Campanha pelo fim da violência contra mulher gera mal-estar na Câmara
07 março 2017 às 15h51
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Andrey Azeredo (PMDB) criou material sem consultar a bancada feminina, que condenou presidente e, também, maneira como trata a questão
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, uma campanha para coibir a violência contra a mulher lançada pela Câmara Municipal de Goiânia foi alvo de críticas das vereadoras da Casa, que não foram incluídas no processo de elaboração do material.
Na manhã desta terça-feira (7/3), a bancada feminina protocolou requerimento para que os panfletos e cartazes da campanha “Não Vai Ter PSIU!”, distribuídos pela presidência, sejam retirado de circulação até que outra campanha seja confeccionada.
Para a vereadora Priscilla Tejota (PSD), o fato de nenhuma parlamentar ter sido chamada para o processo de elaboração do material demonstra desrespeito do presidente para com elas.
“Antes mesmo de entrarmos no mérito da campanha, se é boa ou ruim, criticamos a forma como ela foi conduzida. Foi feita pelo presidente sem consultar as vereadoras eleitas. Somos apenas cinco na bancada feminina e acredito que isso desvaloriza nosso trabalho como representantes das mulheres goianienses. Como vamos falar em valorizar a mulher se nem a mulher da Casa estão sendo valorizadas?”, questionou.
Outra representante da bancada feminina e militante da causa feminina reconhecida em todo o estado e no país, a vereadora Dra. Cristina Lopes (PSDB) também fez o mesmo questionamento. “Um assunto tão sério e doloroso para a mulher que é o assédio e exposição, e nós não sermos incluídas. Mais uma vez os homens demonstram uma atitude machista”, denunciou.
Folders e cartazes estão sendo entregues em salas, gabinetes e nos corredores da Câmara para servidores e visitantes. A campanha “Não Vai Ter PSIU!” tem o objetivo de coibir o assédio e a violência, incentivando que as vítimas denunciem os crimes cometidos contra elas. O material contém orientações de como denunciar os casos.
Não é bem assim…
Em resposta, o presidente da Câmara, vereador Andrey Azeredo (PMDB), considerou a reclamação como uma “picuinha” contra ele. “Que mal tem de uma campanha idealizada por um homem: Ao invés de segregar, temos que unir forças. Eu não entendo o que está acontecendo. Me parece mais uma picuinha com um projeto de iniciativa do presidente Andrey Azeredo do que em relação ao teor em si. Não estão discutindo o que é importante ser discutido”, afirmou em entrevista coletiva.
O peemedebista defendeu ainda que, apesar de as parlamentares não terem sido consultadas, o material foi elaborado em consonância com as servidoras da casa e policiais militares e foi feito com base em um projeto já existente da PM.
As declarações do presidente, porém ampliaram a repercussão negativa da proposta e gerou ainda mais insatisfação por parte das parlamentares. Logo após a fala do vereador, Priscilla Tejota disse que tomará providências sobre este posicionamento em específico.
“Foi um desrespeito com a minha profissão. Não estou aqui como uma fofoqueira, como uma mulherzinha. Estou aqui como profissional que merece ser respeitada no exercício da minha profissão. Nunca vi um homem no plenário ser tratado dessa maneira, quando fez alguma reclamação alguém dizer que ele está com ‘picuinha’. Isso para mim é machismo e pretendo tomar atitude contra essa fala”, disse ao Jornal Opção.
Conteúdo
Além da não inclusão das vereadoras, que foi o fator que gerou mais discordância entre os parlamentares, o teor da campanha também foi alvo de críticas. Para Sabrina Garcêz (PMB), o texto dá a entender que a mulher é quem precisa mudar sua atitude em relação aos assédios sofridos.
“Na minha ótica, essa cartilha defende que a mulher tem que mudar, que a mulher tem que melhorar, e não os homens. Quando todos sabemos que a culpa da violência contra a mulher nunca vai ser da vítima, sempre do homem”, ponderou a vereadora. “Acredito na boa vontade do presidente Andrey, mas espero que da próxima vez, as representantes eleitas sejam ouvidas”, finalizou.
Já Dra. Cristina criticou o nome dado à campanha. Segundo ela, não expressa proteção à mulher e nem provoca a reflexão. “Não Vai Ter PSIU! mais parece a Lei do Silêncio de São Paulo, chamada Lei do Psiu. Não sei se ele quis dizer “Fiu Fiu”, que remete ao assédio, mas da forma como foi escolhido, o que fica é ‘psiu’, ou seja, o silêncio da mulher”, explicou.
Além disso, ela defendeu que planejamento estratégico e ações concretas para a melhoria da segurança na Casa, ao lembrar as denúncias de assédios e tentativa de estupro registradas no mês passado na Câmara Municipal. “Mais do que campanha, precisamos de atitude’, arrematou.
Falta da GCM
A Guarda Civil Metropolitana é o órgão responsável pela segurança da Câmara Municipal de Goiânia. Apesar de contar com o apoio da Polícia Militar, são os agentes da GCM que estão em maior número na Casa, fazendo a segurança 24 horas por dia e também aos finais de semana.
Apesar disso, no panfleto distribuído, com telefones de contato para denúncias de casos de assédio ou agressão contra mulheres, foram incluídos os números da Polícia Militar, da Polícia Civil, do gabinete militar da Câmara e da viatura da região, mas nenhum número de contato da GCM.
Diante disso, o comando da Guarda Civil encaminhou ofício à mesa diretora da Casa na manhã desta terça-feira (7/3) em retaliação ao ocorrido.
Segundo o vereador GCM Romário Policarpo (PTC), o panfleto foi apenas a “gota d’água”. “O desrespeito já acontece há muito tempo. Os agentes que trabalham aqui relatam falta de equipamento, falta de condições de trabalho, essa cartilha foi apenas a gota d’água. Tive uma conversa com o comando aqui da Casa e eles afirmaram inclusive que estudam retirar o efetivo daqui”, alertou.
Em resposta, Andrey Azeredo disse que ainda na tarde desta terça-feira (7/3) vai procurar o comando para ouvir as demandas dos guardas que fazem a segurança do Legislativo.