Brasil normaliza violência política contra mulheres, diz missão da OEA
09 outubro 2024 às 17h08
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A missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou a violência política durante a eleição brasileira e alertou ataques contra mulheres em campanhas afirmando que isso foi “normalizado”. A missão também elogiou o “profissionalismo” da organização do pleito.
O informe foi divulgado nesta quarta-feira, 9, após 15 observadores internacionais percorrerem o país para examinar a eleição.
Segundo a missão, “os observatórios de violência política de organizações acadêmicas e da sociedade civil registraram de janeiro a outubro um total de 469 atos de violência contra políticos, o que representa aumento de 58,9% em relação ao mesmo período de 2020”.
Nas eleições de 2020, foram registrados um caso de violência política a cada 7 dias, nestas eleições foi registrado um incidente a cada 1,5 dias. “Neste processo eleitoral, 228 eventos registrados foram contra as candidaturas efetivamente registradas para o processo eleitoral. Esses eventos ocorreram em 24 das 27 unidades federativas do Brasil”, disse.
“Quanto ao tipo de eventos violentos, 12 candidatos foram assassinados durante a campanha eleitoral entre agosto e setembro, dos quais 10 eram candidatos a prefeito e 2 a vereadores”, afirmou.
Entre os atos mais comuns foram ameaças (25%) seguidas de agressões físicas (23,7%). “Além disso, os observatórios registram um aumento de atos de violência política no 3º trimestre do ano eleitoral, período que corresponde à campanha e muito próximo à realização das eleições”, aponta a OEA.
O informe aponta que “a violência política contra as mulheres é um fenômeno normalizado na política brasileira, que impede e limita sua participação e acesso aos espaços de poder”.
“A manifestação dessa violência é particularmente intensa nos processos eleitorais locais, onde a proximidade geográfica e os vínculos comunitários criam um ambiente propenso à intimidação, ao assédio e a represálias diretas”, diz o documento.
“Além disso, as dinâmicas do poder local, frequentemente dominadas por figuras patriarcais, intensificam a agressão contra as mulheres que desafiam o status quo. Essa violência é ainda mais visível e recorrente quando se trata de mulheres negras ou da comunidade LGBTQI+”, continua.
Desde fevereiro de 2022, o Ministério Público recebeu mais de 233 denúncias de violência política contra mulheres. No período, cinco condenações foram proferidas, embora os números não representem o total dos casos denunciados no país.