Encontro faz parte da programação da 16ª edição Festival de Cinema e Vídeo Ambiental na cidade de Goiás e propõe conversa entre realizadores com o público

Yago Rodrigues Alvim, enviado a Cidade de Goiás

Realizadores debateram filmes apresentados no primeiro dia da mostra competitiva do festival. Foto: Divulgação/Fica/Flávio Isaac
Realizadores debateram filmes apresentados no primeiro dia da mostra competitiva do festival. Foto: Divulgação/Fica/Flávio Isaac

Cinco cineastas participantes da mostra competitiva do 16° Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) na cidade de Goiás se reuniram na manhã de quinta-feira (29/5) para debater sobre seus filmes, que foram exibidos no primeiro dia da competição. No Hotel Casa da Ponte estavam presentes Nicolás Bietti, Mariano Bergara, Ricardo Alvez, Helena Hufnagel e Kleber Damaso.

O curta Refugiados en su Tierra, contou Bietti, foi gravado em 2009, um ano após a erupção do vulcão Chaitén, a 1.200 km da capital chilena, Santiago. A história é do deslocamento dos habitantes que regressam à cidade e a encontra em um estado de penúria que se estende a eles, pois toda a sua identidade foi coberta por cinzas.

MJR_0525
Bergara: mobilidade era pano de fundo para retratar inercia do ser humano. Foto: Marcello Dantas/Jornal Opção Online

Bergara é argentino, assim como Bietti. Seu curta, Inercia, narra a chance de mudar de vida pedalando uma bicicleta –– com a fuga do cotidiano estressante do trânsito – cujo fim, quando acorda de um sonho, ele liga o motor do carro e deixa sua bike de lado. Indagado pelo público se o tráfego era ou não uma questão que o filme apresentava para reflexão, e rapidamente negou: era apenas pano de fundo para retratar a inercia do ser humano, que sempre se esbarra nos mesmos problemas, por mais que perceba outras saídas.

Já o estudante do curso de Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Ricardo Alvez, diretor de Dergo!, contou sobre a experiência de mais de dois anos para captação de imagens de seu curta. Segundo o universitário, foram gravações livres feitas durante os oito anos em que trabalhou com a venda de passagens no Terminal do Dergo, uma das estações do Eixo Anhanguera, em Goiânia. “O cinema chegou de surpresa”, revelou.

A edição do vídeo de 10 minutos se iniciou enquanto estudante da UEG, quando percebeu o conteúdo das filmagens que tinha. “Era um lugar de passagem, mas eu ficava”, disse. Uma das perguntas ao diretor-estudante foi se houve perigo para gravar o filme. A resposta foi “sim, a todo momento”, relembrou, complementando que a relação de respeito ele e os personagens foi criada ao longo do tempo. “Eu precisava estar lá, todos os dias, e eles [crianças e jovens que consumiam crack e mulheres que trabalhavam com prostituição na estação] precisavam estar lá, todos os dias”, explicou.

A jornalista alemã Helena contou sobre a semana que gravou Erntefaktor Null, curta documentário sobre uma usina que nunca funcionou. A AKW Zwentendorf Nuclear Power Plant foi o cenário do curta gravado em 2011. A documentarista disse ser contra usinas nucleares e que tentou, ao máximo, não deixar que sua opinião interferisse na realização.

Kleber Damaso representou a diretora do curta Ainda que se Movam os Trens, dos irmãos Henrique e Marcela Borela e Vinicius Berger. A ficção goiana narra sobre um lugar “onde nem os animais queriam estar”: a pedreira Lajão, na Serra dos Pirineus, em Pirenópolis. “É um corpo frágil e instável”, num lugar inóspito, refletiu, emendando que a dificuldade dessas pessoas é comunicada por “uma aposta na imagem e no som como linguagem”, disse.

Talvez por isso a satisfação, de Kleber, em ver pessoas saindo da sala de exibição. Para ele é um “conseguir ver o que não se pode ver; a fratura, por exemplo”. O representante ainda citou Hilda Hilst, uma inspiração, cujos versos dizem: “Para onde vão os trens, meu pai? Para Mahal Tami, Cam rí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também prá lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti”.