Em recente aproximação junto a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o país avança frente a Estados latino-americanos

O presidente colombiano Juan Santos participa de sessão no Parlamento europeu | Foto: Juan David Tena/SIG

A Colômbia é um país complexo. É dotado de paisagens de tirar o fôlego e praias paradisíacas. Grande parte do seu território é formado pela densa selva que ocupa a região, fato que concentra a população em locais urbanos determinados. Contudo, contrasta todas estas qualidades com o histórico de luta contra o poder do narcotráfico e os efeitos danosos da corrupção. Para tanto, o governo colombiano busca medidas para transformar este passado amargo em um futuro próspero, social e economicamente. E vem dando certo.

Segundo o internacionalista e diretor executivo do Observatório de Democracia do Parlamento do Mercosul, Alexandre Andreatta, a “Colômbia hoje é o segundo país mais populoso da América do Sul e a quarta maior economia latino-americana”. “Esses dados por si só já representam a atual importância do país no cenário internacional.” Portanto, recorremos ao diretor para sanar algumas dúvidas sobre o assunto.

Gostaríamos que fizesse um breve panorama sobre o processo eleitoral colombiano. Quais os reflexos desse pleito, com desdobramentos incomuns, para o país? Quais as consequências e desafios para o processo de paz na região?
Na Colômbia, o voto não é obrigatório. Portanto, essas duas últimas eleições (do Executivo e Legislativo) são históricas. Primariamente porque o país historicamente elegeu seus presidentes entre o dualismo dos partidos liberais e conservadores, e pudemos testemunhar neste pleito uma grande variedade de candidatos na disputa. Disputaram Germán Vargas Lleras (Mejor Vargas Lleras), Gustavo Petro (Colômbia Humana), Humberto de la Calle (Partido Liberal Colombiano), Ivan Duque (Centro Democrático), Sergio Fajardo (Compromiso Ciudadano) e Jorge Trujillo (Todos somos Colômbia).

Em segundo lugar, esse é o primeiro processo eleitoral pós-Acordo de Havana. O atual mandatário, Juan Manuel Santos Calderón, vem logrando o fim de um conflito interno de cinco décadas. Por conta deste feito, Santos recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2016. Seu governo também negocia a paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo guerrilheiro expressivo da Colômbia.

A partir do Acordo de Havana, o agora Partido Força Alternativa Revolucionária do Comum apresentou 23 candidatos para as eleições legislativas de março, obteve 52.532 votos para o Senado e 32.636 para a Câmara. Os votos não foram suficientes para eleger mais representantes além do firmado no acordo de paz, que garante cinco cadeiras no Senado e cinco cadeiras na Câmara independente da votação obtida nestas eleições.

Entretanto, são significativos dada a participação política do grupo. O ex-líder, Rodrigo Londoño Echeverri (Timochenko), teve a possibilidade de ser candidato pelo movimento político para o qual o grupo armado fez a transição, mas retirou sua candidatura por problemas de saúde.

A questão é: o próximo presidente – e o Congresso a ser formado – terá a possibilidade de consolidar de vez o processo de paz, expandindo também para um acordo com o ELN? Resta saber em quais condições ele buscará consolidar esse processo.

Após conturbados períodos no fim dos anos 1980 e ao longo da década de 1990, em razão da guerrilha e do narcotráfico, hoje é possível perceber a Colômbia como um país pacificado e estável? Se sim, que mecanismos institucionais, políticos, sociais e econômicos contribuíram? Como você avalia a ascensão política da Colômbia? Seria um reflexo das ações do presidente Santos, Nobel da Paz, ou do alinhamento com os Estados Unidos?
É evidente que os acordos de Havana contribuíram para o desarmamento e a transformação das Farc em partido político. Porém, o acordo parte de um processo, e todo processo não é finito, mas essencial para se alcançar uma paz estável e duradoura. A questão é quão suficiente esse processo será. Desde 2016 – ano em que foi firmado o Acordo de Havana -, próximo de sete mil homens e mulheres – segundo a Unidade para as Vítimas (UV) – deixaram de combater. As mortes pelo conflito que chegavam a 3 mil por ano reduziram-se para 78.

A entrega de armas às Nações Unidas, a transformação do grupo armado em um partido político, bem como a redução das mortes no conflito acentuam esse processo. Entretanto, o acordo vigora há pouco mais de dois anos e o vencedor em 17 de junho poderá seguir com ele ou rechaçá-lo. Essas eleições seguem marcadas pela preocupação com a relação que o vencedor terá com o acordo. Somente depois das eleições será possível vislumbrar análises mais realistas a respeito do tema.

A Colômbia se aproximou recentemente de duas importantes organizações internacionais: OCDE e Otan. Quais os impactos disso para o país?
É importante entender que a Colômbia não integrará a Otan. O país é parceiro da organização desde 2013. Em que pese as notícias dos últimos dias, o Ministério de Defesa colombiano já participa de um programa de cooperação com a Otan. O presidente Juan Manuel Santos Calderón participará de uma reunião em Bruxelas que formalizará a parceria. É evidente que essa relação apresenta uma série de questionamentos que devem ser melhor analisados.

Referente a OCDE, significa que a Colômbia continua sinalizando a boa vontade do país em aderir a políticas pró-mercado. A adesão à organização não apenas possibilita a captação de recursos no exterior a taxas de juros menores como busca apresentar o país como um importante “player global” que cumpre e compartilha de “boas práticas” públicas assentadas no livre comércio, fortalecendo laços com os países desenvolvidos em detrimento de projetos de cooperação com países em desenvolvimento ou de cooperação Sul-Sul.

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