Cadela que era usada em rinha em Goiânia precisa de ajuda
24 maio 2014 às 09h57
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Bull terrier de aproximadamente 5 anos encontra-se em situação debilitada, com ferimentos por todo o corpo, e cuidadoras não têm como arcar com o tratamento sozinhas
Podia ter sido apenas mais um caso de violência humana contra um animal indefeso sendo divulgado nas redes sociais por pessoas do bem em busca de apoio para ajudar cães e gatos sofridos, subalimentados, doentes. Todos largados pelas ruas cruéis da capital ou região metropolitana. Situação de um Brasil inteiro, como se sabe. Falta em nosso país uma política pública eficiente que controle a reprodução desses animais e, se não fossem os cidadãos tocados por esta realidade, nem quero imaginar o grau de sofrimento que esses animais-indigentes enfrentariam. Muitos não têm sorte de toparem com essas pessoas e morrem à mingua atropelados ou vítimas das diversas doenças que contraem durante a vida em abandono.
Casos semelhantes lotam minha timeline diariamente, tendo em vista o perfil de pessoas que tenho adicionadas. Sempre que posso tento ajudar, infelizmente não é possível amparar a todos. Presencialmente sempre foi difícil para mim, então confio nessas pessoas e faço depósito em dinheiro e peço a conhecidos que façam o mesmo. Ao tomar conhecimento da situação da cadela Zara, uma bull terrier franzina e toda machucada que era usada em rinhas pelo seu proprietário, senti o coração apertar. Foi na última sexta-feira (23/5). Estava em casa, à noite. Olhei para a minha cadelinha Bia, ali, bem cuidada, cercada de mimo e amor. Uma vira-lata de pelos brilhantes, barriguinha cheia e cama quentinha.
Lembrei-me que não foi sempre assim. A adotei de uma pessoa que mantém uma casa de resgate de animais abandonados em Anápolis. Vi uma foto dela também no Facebook. Devido à situação carente em que foi encontrada, minha Bia não era a cadela mais linda, é fato, mas o seu olhar me encantou a tal ponto que fiz de um tudo para tê-la comigo, tendo dependido da ajuda de uma cunhada durante uns dois meses até me mudar para minha própria casa. A madrinha (pessoa que a resgatou) da Bia disse que duas pessoas antes de mim a adotaram e devolveram alegando que ela era feia, hoje digo que é a coisa mais linda que tenho em minha vida.
Diferentemente da Bia, que ao me ver chegou a fazer xixi (em mim) de tanta emoção, Zara, segundo o relato da pessoa que a resgatou e que prefere não ter seu nome divulgado, não esboçou qualquer reação ao ver alguém se aproximar carinhosamente dela. Sequer balançou o rabo, movimento próprio dos cães para demonstrar que permitem aproximação. Ela apenas olhou nos olhos dessa pessoa. “Ela não balançou o rabo nenhuma vez, não se mexeu nenhuma vez, não esboçou nenhuma reação ou nenhuma vontade, só olhava cabisbaixa dentro dos meus olhos como se estivesse reconhecendo as minhas intenções”, escreveu a cuidadora. E foi nessa parte do texto (que divulgo abaixo na íntegra) que fiquei com os olhos marejados. Até que ponto Zara sentia dor e pedia socorro nesse olhar?
Com esta matéria o Jornal Opção Online tem por intuito ajudar na arrecadação de mais contribuição financeira e também de remédios e ração para Zara, rebatizada com esse nome cujo sentido é luminosidade. “Dentro daqueles olhinhos fundos por conta do inchaço do rosto, cheios de medo e submissão, nós enxergamos uma luz vindo dela, a esperança e a fé. Ela se rendeu aos cuidados como quem já havia desistido de tentar sozinha. Nada que eu diga vai descrever o que eu senti. E o que ela sentiu até hoje? Acho que também não. Ela é pura, inocente e linda. Perfeitamente linda e linda e linda. E mesmo com todo esse desgaste que sofreu, ela continua linda”, descreveu a cuidadora.
Zara está na clínica veterinária Intensipet, onde passará por longo tratamento de pele, dentre outros cuidados. O endereço de lá é Av. T-13, esquina com S-4, nº 245, Setor Bela Vista, Goiânia. Telefone: (62) 3942 5226. Maiores informações com as Protetores Independentes pelo Facebook.
Contas para ajuda em depósito – lembrar de especificar que a quantia é para Zara
Banco do Brasil
Ag 1610-1
Conta POUPANÇA: 107.240-4
Variação: 51
Carlos Cesar Elias Filho
Bradesco
Agência: 0140
Conta Corrente: 0226136-7
Sobre o resgate de Zara
Vê-la andando foi uma das cenas mais chocantes que eu já vi na vida. Já resgatamos cães ruins, gato ruins, prognósticos ruins. Já enfrentamos cinomose, parvovirose, Fiv e FeLV, sarnas horrorosas, miíases por todos os lados, atropelamentos feios e sim, com o tempo, vamos ficando calejados, passando a nos surpreender cada vez menos com certas cenas e casos. Quantos cães famintos já não vimos por ai? Quantos cães com sarna já não resgatamos? Dita, Brutus, Fiona, Bubu. Casos horríveis. Mas não bastaram. Vê-la andando bateu lá na no fundo da alma e me fez chorar.
Ela andava devagar e parava. Respirava, olhava pro chão, dava mais um passo e parava. Arrastava as patas, não as levantava. Veio do fundo de um quintal enorme de terra, debaixo do sol das 14 horas. Quando recebi o pedido de ajuda com algumas fotos dela, imaginei um animal debilitado como os que já resgatamos, e fui na intenção de tirar outras fotos para ajudar. Quando a vi, não havia outra opção a não ser voltar com ela nos braços. Cansada, magra, quase sem pelos, cheia de pústulas (feridas purulentas) por todo o corpo, pedaços de espuma velha grudados em suas feridas, uma pele grossa e calejada e com várias partes do corpo minando sangue. Ela não balançou o rabo nenhuma vez, não se mexeu nenhuma vez, não esboçou nenhuma reação ou nenhuma vontade, só olhava cabisbaixa dentro dos meus olhos como se estivesse reconhecendo as minhas intenções.
Como se não bastasse o estado físico, o histórico dela é ainda mais desleal e desumano. “Ela era cadela de rinha”, disse um menino de 16 anos que a comprou do próprio irmão (mais velho) por 40 reais, para poder doá-la por não aguentar vê-la morrer assim. “Ele não queria dar ela não, queria cruzar”. Provavelmente ela foi matriz ou isca de rinha, e deve ter sido descartada por ser mansa demais. Mansa demais.
Não me pergunto mais quando isso vai acabar, pq não vai. Enquanto existir ambição, maldade, egoísmo, descaso, falta de informação, falta de senso, falta de compaixão, falta de caráter vai existir a exploração animal. A crueldade com que ela foi tratada a vida toda não acabou quando foi descartada. Ela continuou. Vista como um objeto, essa cadela – que agora tem um nome – foi abusada das formas mais cruéis e perversas por longos 5 anos de sua vida.
Zara significa Luminosidade. Dentro daqueles olhinhos fundos por conta do inchaço do rosto, cheios de medo e submissão, nós enxergamos uma luz vindo dela, a esperança e a fé. Ela se rendeu aos cuidados como quem já havia desistido de tentar sozinha. Nada que eu diga vai descrever o que eu senti. E o que ela sentiu até hoje? Acho que também não. Ela é pura, inocente e linda. Perfeitamente linda e linda e linda. E mesmo com todo esse desgaste que sofreu, ela continua linda.
Agora a Zara precisa de todo o apoio que pudermos dar. Tanto físico quanto emocional. Passará por um longo tratamento de pele, tratamento de babesia (uma das doenças do carrapato) e avaliação comportamental. Ela está bastante debilitada e não sabemos o seu temperamento com outros animais. Está internada na clínica Intensipet e a nossa luta por ela só começou. Não conseguimos arcar com os custos, precisamos de ajuda principalmente financeira. Quem puder doar ração (Super Premium) e remédios (inicialmente Doxitec ou Doxitrat (Doxiciclina de uso veterinário), Petsporin (cefalexina de uso veterinário) , Promundog, Pelo e Derme, e o restante divulgaremos posteriormente) também estará ajudando.