Por Hellen Lopes, repórter do Jornal Opção Entorno

Sair do “armário” não é para todo mundo, há que ter coragem! E, muito embora 3.357 candidatos tenham declarado ser LGBTQIAPN+ nas eleições municipais de 2024, 68% decidiram não registrar a informação. Desse total, 3.357 candidatos são postulantes LGBTs, número seis vezes maior do que em 2020, quando foram registradas 556 candidaturas deste grupo.

Os representantes LGBT+ ainda são minoria em cargos eletivos, mas é essencial garantir que eles ocupem espaços de poder. “Pessoas LGBT também podem ocupar cargos políticos, podem pensar a cidade. Precisamos ser vistos como somos: pessoas que constroem a cidade, o estado e o país. E uma política de verdade tem que incluir a nossa voz”, afirma Welton Trindade, co-coordenador do coletivo Brasília Orgulho.

Welton Trindade: “Precisamos ser vistos como somos: pessoas que constroem a cidade, o estado e o país. E uma política de verdade tem que incluir a nossa voz”

Atento a essa realidade, ele ressalta a importância de ter políticos que atuem para que a cidadania e os direitos humanos do segmento sejam respeitados. “Claro que nem toda pessoa LGBT está de acordo com a agenda do movimento, mas o que a experiência mostra, é que grande parte de nós que chegamos a um cargo eletivo contribui muito para que retrocessos não aconteçam e que mais políticas públicas e legislações nos protejam”, frisa Welton.

Candidatos do Entorno LGBT

Em Águas Lindas de Goiás, Doutor Klaus Pazlhaço, 51 anos, é o único candidato a prefeito, em todo o Estado de Goiás, que se declarou homossexual. “Muito provavelmente, não sou o único, mas tento entender o porquê dos outros não se declararem. Afinal, declarar-se é ficar muito mais suscetível a perseguições e ataques preconceituosos e odiosos, sobretudo neste momento de uma onda de extrema-direita pelo Brasil e pelo mundo. Por isso, não condeno os que não se declaram”, comenta o candidato do PSOL.

Doutor Klaus Pazlhaço: “Declarar-se é ficar muito mais suscetível a perseguições e ataques preconceituosos e odiosos”

Com formações nas áreas de história, pedagogia e teologia, Klaus dá aulas na rede estadual de ensino e atua como palhaço. “Sou caçador de riso e de empatia. E assim como vejo a importância de me identificar como LGBTQIAPN+ nas eleições municipais, igualmente acho importante dizer que sou membro da comunidade dos brincantes, das pessoas que espalham o ‘futuro já agora’, a utopia de que a sociedade deve ser toda de alegria, de festividade, de cores e fartura, para todas as pessoas, sem ninguém ficar de fora”, diz.

O candidato a vereador de Santo Antônio do Descoberto pelo Partido Renovação Democrática (PRD), Emerson Palmieri, também tornou pública sua opção. Para ele, essa representatividade é crucial para a construção de uma sociedade mais igualitária. “Acredito que a diversidade na política traz perspectivas diferentes, que enriquecem o debate e resultam em políticas públicas mais justas e representativas. Com mais pessoas LGBT no poder, podemos construir uma sociedade mais inclusiva, onde todos possam viver com dignidade e respeito, além de inspirar novas gerações a serem quem realmente são, sem medo de preconceitos”, destaca.

Emerson Palmieri: “Minha orientação sexual é apenas uma parte de quem eu sou e não define a totalidade do meu trabalho”

Emerson conta que já sofreu preconceito na política, como negro e como gay, mas acredita que a melhor maneira de combater isso é com trabalho sério, ética e mostrando resultados. “Minha candidatura não é sobre ser ‘o candidato LGBT’, mas sobre ser um candidato competente, com uma história de luta e serviço prestado à comunidade. Minha orientação sexual é apenas uma parte de quem eu sou, e não define a totalidade do meu trabalho ou das minhas capacidades”, declara.

Voto com Orgulho

Lançado nas eleições de 2020, o Programa Voto com Orgulho acompanha e monitora a participação de pré-candidaturas LGBTQIA+ com o objetivo de garantir maior visibilidade às pessoas que se comprometem verdadeiramente com a pauta. “O programa é uma iniciativa da Aliança Nacional LGBTI+ e surgiu a partir da percepção de que a maioria dos políticos eleitos não demonstra interesse por temas que impactam significativamente na vida das pessoas LGBTQIAPN+ como forma de garantir os direitos já conquistados e combater o extremismo político, que ameaça todos os grupos socialmente minoritários”, explica Mateus Cesar, coordenador do Programa Voto com Orgulho no Paraná.

Mateus César: “Só no primeiro dia de campanha eleitoral, o programa já contava com mais de 20 candidaturas confirmadas com as principais demandas das pessoas LGBTI”

De acordo com ele, já foram mapeadas mais de 300 pré-candidaturas de pessoas LGBTI+ ou que têm o interesse de se comprometer com a causa. “Só no primeiro dia de campanha eleitoral, o programa já contava com mais de 20 candidaturas confirmadas que assinaram o termo de compromisso com as principais demandas das pessoas LGBTI+ em nível de Legislativo e Executivo”, acentua Mateus.

A adesão ao programa é muito simples. Basta se inscrever no formulário (https://forms.gle/8rNHMfz3PSrJ6iMj6) e anexar o termo assinado. As dúvidas podem ser sanadas pelas redes sociais da Aliança ou pelas organizações parceiras. “Em nossa sociedade existe a necessidade de mudanças políticas profundas, que dependem sim da atuação de todos os cidadãos, mas que também precisam ser encampadas pela classe política”, enfatiza o coordenador.

Entre os compromissos descritos no documento estão a criação de instrumentos administrativos que punam estabelecimentos comerciais por práticas discriminatórias ou que garantam o uso e respeito ao nome social em órgãos da administração pública municipal, além da defesa do ensino público de qualidade e da laicidade do estado, entre outras propostas.

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