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De volta a Goiás após passar 10 dias no Japão em missão oficial, o governador Ronaldo Caiado falou diretamente sobre a operação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e deflagrada pela Polícia Federal contra Jair Bolsonaro e que impôs medidas restritivas contra o ex-presidente, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica. O governador criticou o que chamou de “excessos nos julgamentos” e que as decisões que estão sendo tomadas pelo Supremo contra Bolsonaro, como a proibição de dar entrevistas, não são “compatíveis com o regime democrático”.

Caiado fez a declaração na última terça-feira, 22, após reunião com empresários em que definiu uma “frente tripla” de crédito para lidar com os prejuízos que serão gerados pelo novo tarifaço de Donald Trump sobre o Brasil.

Questionado sobre a situação de Bolsonaro e a operação deflagrada no último dia 18 que impôs ao ex-presidente o uso de tornozeleira, Caiado, que estava no Japão quando a ação da PF foi realizada, não poupou críticas às medidas tomadas contra o ex-chefe do Executivo federal.

“Eu recebi com muita tristeza [a notícia da operação]. Não se impõe isso a quem não foi julgado, não é condenado, e que até então tem o direito de fazer sua defesa, tem a liberdade de poder opinar em qualquer lugar. Não se pode cercear o direito à fala de ninguém que não está condenado”, afirmou.

O governador disse ainda que “não se pode admitir que haja um excesso nos julgamentos”. “Sou um homem que respeito decisões judiciais, mas nós temos que entender os excessos que têm sido praticados. Esses excessos que devem ser muito bem abolidos nesse momento. Cabe à Corte [Plenário do STF] rever essas decisões. Assim eu espero”, completou.

Leia também: Em reunião com empresários, Caiado define “frente tripla” de crédito para enfrentar tarifas de Trump

Vale lembrar que, após a última operação policial, que foi autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro agora é obrigado, além de usar a tornozeleira, também ficar em casa entre as 19h e as 6h e está proibido de se comunicar com outros réus ou com embaixadores e diplomatas de outros países.

Além disso, o ex-presidente não poderá se ausentar da comarca do DF. Ele já teve o passaporte apreendido em fevereiro de 2024.

Ao se posicionar com críticas às decisões do STF, sobretudo do ministro Alexandre de Moraes, Ronaldo Caiado faz coro ao argumento de Bolsonaro de que há uma perseguição do Judiciário, com decisões que ferem o Estado Democrático de Direito. O discurso tem sido usado pelo ex-presidente enquanto há um julgamento em curso no Supremo que pode condená-lo a mais de 40 anos de prisão por, supostamente, planejar e liderar uma tentativa de golpe de Estado.

O governador é tido como um aliado do ex-presidente, mas ao contrário de outros nomes da direita que operam sob aval do bolsonarismo, como Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) e Romeu Zema (governador de Minas Gerais), Caiado tem se movimentado de forma independente com o objetivo de se consolidar candidato à Presidência da República em 2026.

Ao endurecer as críticas contra o julgamento de Jair Bolsonaro e as restrições às quais o presidente tem sido exposto, o pré-candidato ao Planalto faz novos acenos ao bolsonarismo, no que pode ser uma tentativa de atrair o eleitorado do ex-presidente, que está inelegível e corre o risco de ser preso a qualquer momento.