Era um sábado, 2 de outubro de 2021, eu, com 22 anos de idade, partia para minha primeira viagem sozinho. Ao meu lado, mais ou menos três estranhos que dividiriam apartamento comigo em Zagreb, na Croácia. Mas vamos voltar um pouco no tempo.

Aos 19 anos, em 2018, me mudei de Araguaína, no Tocantins, para Goiânia em uma tentativa de realizar um dos meus sonhos (jovens tem vários) — o de me tornar jornalista. Tudo bem, cheguei, estudei e, em agosto de 2021, recebi um e-mail às 4h18 da manhã, horário estranho, achei que era spam, mas era meu outro sonho se tornando realidade.

Luan Monteiro é repórter do Jornal Opção. | Foto: Arquivo Pessoal

Nesse e-mail estava anexado uma carta de aceite escrita por um dos meus professores e amigos que fiz nessa jornada de 14 meses. Na carta, escrita por Neven Šipić em nome da Poslovno veleučilište Zagreb, estava escrito: você foi aprovado por uma bolsa de estudos em nossa universidade, esteja aqui no dia 4 de outubro.

Nesse mesmo dia se iniciou uma corrida contra o tempo. Renovar passaporte, comprar passagem, comprar seguro, procurar moradia em um país no qual nunca havia ido e, mais importante, me despedir de todos que eu deixaria para trás. Imagine, um jovem de 22 anos, estagiário, com pouco dinheiro, fazer tudo isso? Também achei que era impossível.

Mas enfim, no dia 21 de setembro, pouco depois de um mês que recebi a primeira carta, estava tudo pronto e tudo parcelado (hoje, quatro anos depois, ainda pago as parcelas) e, naquele dia 2 de outubro, entrei em um avião com um destino: Zagreb.

Nem tudo foram rosas a princípio. Era um voo longo e dos aprovados para a bolsa de estudos éramos quatro, mas eu era o único que não era de São Paulo e o único que iria ter conexão em Frankfurt, na Alemanha. Mas isso, para mim, não era um problema. Porém, para a Alemanha talvez seria.

Ao chegar em Frankfurt eu, totalmente perdido, corri para conseguir chegar em uma conexão de 2h30 mas, infelizmente, não consegui. Era época de pandemia, tudo era extremo em todas as checagens e acabei ficando 1h20 para deixar o avião. Por conta disso, acabei perdendo minha conexão.

Quando isso aconteceu, percebi que tudo ia piorar. No guichê da Lufthansa, que vendia as passagens operadas pela Croatia Airlines, me falaram: “Você não pode embarcar, você não tem visto”. Pensei: “Como assim? eu posso entrar na Europa, meu passaporte é brasileiro”. Mas não adiantava. Não era o meu dia.

Como se tudo isso não fosse o suficiente, era um sábado atípico, todas as redes sociais regidas pela Meta não estavam funcionando e eu estava em um país onde não conhecia uma pessoa sequer. O que me restou? Enviar e-mails até que Neven (sim, ele voltou para a história) conseguiu falar com o dono da Croatia Airlines e me fez embarcar, chegando em Zagreb quatro horas após o combinado.

Cheguei na cidade, que hoje é a minha favorita no mundo, próximo da meia noite com alguns minutos para encher uma barriga que estava vivendo de cerveja e Doritos há dois dias mas, infelizmente, não consegui por problemas de câmbio (só aceitavam Kuna Croata e eu só tinha Euro).

Em Zagreb eu tinha que escolher uma dessas duas opções: ou vivo a cultura ou apenas estudo. Escolhi viver a cultura. Os primeiros dias foram complicados, pouco dinheiro, muita vontade. Saí, conheci a cidade. Mas uma coisa que gosto muito de fazer é ouvir as conversas ao meu redor, e por conta da barreira linguística eu não conseguia. Então, naquele primeiro dia tomei uma decisão: aprender croata.

Era meu primeiro semestre e, como praxe, teria que ter uma aula de “introdução à língua croata” com a professora Dorotea Milas. Ela, ao ver que tinha quatro brasileiros em uma sala de oito alunos, decidiu usar o método Paulo Freire. A princípio, aprendemos palavras como “stol” (mesa) “rezervirati” (livro) e, após certo tempo, “riža” (arroz) e “piletina” (frango), que passei a usar todos os dias no restaurante estudantil.

O alfabeto croata sempre foi a maior dificuldade. São 30 letras, mas depende. As letras “c”, “d”, s” e “z” eram as mais complicadas. Todas tinham o som que pareciam com entonações diferentes da nossa letra “g” mas, depois de muita prática, aprendi.

Outra dificuldade foi diferenciar letras básicas com “j” (que tem som de ‘I’) ou o “Đ”, com o risco (que tem som de “dj” fraco) ou o “h” (que tem som de “rr”), onde você basicamente arranha sua garganta. Então sim, é um processo, e não é fácil mas, no fim, vale a pena.

Quando se aprende uma língua dos Balcãs você, na verdade, aprende três línguas dos Balcãs (Sérvio, Bósnio e Croata). Mas o mais importante é perceber que um idioma, por mais difícil que pareça, te ajuda a conectar com a população que te acolheu.

Mas meu ponto é: croata, como qualquer outro idioma, se aprende ouvindo, tentando decifrar cada palavra falada e cada repetição. A Croácia, por menos conhecida que seja, é um dos países mais maravilhosos do mundo e a experiência só pode ser vivida 200% se você entender ao menos um pouco da bagunça que lá chamam de idioma (é bonito e vale a pena).

Para mim, o croata foi um desafio ainda maior, pois eu estava em um lugar onde, sim, todos falavam inglês, mas como segundo idioma. Porém muitas pessoas talvez não falariam. Foi minha forma de abraçar realmente a cultura do país que me deu a oportunidade de estudo e, com isso, abriu mais portas ainda para meu futuro profissional e acadêmico.

Hoje, a Croácia é um país dependente de mão de obra estrangeira. Com o custo de vida baixo e os salários médios suficiente para se ter boa qualidade de vida, o país pode se tornar uma alternativa excelente. A educação é de ponta, a segurança é perfeita e, mais importante, o custo de vida é baixo suficiente. Logo, aprender croata pode ser uma boa opção.