
Em outro momento, Vélez classificou o brasileiro, em viagens, como “um canibal”. “Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”, afirmou e, inclusive, foi notificado pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, a prestar esclarecimentos. Em 18 de fevereiro, ele pediu desculpas, via Twitter.
“Amo o Brasil e o nosso povo, de forma incondicional, desde a minha chegada aqui, em 1979 e, especialmente, desde a minha naturalização como brasileiro, em 1997. A entrevista à revista colocou palavras minhas fora de contexto. Peço desculpas a quem tiver se sentido ofendido”, disse.