Carbono Oculto: PCC, fintechs e o labirinto do dinheiro sujo no Brasil

29 agosto 2025 às 16h20

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A Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal, revela que o PCC explorava brechas regulatórias em fintechs para movimentar dinheiro sem rastreamento, transformando recursos de atividades lícitas e ilícitas em ativos legais. Afinal, o Primeiro Comando da Capital (PCC) não se limita mais ao tráfico de drogas. As investigações mostraram que a facção controlava quatro usinas de álcool, um terminal portuário e 1.600 caminhões de transporte de combustíveis.
Além disso, possuía mais de 100 imóveis, incluindo seis fazendas no interior de São Paulo (avaliadas em R$ 31 milhões) e uma residência em Trancoso (BA) comprada por R$ 13 milhões. O PCC também importava metanol, nafta e diesel, usados tanto na adulteração de combustíveis quanto em fraudes fiscais estimadas em R$ 7,6 bilhões.
Fora os crimes tradicionais, o PCC faturava com sonegação em atividades legais, como postos de gasolina. Esses recursos eram inseridos no sistema financeiro por meio de fintechs e empresas de fachada, espalhando-se por corretoras e fundos até se tornarem ativos aparentemente legais. Muitas fintechs sequer sabiam quem eram os donos do dinheiro, pois os fundos eram estruturados em camadas — estratégia clássica para dificultar investigações.
Ou seja, diferentemente do que a maioria das pessoas parece imaginar, o trabalho das organizações criminosas não está ligado somente às atividades ilicitas, ainda que se movimentem em torno disso.
Entenda melhor o caso
O caso traz à tona esse buraco regulatório, conhecido como “Conta Bolsão”. O PCC utilizava dessa brecha para depositar dinheiro vivo em contas abertas por fintechs, que, por sua vez, fracionavam os valores em movimentações pequenas, evitando o alerta da Receita Federal. Esses recursos podiam ser enviados para bancos tradicionais ou aplicados em fundos de investimento.
O fluxo de dinheiro abre portas para relações com empresários e políticos, elevando a projeção social da facção. Eventualmente, isso permite que o crime organizado abandone as atividades mais arriscadas, como tráfico de drogas, mantendo-se financeiramente por meio de negócios legais.
Por esse motivo, o governo anunciou que vai editar uma nova instrução normativa para submeter fintechs às mesmas regras de transparência e prestação de informações aplicadas aos bancos tradicionais, buscando frear o uso dessas empresas para lavagem de dinheiro.
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