Governo Federal tinha a possibilidade de adquirir imunizantes o suficiente para vacinar 50% da população, mas solicitou apenas 10%; com a Pfizer, pelo menos cinco propostas foram recusadas; dentre elas, as que previam entrega de doses ainda em 2020

Brasil reduziu em 50% vacinas que seriam recebidas pela Covax Facility e levou 5 meses formalizar acordo com Pfizer. | Foto: Reprodução

Documentos encaminhados pelo Ministério das Relações Exteriores à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia revelam que o Brasil reduziu pela metade a quantidade de doses de vacina contra a Covid-19 a ser recebida pela aliança global que integra mais de 150 países, Covax Facility.

A Covax é liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e foi desenvolvida para impulsionar a criação e a distribuição de vacinas contra a doença. O material enviado pelo Itamaraty, no entanto, mostra que apesar de o Covax permitir a compra de imunizantes o suficiente para vacinar até 50% da população dos países, o governo federal, em agosto, solicitou doses para imunizar apenas 20% – número que, no mês seguinte, foi reduzido para apenas 10%.

Em outubro, portanto, o governo brasileiro anunciou que receberia 42 milhões de doses de vacinas através do consórcio, o suficiente para imunizar 10% da população com as duas doses. Com a aplicação das primeiras doses, o número de 20% foi ultrapassado nesta segunda feira, 24. No entanto, apenas 9,8% da população brasileira foi completamente imunizada, com ambas as etapas da vacina.

Saga da Pfizer no Brasil

Desde o início, uma das linhas de investigação da CPI é o atraso nas negociações e o aparente pouco interesse em adquirir vacinas contra o coronavírus. Segundo a Pfizer, por exemplo, que foi pauta constante do depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, o governo Federal recusou pelo menos cinco ofertas do imunizante.

A primeira oferta do laboratório foi realizada no dia 14 de agosto. A proposta da Pfizer era que fossem antecipadas 1 milhão de doses para entrega em ainda 2020, após aval da Anvisa. Em setembro, após fechar acordo com os Estados Unidos, empresa afirma a crucialidade da celeridade do processo, devido ao número limitado de doses em 2020.

Já em novembro, quando foi reapresentada a proposta de 70 milhões de doses, a Pfizer já não ofertava mais vacinas com entrega em 2020. O acordo, então previa um mínimo a ser adquirido no primeiro semestre e o restante no segundo semestre.

No entanto, a pasta da Saúde só formalizou uma contraproposta com a Pfizer em dezembro de 2020, quando o país já alcançava praticamente 180 mil mortos pela doença. A “carta de intenções” assinada em 10 de dezembro do ano passado, entretanto, contrariou pareceres jurídicos do governo, segundo o ex-ministro. “E nós assinamos o MOU, mesmo sem as assessorias jurídicas”, disse Pazuello à CPI.