Brasil diminui verba de políticas anti-HIV e casos de AIDS aumentam

20 julho 2019 às 12h03

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Para Abia, aumento de 21% nas infecções tem a ver com falsa ideia do fim da AIDS e com investimentos abaixo da meta global para políticas anti-HIV

O último relatório global “Comunidades no Centro”, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/AIDS (Unaids) reporta desempenho pior do que o esperado para se atingir a meta 90-90-90. O projeto é uma iniciativa da ONU que teve início em 2015 e busca o fim da AIDS como epidemia até 2030. Entretanto, o relatório das Nações Unidas aponta que os recursos globais destinados às políticas anti-HIV somam R$ 19 bilhões, enquanto seriam necessários R$ 26 bilhões para atingir as metas parciais até 2020.
Aproximadamente 13 milhões de infectados no mundo ainda não tem acesso aos medicamentos antirretrovirais. Enquanto 54% dos novos diagnósticos ocorrem entre homossexuais, profissionais do sexo e a população privada de liberdade, este também é o grupo menos alcançado por serviços de prevenção. Segundo a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (Abia), isso se deve ao discurso de que a epidemia já foi superada.
“A falsa ideia de que a epidemia estaria a ponto de ser detida afastou os investidores seja do financiamento bilateral para o enfrentamento ao HIV, um flagrante efeito de desmobilização deste tipo de discurso”, afirma a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. A Abia lembra que, no Brasil, a situação é ainda mais grave: O país registrou aumento de 21% no número de casos de infecção por HIV em oito anos.
Para a associação, oferecer programas de prevenção da AIDS que se restrinjam à práticas clínicas de saúde serão frustrados, já que a doença está vinculada a problemas sociais. O estigma, o preconceito, a discriminação só podem ser atacados lidando com ações sociais e culturais, segundo a Abia.
“Isto, associado ao atual cenário político fortemente conservador, é extremamente preocupante. Em pouco mais de seis meses, o novo governo protagonizou o desmonte do programa de AIDS no país. No lugar de reforçar e ampliar a resposta brasileira – outrora exemplo para o mundo – o país está sendo conduzido para um retrocesso sem precedentes na história da epidemia da AIDS”, afirma a Abia.