Cientistas brasileiros descobrem tratamento do Alzheimer
07 setembro 2024 às 10h00
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Cientistas brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram uma nova substância que pode representar um avanço no tratamento do Alzheimer. Trata-se da HNK (hidroxinorketamina), derivada da cetamina, capaz de restaurar a capacidade de formação de novas memórias em pacientes afetados pela doença. A pesquisa, liderada pelo neurocientista Felipe Ribeiro, tem trazido esperança para o tratamento dessa condição devastadora.
Como a HNK age no cérebro
De acordo com o estudo, a HNK tem o potencial de restaurar a síntese de proteínas essenciais para a comunicação entre os neurônios. Essas proteínas são fundamentais para a consolidação de novas memórias. O processo de formação de memória ocorre no hipocampo, e a falha nesse mecanismo é o que dificulta a criação de novas lembranças em pessoas com Alzheimer.
“Se não houver síntese de proteínas, uma pessoa esquece o que aprendeu em até duas horas”, esclarece o professor Sergio Ferreira, coautor da pesquisa e professor titular da UFRJ.
Ferreira ressalta que o Alzheimer prejudica a capacidade de formar novas memórias, mas não afeta as lembranças antigas, que já foram consolidadas antes do surgimento da doença.
Potencial para restaurar funções cognitivas
Embora a pesquisa ainda esteja em fase inicial, os primeiros resultados em animais mostraram que a HNK foi capaz de impedir danos à formação de memória, mesmo na presença das placas de beta-amiloide, substâncias que se acumulam no cérebro de pacientes com Alzheimer e são responsáveis pela progressão da doença.
“Restaurar as sinapses, a comunicação entre as células, pode ser melhor do que apenas bloquear as placas”, comenta Lourenço, um dos especialistas envolvidos no estudo.
No entanto, os pesquisadores destacam que, embora a HNK possa ajudar a prevenir a perda de novas memórias, não será possível recuperar lembranças que já foram destruídas pela doença.
Esperança para o futuro
Um dos grandes atrativos da HNK é que, embora derivada da cetamina, ela não causa dependência nem alucinações, tornando-a uma opção mais segura para uso prolongado. A substância já foi testada em pessoas com depressão severa e se mostrou segura, com efeitos mais duradouros do que os medicamentos tradicionais.
“Se obtivermos sucesso nos testes em humanos, acreditamos que a HNK poderá evitar que pacientes com Alzheimer esqueçam informações básicas, como o nome de familiares ou o endereço de casa”, afirma Ferreira, otimista com os resultados preliminares.
No entanto, o pesquisador alerta que o tratamento com HNK só seria eficaz se iniciado nas fases iniciais da doença, antes de grandes danos ao cérebro.
Desafios para a continuidade
Apesar dos resultados promissores, os cientistas ainda enfrentam desafios. O próximo passo é encontrar um laboratório que esteja disposto a investir nos testes clínicos em humanos. Além disso, os especialistas ressaltam que é improvável que uma única droga resolva todos os aspectos da doença.
“O Alzheimer é uma doença complexa, com diversas causas e mecanismos. O tratamento provavelmente será feito com um coquetel de medicamentos, semelhante ao que ocorre com os pacientes de Aids”, explica Ferreira.
A descoberta da HNK representa um avanço significativo na compreensão e tratamento do Alzheimer, mas ainda há um longo caminho pela frente até que o medicamento esteja disponível para uso clínico. Mesmo assim, as expectativas são altas para o futuro da pesquisa.
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