Brasil reduz fome ao menor nível em duas décadas, mas desigualdades persistem

10 outubro 2025 às 18h42

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O Brasil registrou em 2024 o menor número de pessoas em situação de fome dos últimos 20 anos. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 10, pelo IBGE em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, cerca de 6,48 milhões de brasileiros vivem em domicílios com insegurança alimentar grave, uma redução de 23,5% em relação a 2023, quando o número era de 8,47 milhões.
O resultado reflete a média dos anos de 2022 a 2024, período que inclui o último ano do governo Bolsonaro e os dois primeiros anos do governo Lula. A queda representa dois milhões de pessoas que deixaram de enfrentar a fome diariamente em apenas um ano. A pesquisa considera como insegurança alimentar grave a falta de qualidade e quantidade de alimentos, afetando inclusive crianças e adolescentes.
Desde o início da série histórica em 2004, o país não registrava índices tão baixos de insegurança alimentar moderada ou grave. Ainda assim, 18,9 milhões de famílias enfrentam algum grau de dificuldade para acessar alimentos, o que representa quase um quarto dos domicílios brasileiros (24,2%). Em contrapartida, a proporção de lares em segurança alimentar subiu para 75,8%.
As regiões Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%) lideram em proporção de domicílios com insegurança alimentar. No nível grave, os índices chegam a 6,3% e 4,8%, respectivamente. Já o Sul apresenta os menores números: apenas 13,5% dos lares enfrentam insegurança alimentar, sendo 1,7% em nível grave.
Em números absolutos, o Nordeste é a região mais afetada, com 7,2 milhões de domicílios inseguros, seguido pelo Sudeste (6,6 milhões), Norte (2,2 milhões), Sul (1,6 milhão) e Centro-Oeste (1,3 milhão).
Apesar da melhora nacional, quatro estados registraram aumento na insegurança alimentar: Roraima, Distrito Federal, Amapá e Tocantins. Os estados com maior proporção de domicílios afetados são Pará (44,6%), Roraima (43,6%) e Amazonas (38,9%). No nível grave, Amapá lidera com 9,3%, seguido por Amazonas (7,2%) e Pará (7,0%).
Mulheres, negros e jovens
A pesquisa revela que a fome tem gênero, cor e idade. Entre os domicílios inseguros, 59,9% são chefiados por mulheres. Pardos representam 54,7% dos responsáveis, enquanto pretos somam 15,7% e brancos, 28,5%. Nos casos graves, os pardos chegam a 56,9%, mais que o dobro dos brancos (24,4%).
A insegurança alimentar também é mais comum entre famílias com menor escolaridade: 65,7% dos lares em nível grave têm responsáveis com até o ensino fundamental completo. Em relação à ocupação, 17% dos responsáveis trabalham por conta própria, 8,6% são empregados sem carteira e 6,5% são trabalhadores domésticos.
Crianças e adolescentes são os mais atingidos: 3,3% da população de 0 a 4 anos e 3,8% dos 5 a 17 anos vivem em domicílios com fome, contra 2,3% entre idosos.
Rural x Urbano
A insegurança alimentar é mais intensa nas áreas rurais (31,3%) do que nas urbanas (23,2%). O nível grave atinge 4,6% dos domicílios rurais, enquanto nas cidades o índice é de 3,0%.
A melhora nos indicadores levou a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) a retirar o Brasil do Mapa da Fome em 2025. Segundo o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, divulgado na Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, menos de 2,5% da população brasileira está em risco de subnutrição.
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