A China vem intensificando seus esforços para reduzir a dependência do dólar e expandir o uso internacional do yuan em ritmo considerado inédito por analistas. A desconfiança em relação à política econômica dos Estados Unidos, marcada por déficits elevados e tensões em torno da independência do Federal Reserve, abriu espaço para Pequim avançar em sua estratégia de internacionalização da moeda.

O dólar, que registrou queda de 7% no índice ponderado pelo comércio desde janeiro, vive seu pior início de ano desde 1973. Já o yuan atingiu o nível mais alto desde a reeleição de Donald Trump, em novembro passado, impulsionado pelo maior interesse de investidores estrangeiros e governos que buscam alternativas à moeda americana.

Embora represente quase 20% da economia global, a China ainda vê sua moeda usada em apenas 4% dos pagamentos internacionais e em 2% das reservas globais de bancos centrais, contra 50% e 58%, respectivamente, no caso do dólar. Para reverter esse quadro, autoridades chinesas têm adotado medidas firmes, como exigir que grandes bancos realizem ao menos 40% dos empréstimos de facilitação de comércio em yuan e ampliar a rede de liquidação da moeda em dezenas de países.

A criação de uma infraestrutura paralela ao sistema financeiro ocidental também ganhou fôlego. O Cips, sistema chinês semelhante ao Swift, já reúne mais de 1.700 bancos em todo o mundo e movimentou 175 trilhões de yuan em 2024, alta de 43%. Além disso, a rede mBridge, baseada em moeda digital, vem sendo usada em transações envolvendo empresas sancionadas, o que dá ao mecanismo uma importância geopolítica crescente.

Nos últimos anos, o yuan dobrou sua participação nos pagamentos internacionais, com mais de 30% do comércio externo da China já liquidado na moeda local. Emissões de “panda bonds” e “títulos dim sum” atingem recordes, com países como Hungria e Rússia liderando a captação em yuan. Brasil, Quênia e Paquistão também avaliam novas emissões e trocas de dívida.

Apesar dos avanços, especialistas lembram que a internacionalização plena da moeda enfrenta barreiras, sobretudo os rígidos controles de capitais que limitam a confiança estrangeira. Ainda assim, para o Banco Central da China, o futuro será de um sistema financeiro multipolar, no qual o dólar terá de competir com outras moedas.

Leia também

Brasil e China assinam acordo para construir ferrovia entre o Atlântico e o Pacífico, que tem Goiás como polo logístico