Buraco negro é fotografado pela primeira vez e, ao que tudo indica, Einstein estava certo

10 abril 2019 às 16h58

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Feito inédito considerado marco da física foi possível graças a combinação de rede de radiotelescópios espalhados pelo mundo

Pela primeira vez, uma imagem de um buraco negro foi capturada. Considerado marco na física, a divulgação ocorreu, nesta quarta-feira, 10, simultaneamente, em evento organizado pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos e por representantes do projeto Event Horizon Telescope (EHT), uma rede de radiotelescópios espalhados pelo planeta, em Washington, Bruxelas, Santiago, Tóquio, Taipé e Xangai. As informações são da Reuters.
O buraco negro, que teve a foto divulgada, está a cerca de 50 milhões de anos-luz da Terra, na galáxia M87, segundo os cientistas. Ainda conforme os responsáveis pelo projeto, ele tem 40 bilhões de quilômetros de diâmetro (3 milhões de vezes o tamanho da Terra). O “vermelho”, ao redor do fenômeno, brilha e emite luz, devido ao calor intenso.
Essa luz, segundo os envolvidos, seria gerada por partículas de gás e poeira aceleradas em alta velocidade. Estas seriam destruídas antes de sumirem dentro do fenômeno. A área mais escura pode ser a sombra lançada nesse movimento.
Foto
Façanha inédita, a captura de imagem foi feita graças a combinação de uma rede de radiotelescópios espalhados pelo planeta, pelo projeto EHT. Estes foram combinados por meio da técnica interferometria, que possibilitou aos astrônomos reproduzirem um observatório virtual do tamanho do planeta.
Inclusive, segundo o astrônomo e vice-diretor do Instituto de Radioastronomia Milimétrica (IRAM) na Europa, que participou da pesquisa, Frédéric Gueth, “um jornal aberto em Paris poderia ser lido de Nova York”.
Paul McNamara, astrofísico da Agência Espacial Europeia, também explicou a captação à agência France Presse: “Como sabemos que os buracos negros existem? Pensamos, é claro, em um buraco negro como algo muito escuro. Mas a massa que ele suga forma um chamado disco de acreção, que fica tão quente que brilha e emite luz”.
Testes
Foram cerca de 420 cenários físicos diferentes checados por simulações para que se pudesse chegar a este resultado. A pesquisa foi publicada no periódico científico “The Astrophysical Journal Letters”.
Em trecho do relatório, é explicado que cada “cenário é usado para gerar centenas de instantâneos em diferentes momentos da simulação, levando a mais de 62 mil objetos na Biblioteca de Imagens”, o que gerou um cronograma de observação do buraco e comparações entre as imagens obtidas e previstas.
Desta forma, os cientistas puderam comprovar que a matéria sugada pelo buraco negro gera fluxo de acreção magnetizado, ou seja, a acumulação de matéria na superfície de um astro, e que o anel que o envolve é assimétrico em decorrência de “combinação de lentes gravitacionais fortes e feixes relativísticos, enquanto a depressão do fluxo central é a assinatura observacional da sombra do buraco negro”.
Einstein estava certo
Destaca-se que os buracos distorcem o espaço tempo, por conta de uma grande massa de matéria concentrada em um volume reduzido. A teoria de Albert Einstein da relatividade já previa que estrelas ou fótons próximos ao fenômeno seriam sugados por sua gravidade.
Para o cientista da University College London que fez parte do projeto, Ziri Younsi, é “extraordinário que a imagem que observamos seja tão semelhante àquela que obtemos de nossos cálculos teóricos. Até agora, parece que Einstein acertou de novo”.
Vale ressaltar que as simulações baseadas nas equações de Einstein, assim como na foto, previam um anel brilhante no entorno de uma forma escura.