O Brasil subiu dez posições no ranking mundial da liberdade de imprensa, apontou o relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras, divulgado nesta sexta-feira, 3. Saindo de uma “situação problemática” na 92º posição, o país passou para o 82º lugar no ranking entre 180 países. A normalização do relacionamento entre jornalistas e o Poder Executivo foi determinante para a melhora na liberdade da categoria. 

No relatório, a ONG aponta que a subida do Brasil foi “devido à saída de Jair Bolsonaro, cujo mandato foi marcado por uma forte hostilidade contra jornalistas, e a volta ao poder de Lula da Silva, trazendo uma promessa de melhora”. Uma marca dessa violência foi o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, que viajavam pelo Vale do Javari, no Amazonas, para proteção dos indígenas e tiveram suas mortes encomendadas por grileiros do estado.

De 2018 a 2022, o aumento dos casos de hostilidade e violência contra jornalistas é confirmado por dados apresentados por Natalia Mazotte, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); por Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e por Bia Barbosa, coordenadora da Incidência da Repórteres sem Fronteiras (RSF) para América Latina.

Apesar da melhoria da posição do Brasil no ranking, os jornalistas ainda enfrentam inúmeras dificuldades no país. A ONG aponta que o Brasil não progrediu mais devido a problemas estruturais, como a situação financeira precária dos veículos de mídia, a crescente precarização do trabalho jornalístico e a vulnerabilidade das empresas de comunicação a pressões econômicas, principalmente por parte dos anunciantes.

Além disso, a concentração da mídia é uma questão preocupante, pois pode comprometer a pluralidade de vozes na imprensa. A segurança dos jornalistas também é uma grande preocupação, sendo o Brasil o segundo país da América Latina com o maior número de profissionais de imprensa mortos na última década, ficando atrás apenas do México, que registrou mais de 100 casos.

Mesmo com as melhorias nas condições políticas para a prática da imprensa, a situação global tem se deteriorado em muitos países. De acordo com o relatório, o indicador político foi o que mais registrou queda em 2024. A liberdade de imprensa, em escala global, enfrenta ameaças por parte das próprias autoridades que deveriam protegê-la. 

Segundo a ONG, os líderes políticos têm pressionado cada vez mais a liberdade de imprensa e têm falhado em garantir acesso à justiça nos casos de crimes contra jornalistas. Além disso, observa-se um aumento significativo no uso de campanhas massivas de desinformação por parte das autoridades, visando minar a confiança da sociedade na imprensa. Esse cenário resulta em menor escrutínio dos governos e contribui para a polarização, o que, por sua vez, pode se traduzir em ganhos eleitorais para alguns.

Entre os países com melhor colocação no ranking de liberdade de imprensa estão Noruega, Dinamarca e Suécia. Na lanterna ficam Irã, Coreia do Norte, Afeganistão, Síria e Eritreia.

Desinformação e violência nas redes

Em países onde o cenário político é mais estável, a situação da liberdade de imprensa também piorou. O uso da desinformação e da propaganda, muitas vezes acompanhado de violência online contra jornalistas e meios de comunicação, tornou-se cada vez mais comum como estratégia para líderes políticos controlarem a narrativa na agenda pública e manterem suas bases mobilizadas. Mesmo países historicamente bem posicionados no Ranking, como a Costa Rica (23ª; -15), Uruguai (52ª; -8) e Argentina (40ª; -11), foram afetados por essa tendência. O Canadá (15ª; +4) e a Guiana (60ª; -26) também enfrentaram um aumento do assédio online contra a imprensa, especialmente mulheres jornalistas.

Por outro lado, nos países com piores colocações no Ranking, governos autoritários continuam utilizando o discurso da polarização e da segurança nacional para justificar abusos contra a imprensa. Na Nicarágua (158ª; +2), o jornalismo independente foi forçado à clandestinidade ou ao exílio. Em Cuba (172ª; +1), o novo código penal reforçou os instrumentos legais para o governo intimidar e perseguir jornalistas críticos ao regime.

Metodologia de cálculo

A metodologia se baseia numa definição de liberdade de imprensa como “a capacidade dos jornalistas, como indivíduos e coletivos, de selecionar, produzir e divulgar notícias no interesse público, independentemente de interesses políticos, interferência econômica, legal e social e na ausência de ameaças à sua segurança física e mental”.

Usa cinco novos indicadores que moldam o Índice e fornecem uma visão da liberdade de imprensa em toda a sua complexidade: contexto político, quadro jurídico, contexto econômico, contexto sociocultural e segurança.

Nos 180 países e territórios classificados pela RSF, esses indicadores são avaliados com base em uma contagem quantitativa de abusos contra jornalistas e meios de comunicação e em uma análise qualitativa alicerçada em respostas a mais de 100 perguntas feitas a centenas de especialistas em liberdade de imprensa selecionados pela RSF (incluindo jornalistas, acadêmicos e defensores dos direitos humanos).