Com minas e novo centro de pesquisa, Catalão busca se tornar a capital brasileira das terras raras

26 agosto 2025 às 11h18

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O Sul de Goiás, já é referência na mineração nacional por extrair rocha fosfática, matéria-prima essencial para a produção de fertilizantes, e nióbio, usado em superligas e tecnologia de ponta. Em 2024, a mineradora chinesa CMOC, produziu 10.024 toneladas de nióbio em Catalão, equivalente a 11% da produção global. O metal tem a Europa, as Américas e a Ásia, com a China na liderança do consumo.
Agora, Catalão, busca fortalecer a presença no setor criando um centro avançado de pesquisas em terras raras — grupo de elementos químicos usados na confecção de condutores, motores e turbinas eólicas, e imprescindível para a indústria bélica. O primeiro passo foi dado na última quarta-feira, 20, aniversário de 166 anos da cidade. Na ocasião, o vice-governador do Estado, Daniel Vilela (MDB), anunciou a criação de um centro de excelência em terras raras em parceria com a Universidade Federal de Catalão (UFCAT), o Centro de Pesquisa em Processamento Mineral (CPPMin).
A decisão de intensificar a exploração de terras raras acontece enquanto Estados Unidos e China aceleram a corrida pela liderança nas indústrias tecnológica, automotiva e bélica. Em 23 de julho, em ao tarifaço imposto por Donald Trump, o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, recebeu representantes do Instituto Brasileiro de Mineração. Segundo o instituto, os Estados Unidos estão interessados em realizar acordos com o Brasil para a aquisição de terras raras, consideradas estratégicas.
O Brasil tem a segunda maior reserva dos 17 elementos químicos que compõem o grupo das terras raras, atrás apenas da China, e grande parte dos minerais se encontram em Catalão. O município possui principalmente cério, lantânio, neodímio e praseodímio. “É uma bênção divina termos esses elementos químicos presentes em nosso município”, diz o professor e doutor André Carlos Silva, pesquisador da UFCAT e referência nacional no tema. “A maldição é que separar esses elementos é uma tarefa árdua, um dos grandes desafios tecnológicos da atualidade.”
O anúncio do governo estadual de que Catalão receberá investimentos para a construção de um centro de excelência em minerais e terras raras encheu André Carlos de otimismo. Há 13 anos ele e a professora e doutora Elenice Schons, especialista em flotação de minerais, atuam no Laboratório de Modelamento e Pesquisa em Processamento Mineral (LaMPPMin) da UFCAT. Hoje, o laboratório é referência na América Latina em desenvolvimento de rotas de processamento e análises de minerais, e já é procurado por pesquisadores americanos e europeus. “Para transformar o laboratório em um centro de excelência, precisamos basicamente de uma coisa: investimento”, afirma o professor.
O Centro de Pesquisa em Processamento Mineral (CPPMin) foi criado a partir da Chamada Pública Fundação de Amparo a Pesquisa de Goiás (Fapeg). A expectativa é captar cerca de R$ 15 milhões junto aos governos estadual e federal, além da iniciativa privada, para a compra de equipamentos e contratação de pessoal. O recurso deve ser utilizado para adquirir cinco equipamentos de ponta, inexistentes fora da capital, Goiânia.
Dentro da mineradora chinesa CMOC, instalada em Catalão, uma máquina recentemente montada chama a atenção. Fruto de uma parceria entre a empresa HONEST da China, CMOC e a UFCAT, o equipamento custou cerca de 500 mil dólares e utiliza inteligência artificial para recuperar nióbio, que antes era descartado como estéril. “A máquina consegue selecionar os minerais que nos interessam e descartar os demais. Para isso ela usa um feixe de raios-x.”, explica André.
A proposta é de que o CPPMin não seja de uso exclusivo da universidade e empresas privadas, mas que fique aberto à comunidade científica e empresarial, podendo até analisar amostras vindas de outros países.

O prefeito de Catalão, Velomar Rios, conversou com André Carlos e Elenice Schons, pesquisadores que percorrem o Brasil e o mundo em busca de investimentos para a cidade. “Agora, vocês encontraram mais um parceiro no projeto: a Prefeitura de Catalão. Vamos ajudar no que for possível para a busca de investidores”, disse Velomar, após receber informações dos pesquisadores sobre terras raras e a corrida global pelos minerais críticos e estratégicos.
Ao contrário das opiniões de que a CMOC, instalada em Catalão, apenas extrai os minerais e envia para outros países, André aponta que há aí um erro de informação. A empresa também realiza a verticalização da produção, com a metalurgia do nióbio, na qual transforma o minério em produto de alto valor agregado: a liga ferro-nióbio, destinada para a exportação. A ambição agora é repetir o modelo com as terras raras. “Queremos não só fabricar o produto, mas também vender o serviço”, explica André. “A visão é clara: atrair empresas interessadas em tecnologia mineral, fomentar e fortalecer a capacidade de inovação.”