O horizonte não traz sinal de união do campo democrático e liberal, o que sinaliza para tempos ainda mais difíceis

Nathan Blanche*

É cada vez mais difícil sustentar a expectativa – que neste momento mais parece ilusão – de que nas próximas eleições teremos uma candidatura alternativa forte que defenda uma agenda com bases democráticas e liberalizantes. São poucos os motivos para acreditar em um governo que seja livre da demagogia populista de esquerda ou direita, a exemplo do observado em outros países da América Latina e no próprio Brasil nestas últimas duas décadas.

Não há, no atual cenário político, lideranças com disposição de propor e dar apoio às medidas de modernização das bases econômicas do País, voltadas para a alocação eficiente dos fatores de produção e que proporcionem um aumento do potencial do crescimento e a preservação do equilíbrio fiscal de longo prazo.

Se as perspectivas para gestão econômica são sombrias, há outros exemplos que sugerem que os bons princípios éticos e morais também parecem cada vez mais distantes. O poder Legislativo aprovou o projeto de “privatização” da Eletrobrás, mais voltado para atender interesses de grupos de pressão e políticos do que propriamente livrar o mercado das influências indevidas do Estado empresário.

A recente autonomia do Banco Central já é alvo de insegurança jurídica, estando sob julgamento da sua constitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). Em paralelo, assistimos movimentos consensuais entre a elite política para flexibilizar o poder de controle dos políticos, por meio da lei de improbidade administrativa. Os agentes públicos poderão ser punidos agora apenas sob “intenção” de gerar prejuízo ao erário, o que dificultará a responsabilização de um possível infrator.

Se o status quo é um quadro crítico, as alternativas estão longe de um projeto ancorado em rigor fiscal e responsabilidade com a condução da política econômica. O ex-presidente Lula (PT), potencial candidato em 2022 e com chances reais de vitória, fez defesa da revogação do teto de gastos, pilar fundamental para evitar um quadro de explosão do risco fiscal e que foi peça chave para a mudança de patamar das taxas internas de juros nos últimos anos. A mera ameaça à responsabilidade fiscal amplia o risco de um processo eleitoral turbulento para os mercados, com o pós-2022 marcado por muitas incertezas.

Infelizmente, a atual polarização no quadro político-eleitoral não abre espaço para um projeto democrático que defenda o verdadeiro liberalismo econômico. O Brasil não suporta mais populismo e liberalismo econômico de fachada. O horizonte não traz sinal de união do campo democrático e liberal, o que sinaliza para tempos ainda mais difíceis.

* Nathan Blanche é economista, empresário do mercado financeiro e sócio-fundador da Tendências Consultoria.