Bolsonaro vai ganhar “presente de Papai Noel” para tentar se reeleger, diz analista Nathan Blanche

18 maio 2021 às 21h35

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Consultor de finanças diz que o presidente tem somente a si mesmo como projeto para o Brasil e alerta que o centrão tutelou o governo
Em meados de abril, Nathan Blanche previu, aqui no Jornal Opção, que o Brasil estava à beira do caos com o prazo limite da votação do Orçamento chegando e os valores ultrapassando em muito o teto de gastos.
Como o consultor financeiro faz questão de reafirmar, “o teto estava estourado e o Brasil estava exposto a chuvas e trovoadas”, em metáfora para a conjuntura que se criava para o País.

Porém, um acordo entre o Executivo e o Congresso fez com que tudo se resolvesse com o que o deputado e ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) classificou como “orçamento criativo”. Um exemplo foi a retirada, do teto de gastos deste anos, da previsão de despesas em saúde, com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e como Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que não possuem valor máximo definido, mas que devem custar no mínimo R$ 20 bilhões. Com isso, além dos vetos presidenciais que reduziram parcialmente a os gastos de emendas parlamentares, as contas começaram a fechar.
O mercado financeiro, diz Nathan Blanche, recebeu o acordo com alívio e sinalizou em seguida o capítulo final (e feliz) do longo drama orçamentário: em seguida à sanção presidencial, o real teve valorização de 1,73% em relação ao dólar. “Seria um deus-nos-acuda. E Deus acudiu”, fraseia o analista.
Mas o que Nathan chama de “presente de Papai Noel” para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve vir no fim do ano. É a possibilidade de gastar R$ 115 bilhões a mais em 2022 – o ano das eleições presidenciais – com a correção da inflação média anual calculada em cima do teto dos gastos.
A explicação é que, segundo as projeções divulgadas pelo próprio governo no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2022, o teto de gastos crescerá mais de R$ 100 bilhões – (Nathan calcula pelo menos R$ 115 bilhões), mais que a soma do reajuste no limite constitucional de despesas feito nos últimos dois anos. Isso se deve ao fato de que, conforme a regra do teto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice de inflação que referencia a correção do teto, estar projetando 7,8% para os 12 meses a serem fechados em junho.
“Deram cheque em branco para o governo”, resume Nathan. Para ele, Bolsonaro tem demonstrado ter apenas um projeto para o Brasil: “O nome desse projeto é Bolsonaro”, ironiza, comentando que “o programa de governo do Bolsonaro é imprevisível”.
Para o analista financeiro, a discussão do orçamento mostrou a força do Legislativo – leia-se “centrão” – sobre o governo federal e também a impotência do ministro da Economia. “Paulo Guedes foi levado com sua pauta liberal para ajudar a eleger Bolsonaro, mas efetivamente está de mãos atadas. Enquanto isso o mercado já precifica o poder de deputados e senadores sobre o Executivo”, relata.
Nathan Blanche, como na última entrevista ao Jornal Opção, continua alertando sobre a dívida / PIB, que já está em 89% e pode chegar a 100% antes do fim do governo em seu cenário pessimista.