Coletivo defende protestos e diz que fala de Thais Azevedo é “nociva ao ambiente acadêmico”

08 junho 2017 às 10h37

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Grupo feminista ligado à UFG garantiu que movimentos contra a palestrante foram espontâneos e começaram quando ela se recusou a responder perguntas
O coletivo feminista Pagu, criado na Universidade Federal de Goiás (UFG), se manifestou em nota sobre a polêmica da expulsão de Thaís Azevedo, editora da página “Moça, eu não sou obrigada a ser feminista”. Segundo o grupo, não houve agressão e ela saiu da sala quando “achou conveniente”, embora a nota admita que alguns dos presentes chegaram a fazer um cordão humano para que ela deixasse o local.
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Ressaltando não concordar com ações pautadas em agressão e abuso da força, o coletivo afirmou que os protestos contra a manifestante foram uma ação espontânea, que não teve prévia organização e começaram quando ela se recusou a interromper a palestra para responder perguntas. “Ao ser questionada sobre seus posicionamentos, disse a um rapaz para “calar a boca” e sair da palestra”, relata.
Segundo o coletivo, o grupo tentou por várias vias impedir que a palestra ocorresse no ambiente da faculdade, por entender que a fala de Thais seria “nociva ao ambiente acadêmico”. “Foram analisados vários vídeos e textos da palestrante convidada, a fim de identificar se neles ocorreria ou não violação aos direitos humanos, discriminação e intolerância.”
“Após deliberação, houve consenso no sentido de que o discurso seria nocivo ao ambiente acadêmico, principalmente em função do formato de tal palestra, que não previa debate nem discussão”, argumentaram. Além disso, acrescenta a nota, Thais tem “completo despreparo e desconhecimento a respeito das pautas e reivindicações feministas e representam um desserviço à construção coletiva de conhecimento”.
Garantindo ter prezado por não silenciar mulheres, o coletivo disse só ter atuado contra a palestra porque as opiniões dela “se escondem atrás de argumentos sem embasamento, fomentando o preconceito e o escárnio de minorias políticas”. “Discurso este totalmente imerecedor do destaque que se confere a pessoa que se propõe a palestrar no salão nobre da Faculdade de Direito da UFG.”
Como não obtiveram resposta positiva da Faculdade de Direito e da própria UFG, resolveram fazer um evento paralelo no jardim do prédio para marcar sua posição contrária. Depois que ouviram relatos da discussão dentro da sala, pessoas “individual e coletivamente” resolveram começar a cantar e proferir palavras de ordem para protestar.
Confira a nota do coletivo:
NOTA DO COLETIVO PAGU SOBRE A PALESTRA “DESMASCARANDO O FEMINISMO” REALIZADA DIA 05/06/2017
Há cerca de uma semana, o Coletivo Feminista Pagu tomou conhecimento de uma palestra que ocorreria no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFG, com o título “Desmascarando o Feminismo”, no dia 05 de junho de 2017 (segunda-feira). A partir de então, o Coletivo iniciou articulação interna para tomada de posicionamento e providências quanto ao evento. Destaque-se que inúmeros estudantes da Faculdade de Direito procuraram o Coletivo Pagu para buscar mais informações e saber se algo seria feito a respeito, pois, a julgar pelo conteúdo da página do Facebook gerida pela palestrante, o discurso que seria promovido em tal palestra seria de intolerância e ódio.
Foram analisados vários vídeos e textos da palestrante convidada, a fim de identificar se neles ocorreria ou não violação aos direitos humanos, discriminação e intolerância. Após deliberação, houve consenso no sentido de que o discurso seria nocivo ao ambiente acadêmico, principalmente em função do formato de tal palestra, que não previa debate nem discussão. O completo despreparo e desconhecimento da palestrante a respeito das pautas e reivindicações feministas, defendidas por este Coletivo, também representam um desserviço à construção coletiva de conhecimento, uma vez que as críticas da palestrante ao feminismo são pautadas em práticas como a ridicularização de pessoas gordas, lésbicas e vítimas de violência doméstica, nos termos da Lei Maria da Penha; discurso este totalmente imerecedor do destaque que se confere a pessoa que se propõe a palestrar no salão nobre da Faculdade de Direito da UFG.
O Coletivo Pagu deliberou internamente sobre a adoção de medidas para mudar o formato da palestra, para que houvesse abertura para perguntas e discussões. A todo momento, o Coletivo prezou por não silenciar nenhuma mulher por suas opções ideológicas. Contudo, quando essas opiniões se escondem atrás de argumentos sem embasamento, fomentando o preconceito e o escárnio de minorias políticas, alguma mediação deve ser feita.
Assim, agimos em consenso, pelas vias administrativas da UFG, para mudar o formato da palestra, com requerimento de urgência no Conselho Diretor (órgão deliberativo da Faculdade de Direito) que aconteceria na sexta-feira, dia 2 de junho de 2017. Na ocasião, vários professores apoiaram a ação. Junto ao requerimento, tínhamos vários exemplos do discurso destrutivo da palestrante, instruindo o pedido de mudança no formato da palestra. O Conselho Diretor, por falta de quórum, não ocorreu.
Foi feito novo requerimento, endereçado ao Diretor da Faculdade de Direito, para que o formato da palestra fosse mudado e que houvesse debate. Contudo, o pedido foi indeferido.
Em sua última tentativa, o Pagu procurou a Reitoria da UFG, tendo uma reunião com a Reitoria da UFG. Da mesma forma, não obtivemos resultados práticos, pois a Reitoria argumentou que tal problema se tratava de assunto da Faculdade de Direito, que deveria ser resolvido internamente.
No mesmo dia, o Sr. Reitor ligou para o diretor da Faculdade de Direito, asseverando que o evento deveria ocorrer com mediação, e que algum(a) professor(a) faria tal papel. Contudo, a direção da faculdade não fez o aconselhado, por entender que “nenhum professor estaria disposto”, mesmo sem ter questionado todos os professores da Faculdade para tal tarefa.
Com isso, o evento acabaria por ocorrer nos moldes iniciais: um monólogo sobre como “Desmascarar Feministas”.
Diante das negativas em mudar o evento, o Coletivo Pagu, em conjunto com vários outros grupos de Goiânia, deliberou que não haveria forma melhor de combater o preconceito do que fazendo nosso próprio evento no térreo do prédio, no jardim da Faculdade, com música, dança e arte. O Coletivo enfeitou a faculdade com balões, luzes e vários cartazes feministas.
Assim, no dia 5 de junho, haviam muitas pessoas participando da “Festa Feminista” no jardim da faculdade, enquanto alguns viam a palestra. Os que assistiam a palestra relataram que, após 15 minutos do começo, começou uma discussão no salão nobre, de alguns dos ouvintes com a palestrante. O desentendimento teria acontecido pois a palestrante não concordava com perguntas, não queria nenhuma interrupção. Ao ser questionada sobre seus posicionamentos, disse a um rapaz para “calar a boca” e sair da palestra.
Diante de tal atitude, várias pessoas, individual e coletivamente, se posicionaram com indignação em relação às suas atitudes grosseiras e intolerantes para com os ouvintes. Nesse momento, várias pessoas já estavam de pé, discutindo com a palestrante, e mais pessoas começaram a entrar no salão.
Os movimentos que estavam espalhados na faculdade se concentraram na palestra, de maneira natural, pela confusão que já havia sido criada. Coletivos e indivíduos que lá estavam proferiram palavras de ordem, entoaram canções e dançaram a fim de se impedir que o discurso de ódio imperasse no ambiente acadêmico, uma vez que liberdade de expressão não equivale a liberdade para proferir ofensas descabidas e provocações desarrazoadas, intolerância e ódio.
Como conclusão desta nota, o Coletivo entende que, mesmo que as circunstâncias do protesto não tenham ocorrido de forma previamente esperada e deliberada, há legitimidade de manifestação daqueles que foram afrontados com aspereza e desrespeito pela palestrante.
O Coletivo Pagu afirma que não houve nenhuma organização prévia para a ação, que ocorreu de maneira espontânea pelos ouvintes da palestra, pelos estudantes da Faculdade de Direito e pelos grupos feministas e apoiadores que estavam presentes. Vários vídeos foram feitos na ocasião e já têm sido veiculados nas redes sociais, bem como outros ainda serão publicados.
Portanto, nós, mulheres deste Coletivo, consideramos justos os acontecimentos deflagrados naquele ambiente, pois o que se busca é a desmistificação do preconceito e do silenciamento de mulheres, que tentam deslegitimar o movimento feminista.
Por fim, ressalta-se que as integrantes do Coletivo que estiveram presentes durante o evento não identificaram qualquer ato de vandalismo ou violência na manifestação. Nenhuma agressão à palestrante ocorreu: esta saiu da confusão quando achou conveniente. De fato, houve um cordão humano para a palestrante sair do local, o que se explica pela quantidade de pessoas aglomeradas em um local pequeno. É importante salientar, ainda, o repúdio do Coletivo a todas as ações pautadas em agressão e abuso da força.