Com vídeos curtos e rasos, TikTok ganha força como instrumento político
16 setembro 2023 às 20h30
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O TikTok, rede social bastante usada na comunicação política durante a campanha eleitoral de 2022, tem ganhado cada vez mais força como instrumento político contemporâneo. Entre os campeões de audiência, estão personalidades como Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, Kim Kataguiri, deputado federal (União-SP), e Topázio Neto, prefeito de Florianópolis (PSD-SC).
Esse fenômeno ganhou força definitiva em 2018, quando a internet se tornou o principal instrumento de comunicação de Jair Bolsonaro na caminhada ao Palácio do Planalto. A proposta de entretenimento com vídeos curtos e humorísticos do TikTok foi adaptada para o contexto eleitoral e obteve sucesso para o ex-presidente, que conseguiu se eleger mesmo sem um grande espaço de propaganda na televisão.
De acordo com o relatório Eleições no “For You”: um estudo de caso sobre a campanha eleitoral de 2022 no TikTok, a forma como a duração e ritmo dos vídeos curtos divergem entre usuários(as) de diferentes espectros políticos. Para o estudo, vídeos alinhados à esquerda tendem a ser mais longos, enquanto aqueles produzidos por candidatos(as) de direita tendem a ser mais curtos e com uma linguagem mais “simples”, usando jargões que comunicam com a massa.
Embora seja superprodutivo (somente neste ano postou 585 vídeos curtos na plataforma), o ministro Alexandre Padilha costuma abordar mais assuntos sérios no Tiktok. Entre os temas dos vídeos de Padilha, estão atos do governo federal, discursos, entrevistas e notícias, entre outras coisas. Só de vez em quando arrisca algum vídeo mais descontraído.
O deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos mais populares na rede, com 4,8 milhões de seguidores, fez sucesso recentemente com um vídeo de doze segundos no qual o parlamentar usa um efeito de calvície para imitar o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A piada com teor ofensivo passou de 5,7 milhões de visualizações.
Outro que investe na mesma linha é Kim Kataguiri, pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Ele chegou até a postar sua participação numa partida on-line, onde recebeu o total de 6 000 curtidas. Um dos vídeos mais famosos do catarinense Topázio Neto mostra o prefeito almoçando num restaurante popular. O registro obteve mais de 2 milhões de visualizações. “Se você tiver apertado de grana, não fique com receio de almoçar aqui”, diz Topázio.
Assim como Facebook, Instagram e Twitter, o TikTok firmou parcerias com o TSE para monitorar e remover campanhas de desinformação durante as eleições de 2022. A rede chinesa possui protocolos de moderação semelhantes aos das demais big techs e seu algoritmo de distribuição de conteúdo é considerado menos ideologicamente enviesado do que os de concorrentes, com diretrizes mais rígidas para perfis de políticos e partidos
TikTok e Polarização Política no Brasil
O DDoS Lab, Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB), da Universidade Federal Fluminense (UFF), mapeou, entre outubro de 2018 e março de 2022, políticos brasileiros com conta no TikTok. De acordo com o estudo, 300 políticos tem contas na plataforma, dos quais 265 (88,3%) mantêm contas ativas. Esses 265 políticos foram responsáveis pela publicação de 23.139 vídeos no total.
O Relatório “TikTok e Polarização Política no Brasil” é de autoria de Viktor Chagas e Luiza de Mello Stefano, pesquisadores do coLAB. A pesquisa mostra que o partido com maior número de políticos com contas no TikTok é o Partido dos Trabalhadores (N = 47, equivalente a 16,3% da amostra). Em seguida, vêm o União Brasil (N = 28, 10,8%) e o Partido Liberal (N = 27, 9,4%). Se levados em consideração somente os deputados federais, o PT possui 26 políticos com contas no TikTok, o que representa 47,2% de sua bancada. Já o União Brasil possui 24 políticos com contas ativas, o que totaliza 44,4% de sua bancada. PL e PSB possuem 13 deputados federais com contas ativas na plataforma cada um, o que representa, respectivamente, 16,7% e 56,5% de suas bancadas.
O estudo concluiu que há quase duas vezes mais políticos de direita no TikTok em relação ao número de políticos de esquerda, que tendem a receber menos visualizações nos conteúdos publicados.