O BRICS está acelerando a implementação do BRICS Pay, conhecido como “Pix Global”, um sistema de pagamentos internacionais que promete reduzir a dependência do dólar em transações entre os países-membros do bloco.

O BRICS Pay permitirá transferências rápidas e seguras, com custos menores e menor risco cambial, entre os países do bloco. Embora não seja uma moeda única, a iniciativa utilizará blockchain, QR codes, carteiras digitais e canais diretos entre bancos centrais.

Durante a 16ª Cúpula do BRICS, em outubro de 2024 na Rússia, o avanço do sistema foi destacado como parte de uma estratégia de integração econômica e fortalecimento da autonomia financeira do bloco.

No entanto, Washington demonstra preocupação, já que as transações poderão ocorrer sem a intermediação do dólar. O presidente Donald Trump classificou o BRICS como “grupo antiamericano” e ameaçou tarifas sobre importações de países membros.

O governo dos EUA também elevou para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros e abriu investigação sobre o Pix, alegando discriminação contra empresas norte-americanas.

Especialistas apontam que a expansão do BRICS Pay é parte da crescente rivalidade entre potências emergentes e os EUA no cenário geopolítico global.

Tecnologia blockchain

O BRICS Pay utiliza o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS), desenvolvido pela Universidade Estatal de São Petersburgo, garantindo transações rápidas e seguras com capacidade de até 20 mil mensagens por segundo.

Diferente do SWIFT, controlado por bancos ocidentais, o BRICS Pay funciona de forma descentralizada, oferecendo maior independência aos países-membros. Cada país gerencia seu nó, com segurança avançada com múltiplos protocolos de criptografia.

Além disso, possui código aberto após fase de testes, sem tarifas obrigatórias, e capacidade de operar mesmo sem conexão direta entre usuários. Rússia e China lideram os testes iniciais, realizando transações bilaterais em moedas locais, como yuan e rúpia.

O Brasil enxerga o BRICS Pay como oportunidade para expandir exportações em agronegócio, mineração e energia, reduzindo perdas cambiais e impactos de sanções externas.

Integração

A viabilidade do BRICS Pay depende da integração com sistemas nacionais de pagamentos instantâneos, como o Pix no Brasil, que teve 227 milhões de transações diárias em setembro de 2025.

Na Rússia, o SBP realiza transferências via número de telefone, usado por mais de 200 instituições. Na Índia, o UPI tem interface unificada com forte adesão desde 2010.

Na China, o IBPS é suporte a transferências em yuan via múltiplos canais, e o PayShap da África do Sul consiste em um sistema nacional de pagamentos instantâneos.

O objetivo é criar uma rede ágil e eficiente, capaz de processar transações em tempo real, com o Brasil liderando os esforços técnicos e tributários enquanto assume a presidência rotativa do bloco em 2026.

Impactos no comércio global

O BRICS Pay pode transformar o comércio internacional, reduzindo custos e aumentando a competitividade. Para o Brasil, a plataforma facilita exportações para Emirados Árabes Unidos, Irã e outros países, eliminando a necessidade de conversão para dólar.

Economistas projetam que, até 2030, o sistema movimentará centenas de bilhões de dólares anualmente, desafiando o SWIFT, e fortalecendo o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) com linhas de garantia multilateral.

O BRICS Pay representa uma mudança na lógica do comércio global, promovendo maior estabilidade econômica e resiliência frente a tensões geopolíticas. A plataforma pode atrair novos membros, como Arábia Saudita, ampliando seu alcance e contribuindo para um sistema financeiro mais multipolar.

Para o Brasil, o Pix Global oferece oportunidades de fortalecer laços com parceiros do Sul Global, reduzir custos e aumentar competitividade, redefinindo, a longo prazo, as relações comerciais internacionais.

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