Unidade de castração móvel deverá atender animais em situação de maus tratos e abandono. Sabrina Garcez, que encampa a luta para viabilizar a execução da lei na capital, estima que “até o meio do ano” veículo estará circulando

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Quase quatro anos após ser sancionada pelo Poder Executivo, Goiânia finalmente poderá experimentar os efeitos da lei municipal que criou o programa de castração móvel destinado ao controle da população animal do município. A proposta que originou a criação da lei em questão foi apresentada, à época, pela então vereadora Cida Garcêz. Hoje, sua filha, vereadora Sabrina Garcez (Sem partido), é quem encampa a luta para viabilizar a concretização deste tão almejado projeto. 

Pensando nisso, Sabrina recorreu ao senador Luiz do Carmo (MDB) na tentativa de sensibilizá-lo. Funcionou. Depois conversarem minuciosamente sobre o assunto, o parlamentar concordou em destinar parte dos recursos que lhe é garantido via emendas para execução do primeiro — e, talvez, mais importante — passo: a aquisição de um veículo que será inteiramente transformado em um centro cirúrgico capaz de atender e oferecer procedimentos seguros aos animais abandonados.

“Já estamos com um processo licitatório na prefeitura de Goiânia para compra deste veículo. Trata-se de uma carreta adaptada. Um verdadeiro centro cirúrgico, porém, sob rodas”, considerou Sabrina Garcez à reportagem do Jornal Opção. A parlamentar disse acreditar que “até o meio do ano” o carro já poderá ser encontrado  circulando pelas ruas de Goiânia.

Sabrina Garcêz: “Trata-se de uma carreta adaptada. Um verdadeiro centro cirúrgico, porém, sob rodas” | Foto: Augusto Diniz/Jornal Opção

A emenda destinada pelo senador é de R$ 400 mil. O valor é parte dos R$ 2 milhões enviados por ele ao município. Todo dinheiro será gasto, segundo a vereadora, com a aquisição e custeio de todos os equipamentos necessários para um trabalho seguro e qualificado. 

O ‘castramóvel’ — assim apelidado pelos envolvidos na causa — terá a finalidade de atender a população animal em situação de abandono. No entanto, ele também será utilizado para castração de cachorros e gatos de pessoas de baixa renda. “É importante que tenhamos um controle desta população na cidade. Pelos bairros que frequentamos podemos perceber o aumento considerável de animais que, muitas vezes, são encontrados em situação de maus tratos ou abandono. Por meio da castração acreditamos que isso poderá melhorar significativamente”, disse a vereadora. 

Mais saúde 

Vale destacar que o ato de castração de um animal vai além do simples controle de natalidade. O método é seguro e previne doenças uterinas e cancerígenas. A médica veterinária Andrea Ribeiro considerou, em entrevista ao Jornal Opção, que a não castração de animais de rua é, na verdade, um problema de saúde pública. 

“Temos um grave problema de abandono de animais em Goiânia. Isso se torna ainda mais recorrente nos períodos de férias”. Para ela, a castração dessa população é indispensável e benéfica não só para os animais mas também para os goianienses. “A população precisa disso. Havendo esse controle nós evitaremos a proliferação de doenças, reduziremos o número de acidentes envolvendo animais e automóveis e ainda proporcionaremos aos bichinhos uma vida mais saudável”.

Médica veterinária Andrea Ribeiro: “Havendo esse controle nós evitaremos a proliferação de doenças, reduziremos o número de acidentes envolvendo animais e automóveis e ainda proporcionaremos aos bichinhos uma vida mais saudável” / Foto: Reprodução/Internet

Por sua vez, a médica veterinária Marília Caponi lembrou que a procriação recorrente desses animais pode acarretar não só no aumento desenfreado de cachorros e gatos em situação de abandono, mas também em casos de Tumor Venério Transimissível (TVT). Segundo ela, devido a cruza com alguns animais contaminados, esse tumor pode se manifestar gerando grande alteração da genitália. “Isso pode acontecer tanto com os machos quanto com as fêmeas. Dói, sangra e pode até levar o animal à obtido. Ou seja, um animal cadastrado adquire mais saúde e uma melhora significante em seu comportamento”, finalizou.

À várias mãos

A reportagem também conversou com a ex-vereadora Cida Garcez. Ela, que é uma peça importante na concretização deste serviço resumiu o sentimento ao ver o projeto finalmente deixando o papel: “Fico muito feliz e orgulhosa em ver a Sabrina encampando essa luta. Me sinto realizada diante desta parceria dela com o senador Luiz do Carmo, que, por sinal, se mostrou muito sensível à causa animal”, disse. 

Senador Luiz do Carmo e ex-vereadora Cida Garcez / Foto: Colagem

Por sua vez, o senador avaliou a iniciativa como uma proposta “inovadora e altamente positiva para a sociedade goianiense”. “Hoje as pessoas tem mais proximidade com os animais. É preciso entender que defender essa causa é importante também para a população que convive direto ou indiretamente com os bichinhos.  Além do controle sanitário, prevenção de doenças, isso garante, ainda, outros tantos benefícios à saúde do animal”, ponderou Luiz do Carmo. 

“Não é coisa”

Vale lembrar que um projeto importante para a vida dos bichos foi aprovado recentemente pelo Senado e encaminhado para apreciação da Câmara dos Deputados. Conforme mostrado pela reportagem do jornal O Globo em julho do ano passado, a legislação brasileira ainda entende o animal como um bem móvel. 

A matéria diz que “animal não é coisa” e propõe que os bichos sejam entendidos como seres sencientes, ou seja, capazes de sentir dor, prazer e outros sentimentos. O Globo mostrou ainda que, se aprovada e sancionada, os animais passarão a ter, inclusive, uma personalidade jurídica, podendo receber habeas corpus ou outros instrumentos legais úteis para sua proteção, por exemplo.