Em entrevista coletiva realizada para elucidar sua prisão, o advogado Bruno Pena, detido no âmbito da Operação Fundo do Poço, da Polícia Federal (PF), não detalhou como deve buscar reparações por sua prisão, a qual ele classifica como “perseguição” por parte da delegada Mylena Lecy Martins da Costa. O advogado, que defende o antigo Pros Nacional (o partido foi incorporado ao Solidariedade), também afirmou que seu caso deveria causar comoção, assim como os casos de racismo sofridos pelo jogador do Real Madrid, Vinícius Júnior, na Europa.

“Eu diria que hoje, os entregadores de iFood talvez estejam até mais seguros que os advogados. O pessoal sabe que quando eles destratam o entregador de iFood, tem manifestações, as pessoas vão pra cima. Isso tem coibido esse tipo de prática. A gente viu também a questão do racismo contra o Vinícius Júnior, que depois teve uma comoção, uma repercussão muito grande na Europa pra que isso não voltasse a acontecer”, disse.

O advogado foi solto após habeas corpus concedido pelo ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na última quinta-feira, 20. O pedido foi protocolado pela defesa de Pena na quarta-feira, 19. Porém, um outro pedido de habeas corpus havia sido negado, no dia 14. De acordo com os advogados dele, estavam no “escuro” e não tiveram tempo de reunir documentos para a primeira sessão.

“Nós só tivemos [chances de reunir documentos] quando a gente teve a oportunidade de falar com o Bruno. Estávamos no escuro, porque ele foi preso na quarta-feira, a gente teve acesso na quinta. No mesmo dia a gente protocolou [o pedido de habeas corpus], então não deu tempo de juntar, a gente não sabia desse material. A gente foi levantando as informações assim que a gente foi conseguindo conversar com ele”, disseram os advogados.

“Temos certeza que se ele tivesse conseguido juntar toda essa informação antes do julgamento [de habeas corpus], desse fim de semana, ele teria conseguido esse resultado positivo”, continuaram.

De acordo com Pena, sua prisão ocorreu por perseguição da delegada Mylena Lecy Martins da Costa, responsável pela investigação. O defensor afirma que representou contra a delegada na PF no início da investigação. Segundo Bruno, ela não forneceu informações sobre seu cliente no inquérito, que havia sido vazado na imprensa pelo político Marcos Holanda, adversário político de Eurípedes Jr., atual presidente do Solidariedade.

“A delegada que pediu minha prisão, há dois anos atrás, no início dessa investigação, foi a mesma delegada que eu representei à Polícia Federal, para que investigasse a conduta dela sobre a investigação desse inquérito”, disse. Questionado sobre se sentir perseguido, Bruno respondeu: “com certeza”.

Recurso

Bruno Pena, no entanto, foi vago ao dizer que deve sim buscar medidas de reparação por sua prisão, mas não especificou quais. O advogado apenas afirmou que deve recorrer tanto a Justiça quanto à órgãos de correção da Polícia Federal contra a delegada responsável pela investigação.

“Eu acho que tem que haver uma mobilização para combater a causa disso. Que é levar as autoridades que abusam das suas funções, das suas prerrogativas, a responder pelos erros, a responder pelos abusos causados. A gente não pode admitir que uma delegada venha, fale uma coisa e não verifique as informações. E eu espero profundamente que a ordem dos advogados e toda a sociedade civil organizada se mobilize para reparar esses danos”, completou.

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