Bolsonaro sugere acreditar que agora só golpe pode “derrubar” Lula da Silva
07 setembro 2022 às 15h18
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Durante o café da manhã de quarta-feira, 7, na presença de ministros, empresários e pastores evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro disse: “Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22[Forte de Copacabana], 35 [Intentona Comunista], 16 [o impeachment de Dilma Rousseff], 18 [quando foi eleito presidente] e, agora, 22. A história pode se repetir. O bem sempre venceu o mal”.
A história se repete? Às vezes, diria Karl Marx, como tragédia e, em seguida, farsa. Bolsonaro citou momentos da história do Brasil, deixando, porém, de citar os golpes de Estado de 1937 (Estado Novo) e de 1964 (quando militares que tanto admira, como Costa e Silva e Emilio Garrastazu Médici, derrubaram o governo constitucional do presidente João Goulart e instalaram uma ditadura que ficou no poder por 21 anos).
Mas por que a história se repetiria? Bolsonaro é “claro” mesmo quando parece “obscuro”. Na verdade, está conectando 2022 com 1964, insinuando que um golpe pode mantê-lo na Presidência. Noutras palavras, o presidente está dizendo, sem ser explícito, que, se Lula da Silva, do PT, for eleito, em 2 de outubro ou no segundo turno, poderá não tomar posse.
Mas hoje Bolsonaro tem condições de gestar um golpe de Estado? É possível que não. Primeiro, porque as Forças Armadas não parecem entusiasmadas. Aeronáutica, Exército e Marinha certamente não agiriam para impedir a posse de um presidente eleito pelo povo. Os militares não vão se “queimar”, manchando sua história, para “salvar” a pele de Bolsonaro. Segundo, a sociedade — a maioria, inclusive empresários, banqueiros e produtores rurais (principalmente os exportadores) — rejeita qualquer tipo de golpe de Estado.
Há de se notar, pela fala de Bolsonaro, que ele está preocupado com as pesquisas. Pois, se insinua a possibilidade de golpe — depois de alguns dias se comportando quase que como “anjo” da democracia —, é sinal que não está acreditando que tem condições de derrotar Lula da Silva, o candidato do PT. Frise-se que quem tem “medo” das urnas não pode ser qualificado de democrata.
Político atento, ao perceber que o Auxílio-Brasil e a redução do preço da gasolina não “derrubaram” Lula da Silva, Bolsonaro parece acreditar que só há uma maneira de continuar no poder: dando um golpe de Estado. Loucura? Não tem loucura envolvida na questão porque, como se sublinhou, os militares não são, no geral, golpistas. Porque sabem que um golpe, com a consequente ditadura, colabora para “manchar” sua imagem de maneira indelével.