Caçadores pedem descentralização da caça do javali e questionam eficácia do Ibama

06 agosto 2025 às 09h26

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Associações de caça criticam a política nacional de controle do javali (Sus scrofa), espécie invasora, alegando que o modelo atual, centralizado no Ibama, falhou na contenção dos danos ambientais e agropecuários. Os caçadores defendem que a responsabilidade seja transferida aos estados, que, segundo eles, teriam maior capacidade de atuar de acordo com as realidades regionais.
Daniel Terra, presidente e fundador da Associação Nacional de Caça e Conservação, que reúne cerca de 4 mil afiliados no país, foi direto nas críticas. Para ele, o Ibama não consegue mais gerir o controle da espécie, cuja expansão ameaça ecossistemas e propriedades rurais.
“O Ibama não pode mais gerir o controle do javali. Ele atestou aqui que não tem condição. Está contaminado a um nível que não pode gerir a questão”, afirmou ao Jornal (o) Eco. Terra baseia suas declarações em dados obtidos pelo deputado federal Daniel Agrobom (PL-GO), que solicitou informações oficiais sobre as ações de manejo da espécie invasora.
O balanço enviado pelo órgão ambiental indica que “há indícios de introdução intencional de javalis híbridos na natureza”, mas admite que “não possui dados sobre prisões [de pessoas] ou solturas ilegais” e tampouco apresentou estudos detalhados sobre as populações do animal no país. Terra questiona a ausência de pesquisas consistentes. “Nunca foi feito estudo populacional ou de dispersão. Como atribuir culpa ao caçador se não se tem nenhum estudo e ninguém foi preso soltando javali?”, criticou.
Apesar das cobranças, o Ibama rebate que a suposta contribuição da caça para a dispersão do javali ainda não possui respaldo “técnico-científico”, embora também não possa ser totalmente descartada. A autarquia afirma estar reestruturando sistemas de monitoramento e dialogando com estados e parceiros técnicos para preencher essas lacunas.
Em Goiás
Paralelamente, em Goiás, o projeto de lei nº 8.510/2023 avança na Alego, com objetivo de regulamentar o controle populacional do javali-europeu. A proposta, de autoria do deputado Amauri Ribeiro (UB), autoriza o manejo e a eliminação do animal em qualquer época do ano, sem limite de quantidade, desde que respeitadas as normas ambientais.
O texto prevê o uso de armadilhas, caça e outros métodos que venham a ser autorizados pelo órgão competente. O autor do projeto justifica que os prejuízos à agropecuária e os riscos à saúde pública exigem medidas mais rápidas e permanentes. A votação definitiva deve ocorrer neste mês de agosto, e, se aprovada, seguirá para sanção do governador Ronaldo Caiado.
O problema do javali não é novo. Desde 2013, caçadores precisam registrar suas ações em sistemas do Ibama. Segundo dados do Ibama, entre 2019 e abril deste ano, quase 1,5 milhão de animais foram abatidos com base em autodeclarações feitas por usuários. Terra calcula que, considerando os nascimentos evitados, o impacto total pode ultrapassar 8 milhões de javalis.
O próprio Ibama, no entanto, reconhece fragilidades nos dados: muitos registros não têm vínculo com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), informam localização imprecisa ou omitem sexo e idade dos animais abatidos. “Tais falhas comprometem a confiabilidade estatística das informações”, admitiu o órgão.
Para os caçadores, a falta de transparência é outro ponto crítico. Terra afirma que os dados só vieram à tona após o pedido parlamentar. “Não existe transparência. Eles sentam em cima dos dados para evitar confrontação com a narrativa que é construída. Esses dados deveriam orientar a política pública para o controle do javali”, disse.
As críticas ao modelo federal crescem à medida que se discute priorizar o uso de armadilhas em vez de armas de fogo. Terra contesta a eficácia dessa estratégia: “Querem priorizar a armadilha, que corresponde a só 2% dos casos”. Ele acrescenta que o Ibama não fornece armadilhas e que não há previsão de incentivos financeiros para quem executa o manejo. “O caçador é responsável por 98% do controle, mas não recebe incentivo nenhum”, afirmou.
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