Olhar curioso desde criança, Carolina Horta sempre foi uma estudante participativa. Feira de Ciências? Era presença garantida, afinal disciplinas que envolviam microscópio e robótica eram as preferidas, desde o ensino fundamental. “Participei de competição de robótica, em que a gente construiu um robô inspirado naquele robô que foi desenvolvido para andar no solo de Marte”, se lembra.

A menina já era pesquisadora sem saber do que se tratava. A ‘ficha caiu’ quando fez a graduação de Farmácia, na Universidade Federal de Goiás (UFG). “Foi o momento que comecei a ter um pouco mais de contato com a pesquisa e com a ciência. Mas, naquela época, a faculdade não tinha nem programa de pós-graduação”.

Carolina Horta no início da carreira como pesquisadora. | Foto: Arquivo Pessoal

Foram os professores desse período de formação em Farmácia que inspiraram Carolina Horta à pós-graduação. O desejo para percorrer por esse caminho aumentou, quando foi com o professor Edmilson conhecer a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. “Realmente me encantei e percebi que isso era o que eu queria fazer assim que eu me formasse”.

Logo que terminou a graduação, Carolina Horta foi direto para o doutorado, na Universidade de São Paulo (USP). Com o suporte de duas irmãs, que já estavam morando lá, o processo de adaptação foi mais rápido. “Meus pais me incentivaram a buscar uma opção em São Paulo capital, o que foi muito melhor para mim também. E, ao longo da minha carreira, as coisas foram acontecendo de maneira muito orgânica”.

Maiores inspirações

O avô paterno, que nem chegou a conhecer em vida, foi a maior inspiração para a carreira científica. Carolina Horta explica que ele foi professor catedrático da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Não tive o prazer de conhecê-lo. Ele faleceu quando meu pai tinha 15 anos, mas eu sempre ouvi as histórias dele contadas pelo meu pai, pelos meus tios. Ele faleceu falando fluente sete línguas e ainda estava aprendendo a falar russo”.

Dentre as mulheres na ciência, a maior inspiração para a pesquisadora da UFG é a cientista Marie Curie. A física e química polonesa-francesa descobriu o polônio e o rádio, foi a primeira mulher a fazer doutorado na França e a ganhar dois prêmios Nobel. “É realmente uma inspiração! Naquela época, trabalhando com o esposo com materiais radioativos. É uma cientista que realmente inspira, não só a mim, mas muitas gerações e gerações de mulheres”.

Cientista Marie Curie. | Foto: Reprodução

A realidade vivida por Carolina Horta e de outras cientistas no Brasil é preconceitos. Quase não se vê cientistas, principalmente, no topo da carreira, nas posições de tomada de decisão. Esses espaços, ainda são muito dominados pelos homens. “Se você observar reitoras de universidades, mulheres que ocupam cargos administrativos em altos cargos, ainda são minoria”, explica.

“Nós ainda temos esse cenário no Brasil, assim como em todos os lugares do mundo. Se a gente observa, por exemplo, as academias de ciências mundiais, os membros efetivos de academias de ciências, as mulheres ainda são menos que 30% na sua média mundial. Isso porque as mulheres não são tão boas quanto os homens? Não, porque quem tomam essas decisões são os homens!” – diz Carolina Horta.

Na visão da pesquisadora mais influente da UFG é preciso lutar por espaços. Uma luta feminina contra o machismo, que também existe na ciência. “O que já mudou no Brasil e no mundo? Mudou muito, melhorou muito. Todo esse cenário, toda essa tendência e discussão tem vindo à tona da importância das mulheres representarem 50% na ciência”, explica.

Existem muitos desafios para pesquisadoras em qualquer lugar do mundo. No caso, da Carolina Horta é conciliar a vida pessoal, a maternidade e a carreira de pesquisadora. Justamente, porque em cada uma dessas funções demanda muita dedicação. “Para ser uma pesquisadora de destaque, de sucesso, a gente precisa trabalhar muito. Primeiro, precisa gostar muito do que faz. Aliás, para ter sucesso em qualquer coisa que se faça na vida, a gente precisa amar o que faz, ter paixão naquilo que se faz”, enfatiza.

Premiações e desafios

Carolina Horta recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Os principais “Para Mulheres na Ciência”, em 2014, da L’Oréal-UNESCO e Academia Brasileira de Ciências, “International Rising Talents” em 2015 da L’Oréal-UNESCO [mulheres em ascensão na pesquisa científica]. “Mulheres Brasileiras na Química”, em 2022 das Sociedades Americana de Química (ACS) e Brasileira de Química (SBQ). Em 2023, recebeu o Prêmio “Early Career Medicinal Chemist Award”, da Divisão de Química Medicinal da Sociedade Brasileira de Química, e em 2024 recebeu o prêmio FAPEG Pesquisador Destaque.

Foi eleita como Membro Afiliado da Academia da Academia Brasileira de Ciências (ABC, 2016-2021) e da Academia Global de Jovens Pesquisadores (GYA, 2020-2024). Em 2023, 2024 e 2025, foi classificada como uma das pesquisadoras mais citadas do mundo, segundo o ranking da Elsevier e Universidade de Stanford.

Carolina Horta na atualidade como pesquisadora. | Foto: Arquivo Pessoal

São as premiações e o reconhecimento social, que fazem com que mulheres como a pesquisadora da UFG não desistam da carreira de cientista. Para além disso, Carolina explica que elas precisam também de grupos de apoio, políticas públicas como fortalecimento e disponibilização de maior número de vagas para creches, inclusão das crianças no ambiente de trabalho, em congressos. “Todas essas ações, são importantes para que as mulheres não desistam da carreira de cientista, para que elas continuem, mesmo com todas essas dificuldades”.

Realidade vivenciada por Carolina. Ela quase desistiu também de continuar no universo da pesquisa, logo que nasceu o segundo filho e com início da pandemia. “E naquele momento, no ano seguinte, em 2022, eu ganhei um prêmio, que foi o prêmio da Sociedade Brasileira de Química para Mulheres na Química, juntamente com a Sociedade Americana de Química. E esse prêmio, ele veio como um grande incentivo para eu não desistir!”

Perspectivas de futuro

O que mais se espera é a ampliação do incentivo, das bolsas de iniciação científica, bolsas de pós-graduação e bolsas de pós-doutorado. Além de uma maior absorção de pesquisadoras no mercado de trabalho. “A gente precisa de políticas públicas para a absorção dessas doutoras, seja na iniciativa privada, em indústrias, em empresas, seja no empreendedorismo, criação de empresas, seja no desenvolvimento de pesquisas em universidades e faculdades”, é o que sonha Carolina Horta.

Carolina Horta e alunos da UFG. | Foto: Arquivo Pessoal

Ciência, tecnologia e educação são essenciais para o crescimento do país, para a independência real desse país é o que sinaliza a pesquisadora da UFG. A mensagem que ela deixa para atuais alunas de graduação e pós-graduação, que tenham interesse pela pesquisa é não desistam! “Não desistam dos seus sonhos, corram atrás, busquem incentivo, busquem bons mentores, bons pesquisadores que possam te abrir portas. Busquem boas universidades e não desistam dos seus sonhos”, enfatiza.

Carolina Horta acorda todos os dias, às 4h. Dá aulas, tanto na graduação, quanto na pós-graduação. Orienta cotidianamente, em média 15 estudantes no laboratório de pesquisas. As demandas com os dois filhos: Gabriel, de quatro anos, e Manuela, de sete anos divide com o esposo.

“Podemos fazer a diferença, mas precisamos de uma rede de apoio. Assim conseguiremos chegar em qualquer lugar. As mulheres podem chegar no topo da carreira, em qualquer área, em qualquer situação, desde que tenham apoio para isso, e é o que a gente precisa”, finaliza a pesquisadora mais influente da UFG.

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