“Não venham querer usar as crianças do nosso país, de 4, 5 anos de idade, induzindo ao homossexualismo como se isso fosse normal”, afirmou o vereador Thialu Guiotti, que iniciou a discussão; debate ocorreu um dia após o Dia do Orgulho LGBTQIA+

Plenário da Câmara Municipal de Goiânia | Foto: Reprodução

Um dia após o Dia do Orgulho do LGBTQIA+, comemorado nesta segunda-feira- 28, sessão plenária da Câmara Municipal de Goiânia foi marcada por discussões acerca do assunto e das respectivas opiniões dos parlamentares. Por quase uma hora, onze vereadores se manifestaram sobre o tópico após Thialu Guiotti (Avante) trazer o tópico na tribuna, em repúdio à campanha da franquia Burger King lançada na última semana em homenagem à comunidade.

O argumento utilizado pelo vereador, que gerou retornos de apoio e discordância, foi a indignação quanto a utilização de crianças na referente campanha. “Uma coisa é respeitar o que cada indivíduo faz com a sua sexualidade, e eu respeito. Tenho conhecidos, amigos, homens e mulheres que são homossexuais. Os respeito e temos uma boa convivência, mas não venham querer usar as crianças do nosso país, de 4, 5 anos de idade, induzindo ao homossexualismo como se isso fosse normal, não é normal”, declarou Thialu, em seu tempo de fala.

“Deus não criou homem, mulher e um triangulo para quando no futuro se decida. Deus criou o homem e a mulher”, afirmou Cabo Senna, em complemento a Thialu, além de acrescentar o fato de ter e respeitar amigos e familiares que são homossexuais. No entanto, reiterou: “criança é criança e não pode ser influenciada. A Burger King distratou nossas crianças e as colocou no ridículo. Nós temos que respeitar, mas não é normal”.

Em apoio à fala do vereador do Avante, também se pronunciaram os parlamentares Sargento Novandir (Republicanos), Pastor Wilson (PMB), Cabo Senna (Patriota), Gabriela Rodart (DC) e Isaías Ribeiro (Republicanos). O primeiro a se pronunciar em resposta, Sargento Novandir, expressou o receio de ter suas falas distorcida ao concordar com Thialu, e afirmou ao colega: “Às pessoas que distorcem nossos discursos, quando forem chamar o senhor de homofóbico, coloquem meu nome junto”, solicitou o vereador do Republicanos.

“Respeito LGBTs e qualquer pessoa que decida o que quiser com sua vida, mas não respeito incentivar nossas crianças a esse caminho, são valores invertidos”, justificou Novandir. Um dos argumentos citados na tribuna, ressaltado por Isaías Ribeiro (Republicanos), foi a alegação de a campanha publicitária estar infringindo a Lei nº 8.069, que se refere ao Estatuto da Criança e do Adolescente, da Constituição Federal. “Eu respeito pessoas que gostam pessoas do mesmo sexo, recebo na igreja, mas não coloque nossas crianças nessa situação. Não podemos violar os direitos da criança e do adolescente e rasgar nossa constituição”, disse Isaías.

Em seu momento de fala, a vereadora do Democracia Cristã, Gabriela Rodart, reproduziu o vídeo que continha parte do discurso proferido pela ativista LGBT Angela Davis durante o Seminário Internacional Democracia em Colapso, realizado pelo Sesc São Paulo e pela editora Boitempo em 2019. Em resposta à fala da ativista, que no momento defendeu que o movimento LGBT deveria assumir a bandeira de destruição da família, Gabriela afirma que a militância em questão é maliciosa em sua essência.

“Não estou falando dos homossexuais, estou falando de um movimento que usa das pessoas como manobra e capital político. Toda revolução é um ato contra a ordem, a beleza, a bondade e a verdade. Se nós amamos nossos irmãos e nossa pátria, temos o dever moral de lutar contra tudo que fere os princípios fundamentais ao sustento da nossa civilização. A família é a base da sociedade. Se a gente não tem a família em ordem, sai de lá a negligência do homem e a sexualização da mulher”, argumentou a vereadora.

Outros vereadores, por outro lado, como Aava Santiago (PSDB), Lucíula do Recanto (PSD), Marlon (Cidadania) e Mauro Rubem (PT), se pronunciaram contra as falas da maioria em plenário e pediram respeito à comunidade LGBT que, segundo pesquisa levantada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2015 e 2017, tem uma pessoa por hora agredida no Brasil. “As pessoas dizem que respeitam, mas incentivam não só à homofobia, como às Fake News também”, iniciou Mauro Rubem.

Como membro da Comissão de Direitos Humanos, Marlon (Cidadania), logo de cara ressaltou a importância do debate em questão, lamentou os atos de violência que são realizados contra a comunidade e relembrou o requerimento que realizou em prol da criação de políticas públicas e de um Conselho Municipal LGBTQIA+ em Goiânia. “Infelizmente, nosso país é preconceituoso e machista, e isso não é brincadeira”, disse Marlon. Emocionada, também Aava Santiago saiu em defesa da propaganda e do respeito à comunidade LGBT.

“Ouvi aqui que homossexuais e negros tem que ser tratados e ter os mesmos direitos de pessoas comuns, mas é óbvio, porque eles são pessoas comuns. Ou o comum é ser branco, hétero e apenas isso? Não, todos nós somos comuns, negros são comuns, gays são comuns e héteros são comuns. Essa conversa é necessária nessa casa. A maioria das pessoas que depois se identificam como homossexuais crescem em lares de pais heterossexuais e convivem com pessoas heterossexuais e não é isso que faz com que essas pessoas se descubram na homossexualidade. Assim como não é uma vez no ano, saber que essas famílias existem que vai fazer uma criança se inclinar à homossexualidade. A propaganda só está mostrando que essas famílias existem”, discursou Aava.

Em complemento, Lucíola afirma ter crescido em um lar onde foi muito informada sobre tudo, inclusive sobre a homossexualidade. “Agradeço muito a Deus, porque meus pais e avós e ensinaram a respeitar o ser humano independente de sua particularidade e opção sexual. Aprendi a amar, respeitar e a não questionar. Temos sim que informar que não temos nada a ver com a vida do próximo e que se trata de um ser humano com sentimentos, e ele tem a livre escolha”, opinou a vereadora, que também ressaltou a importância da colaboração para que os direitos das pessoas LGBTs sejam cumpridos.

“Nossa casa de leis, independente da opinião, deve ter mais empatia a quem sofre e aos menos favorecidos. E nesse grupo, todos os LGBTQIA+ sofrem muito em nossa sociedade, e ninguém deve sofrer por amar”, concluiu o vereador Marlon. A sessão foi encerrada por falta de quórum e por o vereador Cabo Senna não enxergar que a discussão teria um fim por si só.

Dia do Orgulho LGBTQIA+

O debate ocorreu um dia após à programação realizada pela Prefeitura de Goiânia, que ocorreu nesta segunda-feira, homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQIA+. O evento contou com mutirão de retificação de pronome e gênero, doação de sangue, sessão de curta metragens e balcão de oportunidades, que foram promovidos pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDHPA).

Confira o vídeo oficial da campanha “Como explicar?” do Burger King: