Autoridades chinesas prenderam cerca de 30 pastores ligados a igrejas cristãs consideradas “clandestinas” pelo governo, em uma operação deflagrada na última sexta-feira, 10. Entre os detidos está o pastor Jin Mingri, fundador da Zion Church (Igreja de Sião), a maior organização religiosa independente do país. Ele foi preso em sua casa, na cidade de Beihai, no sul da China.

Embora a Constituição chinesa garanta formalmente a liberdade religiosa, o exercício da fé é rigidamente controlado pelo Estado, especialmente no caso de religiões de origem estrangeira, como o cristianismo e o islã. No caso dos protestantes, apenas as igrejas vinculadas ao Movimento Patriótico das Três Autonomias, supervisionado pelo governo, têm autorização para funcionar publicamente.

O movimento foi criado para assegurar o alinhamento político das igrejas, com base nos princípios de autogoverno, autosustento e autopropagação, mecanismos que visam reduzir a influência estrangeira e garantir que a prática religiosa seja compatível com os interesses do Partido Comunista.

Os pastores dessas igrejas oficiais são formados exclusivamente em seminários aprovados pelo Estado. Já as congregações que optam por manter cultos independentes, conhecidas como “igrejas domésticas”, atuam de forma discreta, muitas vezes realizando encontros virtuais ou em residências particulares.

Segundo informações divulgadas pela agência Reuters, Jin Mingri foi preso sob a acusação de “uso ilegal de redes de informação”. Caso seja condenado, ele pode enfrentar pena de até sete anos de prisão. Membros da Zion Church temem que novas acusações sejam incluídas, relacionadas à transmissão online de pregações religiosas, prática recentemente proibida pelo governo chinês.

A medida faz parte de um conjunto de regras aprovadas pelo Movimento Patriótico das Três Autonomias no mês passado, que restringe o ensino e a pregação digital apenas a líderes religiosos registrados oficialmente.

A prisão de Jin e de outros pastores marca a maior repressão religiosa desde 2018, quando autoridades chinesas fecharam templos independentes e prenderam diversos líderes religiosos. Naquele ano, o próprio Jin chegou a ser detido e teve restrições impostas à sua liberdade de movimento, sendo impedido de visitar a família que vive nos Estados Unidos.

Fundada em 2007, a Zion Church é considerada a maior igreja doméstica da China, reunindo cerca de 5 mil fiéis em 50 cidades, segundo o jornal The Straits Times, de Singapura. Durante a pandemia de Covid-19, o grupo ganhou notoriedade por realizar cultos virtuais em plataformas como Zoom e WeChat.

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