Cinco bandas de rock de Goiás que o Brasil conhece e o mundo precisa conhecer

11 julho 2025 às 19h08

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Ao longo das últimas três décadas, o rock goiano deixou de ser apenas uma manifestação alternativa em um estado conservador para se tornar referência nacional e internacional em diversas vertentes. Goiânia, especialmente, virou um celeiro de bandas autorais, com cenas bem definidas que dialogam entre si, mas que também trilharam caminhos bastante distintos.
Para traçar um panorama das bandas mais relevantes dessa trajetória — e entender como elas influenciaram as gerações seguintes —, a reportagem contou com a assessoria do jornalista Leonardo Razuk, sócio e diretor da Monstro Discos e um dos idealizadores da cena alternativa goiana. Razuk é figura central na organização de festivais como o Goiânia Noise e acompanha de perto a evolução do rock local há décadas.
A escola da distorção: Mechanics, MQN e o hard rock de garagem
Nos anos 1990 e início dos anos 2000, duas bandas goianas cravaram suas marcas com distorções agressivas, performances enérgicas e letras em inglês: Mechanics e MQN. Elas não apenas se destacaram por sua sonoridade influenciada pelo stoner rock e pelo garage punk, mas também pela atitude do it yourself, ao montar selos, organizar shows e fomentar festivais como o Bananada.
Essas bandas funcionaram como um núcleo fundador de uma cena mais pesada e autêntica. E dessa escola direta vieram nomes como:
- Black Drawing Chalks – Chegou a ser indicada ao VMB (Video Music Brasil, da MTV), com som sujo, pesado e riffs que remetem ao Queens of the Stone Age.
- Hellbenders – Representantes do stoner metal goiano, fizeram turnês nos EUA e lançaram álbuns aclamados, como Brand New Fear.
A escola do indie e da introspecção: Violins, Cambriana e afins
Enquanto alguns preferiram o peso, outros se aprofundaram em lirismos, melodias elaboradas e experimentações. O Violins, surgido no começo dos anos 2000, é considerado uma das bandas mais inteligentes e provocadoras do cenário nacional. Letras ácidas, densas e políticas se uniam a arranjos complexos, fazendo da banda uma espécie de pilar da cena indie goiana.
Dessa mesma linhagem mais sensível, surgiram outros grupos que seguiram caminhos sofisticados e emocionais:
- Cambriana – Um dos maiores destaques da cena indie brasileira da década de 2010. Com influências de Bon Iver, Sufjan Stevens e Fleet Foxes, o grupo fez turnês no exterior e foi celebrado pela crítica especializada.
- Window e Bruno Abdala – Embora menos conhecidos nacionalmente, são expoentes da cena “bedroom pop” e indie experimental goiana.
A psicodelia moderna e a nova cena: Boogarins e Carne Doce
Se o passado do rock goiano foi marcado pelo underground ruidoso ou pela introspecção melódica, os anos 2010 trouxeram uma nova escola: a do rock psicodélico tropical. Os grandes nomes dessa vertente são Boogarins e Carne Doce.
- Boogarins – Uma das bandas brasileiras mais reconhecidas internacionalmente na última década, com turnês nos EUA, Europa e apresentações em festivais como SXSW, Primavera Sound e Lollapalooza. Suas letras em português e os experimentos sonoros os colocam como herdeiros de Os Mutantes e Caetano psicodélico.
- Carne Doce – Liderada por Salma Jô e Macloys, a banda mistura erotismo, crítica social e lirismo, com arranjos sofisticados e presença forte nos palcos. Também marcaram presença em grandes festivais e têm discografia sólida.
O metal goiano e a resistência extrema: Mandatory Suicide, Heavens Guardian
Outra vertente fundamental do rock em Goiás é a cena metal, que formou sua própria base e seguidores fiéis. Bandas como:
- Mandatory Suicide – Com influências de Slayer, fez história na cena thrash metal e foi fundamental para consolidar a cena pesada em Goiânia.
- Heavens Guardian – Um dos nomes mais longevos do power metal nacional. Misturam orquestração sinfônica, vocais líricos e técnica apurada, chegando a gravar com a Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás.
A fúria do punk e hardcore: CFC, HC137, Exame de Fezes
O punk em Goiás também teve sua escola própria, com nomes que representam resistência, crítica social e energia crua:
- CFC – Uma das bandas mais antigas da cena punk goiana, com letras diretas e sonoridade típica do hardcore dos anos 1980.
- HC137 – Marcou a década de 1990 com letras políticas e sonoridade agressiva, inspirada no hardcore e punk de protesto.
- Exame de Fezes – Nome escatológico e som explosivo. Com letras críticas e humor ácido, marcou o punk mais marginal da cidade.
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