Benefícios sociais e horários rígidos afastam candidatos do mercado formal, diz FCDL e Fecomércio
03 novembro 2025 às 17h12

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O comércio local de Goiânia, assim como em várias partes do Brasil, enfrenta um desafio crescente: a dificuldade em contratar trabalhadores para vagas formais. Segundo Christian Pereira, vice-presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), a falta de mão de obra atinge praticamente todas as funções do setor, desde balconistas e vendedores até serviços gerais.
“É um problema geral, não é só de Goiânia, não é só de Goiás, é um problema no Brasil todo. Hoje, estimamos em torno de 5 mil vagas abertas aqui no estado, e o mais curioso é que essas vagas estão sobrando praticamente em todas as funções”, afirmou Pereira.
O vice-presidente aponta que parte do problema está ligada ao novo perfil do trabalhador, especialmente entre os mais jovens, que buscam trabalhos mais flexíveis ou remotos, ao contrário das exigências do comércio, que requer presença física.
“As pessoas não querem mais esse trabalho formal, de ter que cumprir horário dentro das empresas. Estão procurando trabalhos mais flexíveis”, explicou. Outro fator, segundo Pereira, são os programas sociais do governo.
Muitos trabalhadores têm receio de perder benefícios ao aceitar um emprego formal, o que contribui para a escassez de candidatos. “Existe também um medo de perder os benefícios que o governo dá. Então, muitas vezes, a pessoa evita trabalhar de forma regular por conta disso”, disse.
Ele ressalta que a dificuldade não se limita a setores específicos. “Hoje, são todas as vagas de emprego formal que estão com dificuldade de contratar pessoas: balconista, vendedor, estoquista, empacotador, operador de caixa, auxiliar de serviços gerais. Nas cidades de médio porte, o problema é ainda maior, porque o número de candidatos é menor”, destacou.
Para estimular a empregabilidade e atrair trabalhadores de volta ao comércio formal, Pereira defende uma mudança na forma como os benefícios sociais são concedidos.
“É preciso fazer uma transição. Hoje, a pessoa consegue um emprego e imediatamente perde os benefícios. A Confederação Nacional do Comércio defende uma saída gradual do Bolsa Família, ou seja, que o beneficiário possa continuar recebendo o apoio por um tempo até se firmar no emprego. Isso ajudaria a reinserir muita gente no mercado”, explicou.
Além disso, ele reforça que não se trata apenas de salário ou qualificação, mas de uma mudança no comportamento e na disposição para entrar no mercado formal. “O problema é realmente uma mudança no comportamento das pessoas e na disposição de entrar para o mercado de trabalho formal”, concluiu.
Fecomércio
Em entrevista ao Jornal Opção, o presidente da Fecomércio-GO Marcelo Baiocchi destacou que empresas goianas têm enfrentado dificuldades para contratar mão de obra, especialmente quando os salários oferecidos se aproximam do valor de benefícios assistenciais, como o Bolsa Família.
“Em Goiás, também temos tido dificuldade em contratação de mão de obra. Só o setor de bares e restaurantes tem mais de 500 vagas e enfrenta dificuldade em conseguir pessoas para trabalharem nos cargos, em especial com qualificação, o que dificulta ainda mais”, afirmou Baiocchi. Segundo ele, o fenômeno não é exclusivo do Estado.
“O presidente José Roberto Tadros fez um comentário, durante um evento na Bahia, a respeito dos programas assistenciais que têm dificultado conseguir mão de obra, e com certeza o presidente está certo. As empresas têm enfrentado dificuldade em contratação de mão de obra, principalmente quando o salário é muito próximo da assistência social do Bolsa Família. A CNC está atenta a essa situação, que é uma reclamação não da Bahia, não do estado de Goiás, mas de todas as federações do comércio em todos os estados do Brasil”, explicou.
Baiocchi apontou que os dados oficiais sobre desemprego podem não refletir a realidade do mercado. “Ao contrário do que se afirma, que estamos com menor índice de desemprego no histórico da pesquisa, há de salientar que, por uma manobra estratégica, excluiu-se da pesquisa aqueles que estão dentro das bolsas de assistência social, como o Bolsa Família, e também aqueles que deixaram de procurar emprego. Então é muito fácil ter esse dado como se fosse positivo”, disse.
O presidente da Fecomércio reforçou que a federação não é contra a assistência social. “Temos que salientar que nós não somos contra nenhum tipo de assistência social, muito pelo contrário. Nós, da Federação do Comércio, fazemos muita assistência social. Somos grandes arrecadadores e distribuidores de alimento através do Mesa Brasil no estado, além de ofertarmos quase 70% das nossas atividades gratuitamente dentro do SESC e do SENAC. Então somos totalmente favoráveis à assistência”, explicou.
No entanto, ele alertou para a necessidade de políticas que incentivem a reinserção no mercado de trabalho. “Não há porta de saída, não há uma forma do cidadão que está recebendo uma assistência social procurar emprego e ser motivado a isso. Infelizmente, não há uma política pública de incentivo para que as pessoas saiam da dependência do assistencialismo”, disse. Baiocchi contou que a Fecomércio apresentou recentemente propostas ao governo federal para enfrentar a questão.
“Recebemos o ministro do Trabalho e Emprego e discutimos este assunto. Entregamos para ele uma sugestão de porta de saída para assistência social: sugerimos que quem procurar emprego e for registrado não perca o Bolsa Família, mas que ele seja complemento de renda. À medida que o trabalhador se firmar no emprego, esse Bolsa Família poderia ir diminuindo, sem que haja diminuição na renda familiar. É o que defendemos para que essas pessoas que hoje estão no Bolsa Família voltem para o mercado de trabalho”, concluiu.
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