Também foram interrogados na tarde desta terça-feira o coronel Sérgio Katayama, o delegado Aredes Correia e o irmão de Carlos Cachoeira, Marco Antônio de Almeida Ramos

Os nove réus ouvidos na tarde desta terça-feira (27/5) durante a segunda rodada de interrogatórios da instrução criminal da Operação Monte Carlo negaram o envolvimento com a associação criminosa que explorava jogos ilegais no Estado de Goiás e que era chefiada pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. As alegações apresentadas pelas defesas dos réus giraram em torno da credibilidade e de uma possível imprecisão das interceptações telefônicas presentes na denúncia do Ministério Público Federal (MPF).

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Ao ser questionado pelo juiz federal substituto Francisco Vieira Neto sobre as interceptações telefônicas obtidas pelo MPF, o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu preferiu não se pronunciar. Segundo o réu, as gravações são vagas e bastante fragmentadas. “Referente aos áudios, eu permanecerei calado em virtude dos meus advogados estarem questionando a legalidade dessas gravações”, avisou em juízo.

O empresário é apontado nas investigações como colaborador da associação chefiada por Cachoeira, onde ficaria a cargo de ocultar os recursos oriundos do esquema ilegal. Em depoimento, Cláudio negou veementemente a possibilidade de colaboração com o empresário. “A relação que eu tinha com o Cachoeira é de conhecimento no meio da sociedade. Nunca fui sócio dele em nenhuma empresa”, alegou.

O empresário também rechaçou a possibilidade de que o contraventor tivesse alguma influência interna na Delta ou que seria o dono da construtora, como chegou a ser cogitado. De acordo com ele, a única transação financeira que firmou com Cachoeira foi a venda de um imóvel no valor de aproximadamente R$ 975 mil. A quantia teria sido paga a Claudio aos poucos. “Eu adquiria alguns bens de uso pessoal e ia indicando para ele fazer o pagamento, como veículos e outros serviços”, explicou o réu.

O ex-diretor da Delta chegou a ficar preso por 45 dias no Presídio da Papuda, em Brasília, por tráfico de influência e formação de quadrilha após a deflagração da Operação Saint Michel, desdobramento da Monte Carlo. Após retirar-se do auditório da Justiça Federal, em Goiânia, tanto Cláudio quanto seu advogado se recusaram a falar com a imprensa.

Além de Claudio de Abreu, também foi interrogado o coronel Aredes Correia Pires, acusado de repassar informações sigilosas da Polícia Civil (PC) para a cúpula da associação criminosa. O militar confessou ter mantido contato com Cachoeira e com o ex-vereador Wladimir Garcez , com a ressalva de que os assuntos conversados poderiam ser obtidos por qualquer cidadão, uma vez que, enquanto corregedor geral de Segurança Pública, não tinha acesso a informações relacionadas à parte operacional e de inteligência da PC.

“Ele me pediu para apresentar alguns delegados, nunca apresentei e ainda criava dificuldades para isso. Nunca o avisei de nenhuma apuração. Falava com ele em termos gerais e não especificando nenhuma ação”, frisou.

Sobre a posse de um aparelho telefônico da marca Nextel, pelo qual eram feitas as ligações para o contraventor, Aredes afirmou que em nenhum momento o dispositivo permaneceu em seu domínio. Segundo ele, Wladimir entregava o aparelho a ele para que pudesse dialogar com Cachoreira. O coronel questionou as investigações por parte do MPF lembrando que em nenhum momento houve a quebra do sigilo telefônico de seu próprio aparelho celular.

Durante a audiência desta terça-feira, a legalidade das interceptações do órgão ministerial também foi questionada pelo réu Fernando César da Silva, acusado de explorar jogos ilegais na região do Entorno com a colaboração de José Olímpio Queiroga. O acusado assumiu sua participação em atos de contravenção em um estabelecimento no município de Valparaíso, mas alegou que era apenas um funcionário e não o dono do local. Além disso, negou qualquer associação com Carlinhos Cachoeira ou com a família Queiroga. “A voz não é minha, nem o identificador de celular era meu. Dessa maneira, não darei credibilidade a essas gravações”, destacou perante o magistrado.

Acusado de auxiliar o irmão na computação de benefícios a policiais, Marco Antônio de Almeida Ramos também foi ouvido na tarde desta terça-feira. Ele se emocionou ao declarar sua inocência e disse que foi traumatizante passar cinco dias preso após a deflagração da Operação Monte Carlo . “Temos uma relação fraterna, o Carlinhos e eu. Ele nunca me pediu esse favor. Nunca fui convidado por ele para participar de contravenção, nem quando tais jogos eram legais”, pontuou.

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Último a ser ouvido durante segunda rodada de interrogatórios da instrução criminal, o coronel da Polícia Militar Massatoshi Sérgio Katayama também negou qualquer envolvimento com a associação criminosa. Conforme denúncia, o réu repassava informações sigilosas e relevantes sobre operações da PM para a cúpula do grupo. “Nunca recebi propina. Todas as operações que tínhamos que fazer nós fizemos. Não existia nenhum seredo ou informação a ser passada para o senhor Carlos”, se defendeu.

Em rápida entrevista ao Jornal Opção Online, ele também questionou as interceptações telefônicas presentes na denúncia do MPF. De acordo com ele, as provas apresentadas pelo órgão ministerial foram colhidas de uma maneira equivocada. “Essas ligações não foram transcritas da forma como deveriam ser, em sua integralidade”, pontuou

Os interrogatórios da instrução criminal do caso Cachoeira irão prosseguir até a próxima sexta-feira (29/5), quando o juiz Francisco Vieira definirá se os acusados irão ou não a julgamento. Dos mais de 50 réus citados na denúncia, 36 estão sendo ouvidos no prédio da Justiça Federal em Goiás, localizado no centro de Goiânia. Os demais acusados serão interrogados em seus respectivos municípios, por meio da apresentação de cartas precatórias.

O major João de Deus Teixeira e o delegado José Luís Martins de Araújo também foram interrogados ao longo da audiência desta terça-feira. Na quarta-feira (28) serão ouvidos cinco réus; entre eles estão Thiago de Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira, e Paulo Roberto de Almeida Ramos, irmão do empresário.