Em resposta às ameaças do governo Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, a China declarou estar disposta a atuar ao lado do Brasil e de outros países do Brics para defender a equidade internacional e o sistema multilateral de comércio, centrado na Organização Mundial do Comércio (OMC). A manifestação foi feita nesta segunda-feira, 29, pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, durante entrevista coletiva em Pequim.

“A China está disposta a trabalhar com o Brasil, com outros países da América Latina e do Caribe, e com os países do Brics para defender em conjunto o sistema multilateral de comércio centrado na OMC e proteger a justiça e equidade internacionais”, afirmou o governo chinês. O porta-voz lembrou que Pequim já havia expressado preocupação com os aumentos tarifários norte-americanos e reforçou que “guerras tarifárias não têm vencedores” e que “práticas unilaterais não servem aos interesses de ninguém”.

A sinalização de apoio chinês ocorre em um momento delicado para o governo Lula, que busca alternativas diplomáticas e econômicas para lidar com as ameaças tarifárias de Washington. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nos Estados Unidos para participar de reunião da ONU e busca diálogo com autoridades norte-americanas, mas até o momento não houve avanços concretos nas tratativas.

Diante do impasse, o Itamaraty trabalha em um plano de contingência para mitigar possíveis impactos econômicos. O Brasil é um dos países que mais seriam afetados caso as tarifas de 50% entrem em vigor na próxima sexta-feira.

Em relação à possibilidade de uma maior abertura do mercado chinês para produtos brasileiros — especialmente aqueles hoje destinados aos EUA — o porta-voz declarou que a China valoriza a cooperação com o Brasil, desde que baseada em princípios de mercado e voltada a resultados concretos. “Estamos prontos para promover essa cooperação e impulsionar o desenvolvimento nacional de ambos os países”, afirmou Jiakun, citando inclusive setores como o da aviação.

Sobre as negociações econômicas em andamento entre EUA e China na Suécia, Guo Jiakun reforçou que o governo chinês espera que as conversas avancem com base no respeito mútuo e na redução de mal-entendidos. Segundo ele, é fundamental aproveitar os mecanismos de consultas já existentes e implementar os consensos firmados entre os presidentes dos dois países.

Indagado sobre um possível acordo com os EUA nos moldes do fechado recentemente entre Washington e a União Europeia, Jiakun descartou qualquer compromisso que prejudique os interesses chineses. “Nos opomos firmemente a qualquer tentativa de alguma parte de firmar um acordo às custas dos interesses da China”, concluiu.

Leia também

Secretário americano que anunciou aumento de tarifas teve lucro bilionário e vira alvo do STF